Em outubro de 2005, RENATO JANINE, que recentemente tomou posse como MINISTRO DA EDUCAÇÃO do país, falou à coluna a respeito de suas percepções sobre educação. Na época da entrevista, republicada nesta edição, até pela sua atualidade, ele era, “apenas” um dos intelectuais mais conceituados do Brasil e, além disso, diretor de avaliação do CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação, que continua em plena ativa, por isso a entrevista é mais voltada para a área de especialização, que ainda gera tanto interesse. O fato é que, desde sempre, o atual ministro se destacou pelo seu conhecimento e cultura. Os seus conceitos foram referidos em cursos, palestras, artigos e livros, entre eles “O Afeto Autoritário”, evidenciando a lucidez de seu posicionamento direto e preciso sobre os fatos e, sobretudo, mostrando o grande ser humano por trás das letras.
O que representa, para você, ser um dos intelectuais mais conceituados da atualidade?
Bondade sua! Apenas posso dizer que gosto de pensar e de dizer o que penso. Também acho que vivemos certos automatismos de pensamento, com pessoas que dizem sempre o que é esperado delas. Um é especialista em indignação, outro em caridade; as pessoas deveriam ser mais inesperadas no que dizem.
A inteligência de um homem é cultivo diário ou é fruto da própria genética?
Quem é de humanas acredita que a cultura seja cultivo. Quem é de biológicas tende a dar mais importância à genética. Há os dois elementos, mas não se sabe qual a dosagem. De todo o modo, o que não é usado se atrofia.
Como você é na intimidade?
Gosto de estar com o meu filho e com a minha mulher, mas sou fanático pelo meu trabalho e, às vezes, eles reclamam disso, com razão.
Como qualifica a pós-graduação no Brasil?
Graças à CAPES, isto é, às lideranças da comunidade acadêmica, conseguimos ter uma graduação bastante boa. Se o sistema de avaliação rigorosa se aplicar à graduação e ao ensino médio, estes também deverão melhorar.
Quais os maiores desafios a serem ultrapassados na pós-graduação?
Fazer os programas mais desenvolvidos colaborarem com os menos, atender às propostas interdisciplinares, conseguir avaliar bem os cursos de humanas.
Qual a sua análise sobre o papel da imprensa no Brasil?
Contribuiu para a democratização e para a crítica aos governos. Mas, às vezes, alguns jornalistas pensam que ser pago por uma empresa é mais nobre do que trabalhar para um governo eleito. E alguns confundem liberdade de imprensa com liberdade de empresa. Nada, nem mesmo a imprensa, está acima do bem e do mal.
Esta semana, sobre ser o atual ministro da Educação, respondeu em recente entrevista:
Quais as suas expectativas para o cargo de Ministro da Educação?
Estou muito satisfeito com a confiança depositada em mim pela presidente Dilma (Roussef) para dirigir o ministério da Educação. Nós estamos com uma rota desenhada, que é o Plano Nacional de Educação, que pega do começo até o fim da educação.
E o que pretende fazer?
Educação pode sempre ser melhor, pode sempre avançar. E ela é algo que liberta as pessoas. Liberta da miséria, porque, digamos, é uma realidade. Liberta do preconceito, do qual são vítimas dezenas, talvez até mais de cem milhões de brasileiros, de preconceito de cor, preconceito de gênero, preconceito de orientação sexual.
O que pode nos dizer a respeito do Plano Nacional de Educação?
Esse Plano não é exatamente um grande desafio. Ele é o porteiro do que a sociedade brasileira, depois de uma longa discussão, elegeu priorizar para os próximos dez anos. Ele quantifica, e há metas que são, sem dúvida, ambiciosas, há metas que talvez possam ser ultrapassadas em menos tempo. Mas tudo isso vai depender do andamento do Plano. A lei foi sancionada há menos de um ano. Então, já está sendo aplicada pelo MEC. Mas cada ano vai definir melhor o que a gente tem que fazer.
JOGO RÁPIDO
Signo: Sagitário
Política atual: crise é momento propício à crítica, temos que aproveitar a atual crise para pensar muito sobre a política.
Ídolo: nenhum.
Liberdade é: fazer o que deseja sem ferir ou prejudicar o outro.
Sonho: paz.
Ser feliz é…: conseguir equilibrar entusiasmo e lucidez
Decepção: não ter conseguido ser lúcido em momentos em que precisei disso.
Lazer: ler
Ética é…: reciprocidade
Estilo de música: clássica
Frase: brinco que seria “viva e deixe viver”, mas digo isso justamente porque sou muito ansioso e perfeccionista, mas seria um belo modo.