Em pleno Dia Internacional da Mulher, comemorado neste domingo, 8 de março, uma representante da classe, batalhadora e forte, e que tem a cara do Brasil! Sempre lembrada pelos papéis marcantes que interpretou em novelas de sucesso como “Guerra dos Sexos” e “Cambalacho”, ela afirma que todas as personagens que fez foram “mulheres do povo” .
Apresentadora do programa “Esquenta”, na Rede Globo, REGINA CASÉ retorna aos filmes nacionais com “Made In China”, dirigido por Estevão Ciavatta, marido dela. A volta era esperada, pois ela fez uma bonita trajetória no cinema, com os premiados, como “Eu, Tu, Eles” e “Chuvas de Verão”.
A partir de que momento você decidiu trilhar pelo caminho do universo popular?
Nem me lembro de quando foi, mas não foi intencional. Não resolvi ir por este caminho. Qualquer personagem que eu fiz até hoje sempre foi uma mulher do povo, acho que muito pela minha cara, meu físico, minha linguagem, pelas pessoas com as quais convivo.
Isso desde pequena?
Lembro de que eu era muito menina e passava o fim de semana na casa da empregada, que morava na Favela da Catacumba – hoje em dia nem existe mais. Ia para casa da Marinete e do marido dela, o Manoel, porque achava diferente.
Qual o motivo disto?
Sempre tive uma paixão pelo ambiente diferente, por conhecer outras coisas. Isso sempre foi uma coisa que me animou e não que me afastou.
O improviso e a espontaneidade são características marcantes do seu trabalho. Foi possível exercitá-las no filme?
Um pouquinho, mas porque tive acesso antes ao roteiro. Quando a gente ia lendo eu já dizia assim: “Deixa eu mudar o jeito que ela fala aqui, deixa eu mudar esse diálogo”.
É possível fazer isso sempre?
Quando não é o roteiro de alguém com quem você não tem tanta intimidade, é mais fácil dizer: “Vou falar assim, tudo bem?”. O improviso foi mais na hora da leitura, não no set.
O que você achou da Saara cenográfica criado especialmente para o filme?
Fiquei fascinada com o trabalho da equipe de arte. Se eu abria a caixa registradora, tinha dinheiro. Todas as prateleiras tinham produtos com preços, tudo muito real. Foi um trabalho incrível da cenografia e da arte, que reproduziu tudo, em altíssimo nível.
Como foi o processo de composição de sua nova personagem?
Para interpretar a Francis, fiz um laboratório de mais ou menos uns 50 anos, porque desde criança eu ia à Saara com uma tia que eu adorava, que morava em Santa Teresa.
Que lembranças você tem desta época?
A gente descia de bonde e eu ia com minha tia comprar as coisas. Ela gostava muito de coisas espalhafatosas, dourada e prateada. Sempre fui apaixonada pela Saara, é um lugar da cidade que gosto tanto quanto a praia, tenho uma certa dependência da Saara.
E isso cresceu com você?
Depois, já “maiorzinha”, eu fazia umas bolsas que vendia no colégio e faculdade, bordadas de paetê, então ia lá comprar o material. Quando eu e o Estevão nos casamos, virou meio um lugar da gente…
A longa parceria com o Estevão e também com o Xande de Pilares, que integra o programa “Esquenta!”, facilitou na hora de entrar em cena?
Trabalho há quatro anos com Xande, então acho que o filme meio que coroou isso.
Como surgiu a ideia de coroar o Xande, que não é ator, para o filme?
A participação dele aconteceu de maneira espontânea. A gente estava procurando um ator que tivesse aquele perfil, e que fosse a cara da Saara. Aquele cara que fica na porta chamando os clientes, que fosse o clássico “malandro carioca”. Como o Xande não é ator, nunca passou pela nossa cabeça convidá-lo. Até que um dia o Guel Arraes falou: “Vocês já procuraram tantos atores, por que não fazem um teste com o Xande? Ele bate um bolão no programa”. Então o chamamos para fazer um teste e, num segundo, estávamos às gargalhadas.
Como foi o convívio e a troca com os atores chineses?
Isso também foi bem louco, porque os chineses que trabalham no filme não são atores. As meninas foram fazer um teste pela faixa etária, a mãe ficou só acompanhando e o Estevão a convidou para o filme.
E os bastidores das filmagens?
A gente se divertiu muito. Era tudo muito verdadeiro, improvisado e espontâneo, porque eles não são atores. A Francis tem um figurino bem característico e que define muito sua identidade.
A figurinista foi a Claudia Kopke, do “Esquenta!”. Como foi isso?
Ela tem uma medida muito legal, porque não vai a uma loja e escolhe uma roupa de uma vendedora da Saara. Ela manda fazer a roupa, procura um tecido, tem mesmo um trabalho de figurino. É uma fantasia, um traje especial, não uma roupa que tem em qualquer lugar.
Você deu sugestões?
Sempre dou palpite, adoro aquele universo, às vezes eu saía para ir almoçar na Saara e falava: “Olha Claudia, comprei esses brincos e esses anéis que achei a cara da Francis”. Aí acaba incorporando tudo.