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O ser mulher

06/03/2015
O ser mulher | Jornal da Orla
A “queima dos sutiãs” ocorrida nos Estados Unidos, em 1968, tornou-se símbolo da liberdade feminina, mas o episódio foi apenas um na longa e antiga luta das mulheres contra a opressão e pelo respeito aos seus direitos. De lá para cá, o mundo se transformou como em nenhum outro período da história da civilização e a vida das mulheres também. Hoje, só para ficar em exemplos domésticos, temos uma mulher no comando do país e outras dirigindo estados, cidades, integrando a Câmara Federal e o Senado, comandando grandes empresas. 
 
Ainda assim, são exemplos isolados no universo feminino de milhões de cidadãs, até porque – embora existam as leis – nossa sociedade ainda não atingiu o patamar da igualdade de condições entre homens e mulheres. O que, entretanto, não justifica os discursos enraizados em crenças que massificam homens e mulheres em grupos supostamente homogêneos simplesmente por pertencer a este ou aquele gênero. 
 
As mulheres não são iguais, embora se identifiquem em características emocionais e físicas, inerentes à alma, à natureza e ao corpo feminino. Assim como os homens. Supor que uma mulher ou um homem agiria da mesma forma que outro por pertencer apenas e tão somente ao mesmo gênero é ignorar as personalidades, vivências, opiniões e particularidades que tornam cada ser humano único no universo. 
 
Desafios novos e antigos
 
“O estabelecimento de igualdade de direitos entre homens e mulheres está diretamente relacionado com o desenvolvimento das sociedades”, comenta Bibianna Teodori, master coach e idealizadora da Positive Transformation Coaching master. Ela lembra que a mulher de hoje, ao conquistar mais espaço no mercado, tem muitas outras preocupações e tarefas além das já conhecidas responsabilidades de mãe, profissional, esposa e dona de casa. 
 
“Ao mesmo tempo em que ganhou o mundo, a mulher precisa encarar desafios incompatíveis em pleno século XXI. Os principais ainda são a equiparação salarial, o maior respeito e a busca por oportunidades em cargos de alto escalão”, diz Bibianna. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 13% das mais de 8 milhões de empresas existentes no país têm profissionais do sexo feminino ocupando funções na direção.
 
“Romper com a divisão sexual do trabalho sempre foi uma luta do movimento feminista. Porém, num cenário de crise capitalista como o atual, colocar este tema no centro do debate é estratégico para combater as desigualdades”, argumenta. Segundo ela, defender a igualdade é tão importante como combater a violência doméstica ou capacitar populações de baixa renda. “A responsabilidade pela mudança deve ser assumida por quem está perseguindo seus objetivos”, desafia a master coach. 
 
De acordo com Bibianna, na vida dificilmente as pessoas conseguem obter o que querem porque se deixam levar por acontecimentos e se tornam prisioneiras do tempo e das reivindicações dos outros. “Nunca dão o primeiro passo para decidir o que realmente querem, seja com relação ao tempo, ao trabalho, às relações e, sobretudo, a si”. 

…e foi preciso ir às ruas queimar sutiãs
 
Sempre houve mulheres ousadas e valentes que saíram em defesa dos direitos femininos, muitas vezes pagando com a própria vida. Porém, o movimento feminino se fortaleceu no contexto da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando o deslocamento dos homens para o campo de batalha obrigou a inserção da mulher no mercado de trabalho, a fim de substituí-los.
 
Em 7 de setembro de 1968, em Atlantic City, nos Estados Unidos, a luta pela liberdade feminina ficou marcada pelo episódio conhecido com Bra-Burning, ou, em português, “a queima dos sutiãs”. Foi um protesto com cerca de 400 ativistas do WLM (Women’s Liberation Movement) durante a realização do concurso de Miss America.  
 
O objetivo foi protestar contra a exploração comercial da mulher e as ativistas colocaram no chão sutiãs, sapatos de salto alto, cílios postiços, sprays de laquê, maquiagens, revistas, espartilhos, cintas e outros objetos que simbolizavam a beleza feminina. Embora a ‘queima’ propriamente dita nunca tenha ocorrido, a atitude das manifestantes foi incendiária e abriu o caminho de conquistas que não têm portas para fechar.