O bairro de todos os santistas
Um dos bairros mais charmosos e movimentados de Santos, o Gonzaga completa neste domingo (21) 126 anos. Misto de núcleo residencial e comercial, o Gonzaga é frequentado por moradores de todos os bairros da cidade, que vão para lá às compras ou em busca de lazer e serviços. E até para comemorar ou protestar nas manifestações que já se tornaram tradição em torno da Praça da Independência, o coração do Gonzaga.
Quase uma cidade dentro de outra, o bairro conta com três shoppings, cinemas, galerias, restaurantes com gastronomia internacional, lanchonetes, bancos, supermercados, hotéis, escolas, clubes, lojas de departamento, diversificado comércio de rua, hospital, delegacia de polícia e uma ampla rede de serviços.
Desde a inauguração da linha de bonde, no final do século 19, o Gonzaga caracterizou-se como ponto de convergência da população e ali a hotelaria desenvolveu-se. E o bairro vive se reinventando, o que explica tantas décadas na preferência dos santistas e turistas.
O bairro das galerias
Antes dos shoppings, as galerias eram o que havia de mais moderno no seleto comércio do Gonzaga e até hoje permanecem como boa opção para compras, com lojas de produtos e serviços diversificados. O bairro abriga sete desses corredores, que criaram passagens insuspeitadas de uma rua a outra e contribuíram na transformação do Gonzaga em polo comercial e turístico.
A novidade chegou a Santos na década de 60 do século passado. Nessa época, o centro de Santos era o grande polo comercial da cidade, mas a partir da criação das galerias e com a expansão comercial em suas imediações, o Gonzaga passou a duelar com a região central como centro de compras.
Esses conjuntos de lojas resistiram às novidades do tempo e às crises econômicas, tornando-se fortes aliados para a manutenção do vigor comercial e turístico do bairro. Nas galerias, encontra-se quase de tudo, como lojas de informática, casas de estética e beleza, armarinhos, livrarias, lanchonetes, lojas de roupas, sapatos e muito mais.
Precursoras dos shoppings
Leandro Amaral
A primeira galeria de Santos foi a Ipiranga, inaugurada em 1964 no térreo de três edifícios geminados: D. Pedro I, D. Pedro II e Jose Bonifácio. Na ausência de shopping (o Parque Balneário, o primeiro do bairro, foi inaugurado na década de 70), logo a galeria virou o point do Gonzaga. Na época era como um mini shopping, com lojas descoladas.
O sucesso foi tanto que logo surgiram outras. Hoje, são cinco em torno ou próximas da Praça Independência: Ipiranga, Queiroz Ferreira (1976), Campos Elíseos (lançada em 1965), 5ª Avenida (1972) e Brasil (da Rua Floriano Peixoto à Rua Marechal Deodoro, inaugurada por volta de 70), além da A.D. Moreira (1969), que liga a Rua Floriano Peixoto à Avenida Presidente Wilson, na praia. E há até o que parece, mas não é, como o caso do Centro Comerial Gonzaga (Avenida Floriano Peixoto) e da Nova Azevedo Sodré, que liga a Avenida Ana Costa com a Rua Bahia.
Galeria subterrânea
Nada a ver com os corredores comerciais, mas o Gonzaga tem até uma galeria subterrânea, descoberta há dois anos durante as obras no subsolo do trecho final da Avenida Ana Costa. Com 18 metros de largura e formada por arcos e pilares de tijolos, parcialmente sustentados por vigas metálicas, a nova galeria entrou no rol das atrações turísticas de Santos. Supõe-se que tenha servido, há cerca de 120 anos, para canalizar dois rios, oriundos dos morros e do porto. A época coincide com o início da expansão do transporte coletivo por bondes até a praia.
Cinelândia Santista
O Gonzaga sempre foi referência quando o assunto é cinema. Tanto que, em outros tempos, ostentou o carinhoso apelido de “Cinelândia Santista”, abrigando as mais modernas e luxuosas salas de exibição, as melhores bilheterias e os principais filmes em lançamento. Foi a fase dourada dos espetáculos cinematográficos na cidade, que já teve o maior número de salas por habitante do país, testemunho do gosto especial de sua população pelas telonas. Era o passeio da família, dos namorados, dos amigos, um motivo para sair de casa e até um lugar para adquirir cultura, com uma qualidade de imagem e um deslumbramento que não tinham rivais.
O gosto da cidade pela “sétima arte”
Site Novo Milênio
A Empresa Santista de Cinemas foi umas das grandes propulsoras da sétima arte na cidade. A primeira sala de cinema construída por ela foi o Cine Teatro Cassino, que funcionava dentro do Atlântico Hotel. Para a época, era um cinema moderno e arrojado, com teto móvel que permanecia aberto nas noites estreladas de calor. A Avenida Ana Costa concentrava o maior número de salas, entre elas o Cine Roxy, que estreou em 1934.
Entre as décadas de 40 e 50 surgiram novos cinemas no Gonzaga, dotados de equipamentos modernos de projeção, ar-condicionado, telas panorâmicas e som estereofônico, como o Cine Atlântico, na Praça da Independência, o Cine Praia Palace, Cine Indaiá e o Cine Iporanga. E ainda o Teatro Independência, que funcionava mais como cinema do que como teatro, e o Cine Gonzaga, nas dependências do Cassino Atlântico (que havia encerrado as atividades em 1954). A partir década de 70, o Gonzaga passou a abrigar o Cine Alhambra, instalado no antigo auditório da Rádio Clube de Santos.
O renascimento da telona
A popularização da televisão na década de 70 deu o pontapé inicial na crise cinematográfica que, tempos depois, se agravou diante de rivais poderosos como tevê de alta definição, DVD, videogame, internet. Salas tradicionais foram fechadas, cedendo lugar a supermercados, lojas e até igrejas.
A reinvenção da Cinelândia Santista foi possível graças à fragmentação das gigantescas salas de exibição, que muitas vezes ficavam ociosas, em espaços menores, possibilitando a oferta de mais filmes para públicos mais restritos. Hoje, o Roxy, com seus cinemas de rua e no Shopping Pátio Iporanga, segue como o principal cinema do bairro, que também abriga o Cinespaço Miramar (Shopping Miramar) e o Cine Arte Posto 4, na orla da praia.