Clara Monforte

Olhos nos Olhos com João Marcelo Bôscoli

13/03/2015
Olhos nos Olhos com João Marcelo Bôscoli | Jornal da Orla
Nesta terça-feira, dia 17, a cantora ELIS REGINA, também conhecida como “a Pimentinha”, completaria 70 anos de vida e 50 de carreira. Para homenageá-la, morta há 33 anos e considerada até hoje “a maior cantora do Brasil”, será lançado o site oficial www.elisregina.com.br. Nele, estará disponível todo o conteúdo da exposição “Viva Elis”, que aconteceu em 2013 em algumas cidades brasileiras… e muitos outros materiais inéditos. Há mais de 500 fotos, vídeos desconhecidos do público, áudios exclusivos e ainda o download gratuito do livro “Viva Elis”, uma biografia artística focada na carreira de Elis Regina e escrita por Allen Guimarães. Mais que a comemoração de aniversário de duas datas importantes para o Brasil, é um movimento de gratidão aos fãs, que a mantém tão presente. Nesta entrevista, o produtor musical JOÃO MARCELO BÔSCOLI, filho do primeiro casamento dela com o músico Ronaldo Bôscoli, fala sobre a homenagem a esta imortal da Música Popular Brasileira.
 
Por que Elis Regina continua sendo influência entre os cantores?
Existe um conjunto de influências que vão desde a escala vocal ao jeito de cantar brasileiro. Elis virou um patrimônio do país, até pelo número de compositores que ela lançou. Foi a primeira a gravar (Gilberto) Gil, Fagner, Milton Nascimento, Renato Teixeira, Tim Maia e Edu Lobo. Até pela obra em si, as canções nas rádios…. “Como Nossos Pais” ainda é a mais escolhida para as audições de novos cantores.
 
A que você credita essa escolha?
“Como Nossos Pais” tem um texto contemporâneo, o vigor das gerações. Além disso, é uma canção muito interpretativa, para cantar é necessário se esforçar ao máximo. Não é uma simples de ser realizada, é preciso dominá-la.
 
Como você acredita que Elis estaria hoje, se estivesse viva?
Ela era uma pessoa imprevisível, é difícil de dizer. O que sei é que ela tinha uma dedicação total ao ofício de cantar, era uma mulher preocupada com o seu tempo, o seu entorno e, além disso, alguém que sempre tirou energia daquele combustível emocional que carregava. No mais, tudo seria um grande exercício de especulação, um chute.
 
E, dentro desse exercício de especulação, hoje ela seria uma mulher preocupada com o cenário político?
Isso todos estamos. E ela já era uma pessoa disposta a alterar o cenário na época em que vivia e pagou um preço alto por isso. Falo em um campo de especulação, claro, mas acredito que ela estaria interessada. Talvez já estivesse cansada e deixaria os jovens fazerem a sua parte, ou estivesse liderando alguma coisa. Ela seria tudo, menos alheia ao que está acontecendo. 
 
É possível dizer que Elis Regina  “continua viva”?
Ela é um caso atípico, porque o Brasil não lida muito bem com memória. Ainda mais no meio artístico. Curiosamente, o interesse por ela é diferente do habitual. Pode ser pelo lançamento de CDs, DVDs, um longa-metragem, o espetáculo musical, especiais de televisão… São várias comemorações que acontecem em vários cantos, então ela sempre está na memória das pessoas. Casos assim acontecem com poucas cantoras, como Elizeth Cardoso, Silvia Telles e Carmen Miranda.
 
Conte algumas lembranças que tem dela?
Convivi com ela até 11 anos e meio e lembro de coisas simples, como ser levado para a escola, ela fazendo encadernações… São lembranças que qualquer um tem, de momentos mágicos com as pessoas que se ama. O recorte que mais me toca é esse lado humano, embora tivesse um estúdio dentro de casa.
               
Como era Elis na intimidade?
Ela era uma mulher muito presente nos afazeres domésticos, e que conseguia energia nesse cotidiano para fazer outras coisas, como pesquisar repertório. Ela, no meio artístico, era artista. Na própria vida, era uma mulher tocando a vida como qualquer outra, com a diferença que também vivia o mundo da música. Ela costumava dizer quer ser mulher era mais fácil que ser homem no meio artístico, por não ter de lidar com o assédio das fãs mulheres. Quando a conheciam, claro, as pessoas se surpreendiam com a desenvoltura e pela falta de pose de superstar. 
 
Por ser filho de Elis e Ronaldo Bôscoli, sofreu alguma cobrança?
Nunca tive cobrança. Como perdi minha mãe com 11 anos, as pessoas sempre foram muito carinhosas e generosas comigo. Recebi muito afeto, compaixão e jamais senti uma gota de hostilidade em relação a mim.
 
Qual a sua reação quando a sua irmã, Maria Rita, começou a cantar profissionalmente?
Eu fiquei feliz, porque sempre soube que tanto a Maria Rita quanto o Pedro Mariano (filhos do segundo casamento de Elis, com César Camargo Mariano), eram muito afinados desde os dois, três anos de idade. E ela começou fazendo comunicação, trabalhou no grupo Abril (foi estagiária na revista “Capricho). O fato de ela ter ido aos Estados Unidos, com certeza, mudou a sua história. Imagine uma menina que passou a vida inteira ouvindo: “você vai ter que cantar” ser aprovada por pessoas que até lembravam do timbre da mãe, mas não sabiam do parentesco.  A comparação e a obrigação de cantar poderiam ter se tornado uma barreira para ela, ou fazer com que ela considerasse isso apenas uma brincadeira, mas ela transformou em uma coisa boa e vem sendo feliz em uma carreira, em um segmento que não é fácil.
 
O que os fãs podem esperar do site que será lançado?
Será um espaço para congregar as informações, temos materiais inéditos que iremos publicar aos poucos. Terá todos os discos, o livro sobre a carreira dela e até um passeio virtual. Mas não vai interferir em nada com o espaço que os fãs já colocaram na rede, os blogs, as outras páginas na internet. Nosso objetivo é agregar.