O Jazz perdeu no dia 21 de fevereiro, um dos seus maiores nomes: Clark Terry. Ele nos deixou com 94 anos, e pode ser considerado uma verdadeira lenda pela sua forma de tocar trompete e flugelhorn. E também seu estilo nos improvisos vocais, bem característicos e muito divertidos, ficarão marcados para sempre.
Foi um dos artistas que mais gravaram com os maiores nomes do gênero, chegando perto de mil gravações, em setenta anos de carreira. Na sua lista de parcerias, estão participações memoráveis ao lado de Oscar Peterson, Dizzy Gillespie, Dinah Washington, Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Stan Getz, Ray Charles, Billy Strayhorn, Thelonious Monk, Charles Mingus, entre outros nomes importantes. Colaborou com Louis Armstrong e foi um grande mentor do genial Miles Davis, Quincy Jones e Wynton Marsalis.
Nasceu no ano de 1920 em Saint Louis, no Missouri, e começou a tocar profissionalmente no início da década de 40, em diversos “night clubs”, chamando logo a atenção pelo seu estilo arrojado e marcante de tocar. Na época da 2ª Guerra Mundial, se apresentava pela banda da Marinha Americana.
Teve a honra de participar também, como um dos principais solistas, de duas das maiores orquestras do Jazz, que foram as de Count Basie e Duke Ellington.
Lembro-me com carinho da sua participação especial no CD do guitarrista e cantor americano John Pizzarelli, “My Blue Heaven”, lançado pelo selo de Nova Iorque, Chesky Records em 1990. Além de Pizzarelli e Terry, merece destaque a importante presença de Bucky Pizzarelli na guitarra, Dave McKenna no piano, Milt Hinton no contrabaixo e Connie Kay na bateria. Seus solos em diversos temas foram um grande diferencial para este trabalho que contém 16 faixas.
Outra participação muito especial dele, ao lado de John Pizzarelli, foi no CD “Naturally” do ano de 1993, lançado pelo selo RCA Novus, com o belíssimo solo em “I’m Confessin'”, que contou com a participação da Don Sebesky New York All Star Band, composta por 16 figuras, além do trio formado por Pizzarelli, na guitarra, seu talentoso irmão Martin Pizzarelli no contrabaixo e Ray Kennedy no piano.
No ano de 2010, merecidamente, depois de 3 indicações anteriores, recebeu o prêmio Grammy, pelo conjunto da sua obra, que foi adicionado aos seus mais de 250 prêmios recebidos em vida, além do título de Embaixador do Jazz para o Oriente Médio e a África, dado a ele pela National Endowment For The Arts, uma agência federal americana independente de financiamento cultural.
No ano de 2011, publicou sua autobiografia, intitulada “Clark”, ainda sem tradução aqui no Brasil e que contou com a ajuda da sua esposa Gwen Terry.
Outro ponto importantíssimo da sua vida foi o seu grande dom para ensinar para os mais jovens. Transmitia seu conhecimento para os outros, como poucos. Que o digam Miles Davis e Quincy Jones, seus discípulos confessos.
Para Clark Terry, para aprender a tocar Jazz, são necessárias três coisas: imitação, assimilação e inovação.
E assim ele fez por muitos anos, estimulando vários músicos a entender o que ele pregava. Pedia para seus alunos que ouvissem com atenção seus grandes ídolos, procurando entendê-los, analisando-os e praticando, para depois usar tudo isso de maneira nova e inovadora em suas improvisações.
Milhares de shows, gravações, aulas, master classes, programas de TV com a “Tonight Show Band”, inúmeras “jam sessions”, resumem a obra musical de do genial Clark Terry, que agora comanda no céu uma super Big Band, composta por vários anjos.
A COLUNA DESTA SEMANA É DEDICADA AO QUERIDO AMIGO FREDERICO MARCONDES, QUE RECENTEMENTE TAMBÉM NOS DEIXOU.
“Iluminados – Leny Andrade Canta Ivan Lins & Vitor Martins”
A ideia da gravação deste CD independente lançado em 2014, com 11 faixas, partiu de um pedido especial do homenageado Ivan Lins, feito diretamente à incrível cantora Leny Andrade, sua amiga de mais de 30 anos e que serviu para marcar as comemorações dos 40 anos da parceria com Vitor Martins.
Ganhei este raro exemplar (somente vendido nos shows da cantora) do meu caro amigo Carlos Alberto Afonso, dono da Toca do Vinicius no Rio de Janeiro, no dia do meu aniversário em 18 de fevereiro e que me foi entregue gentilmente pela querida amiga Gisele Dias, que havia chegado recentemente da Cidade Maravilhosa.
Leny Andrade é uma das minhas cantoras preferidas e seu talento vai muito além do rótulo de ser considerada como a melhor cantora de Jazz do Brasil. Ela é muito mais do que isso, pois transita também com absoluta intimidade e competência pela Bossa Nova, pelo Samba e pela MPB. Uma cantora absurdamente completa.
O seu grande diferencial, na minha opinião, é a intensidade da sua interpretação, que pode ser sentida em todas as suas gravações e apresentações ao vivo, com destaque para os seus marcantes improvisos, sempre em “scat singing”, que, aí sim, lhe aproximam muito do Jazz. Emoção e técnica reunidas de forma harmônica.
Está em atividade desde a década de 60, se apresentando regularmente por aqui e principalmente no exterior, onde é absolutamente venerada e aplaudida por onde passa. No Brasil, no meu entender, infelizmente não tem seu merecido reconhecimento.
Para este trabalho, foi muito bem acompanhada por Fernando Merlino no piano e arranjos, Leonardo Amuedo na guitarra, Bororó e Jamil Joanes no contrabaixo, Théo Lima e Erivelton Silva na bateria, Sidinho Moreira na percussão e João Samuel na produção.
Não deixe de ouvir “Antes Que Seja Tarde”, “Velas Içadas”, “Guarde Nos Olhos”, “Daquilo Que Eu Sei”, “Abre Alas”, “Mãos de Afeto” e a minha preferida “Cantor da Noite”.
E, como dica, não deixe de ler também o livro “Leny Andrade – Alma Mia”, escrito por Regina Ribas, lançado pela Editora Imprensa Oficial, com 124 páginas ricamente ilustradas pelas histórias de sua vida, além de fotos incríveis.
“Orquestra Atlântica”
Uma genuína “Big Band” brasileira, com 11 integrantes, está reunida desde 2012 no Rio de Janeiro, liderada pelo trompetista Jessé Sadoc e pelos saxofonistas Marcelo Martins e Danilo Sinna.
Como característica sonora, unem, com muita criatividade e talento, a linguagem jazzística com a música brasileira, numa levada absolutamente estimulante e bastante acessível aos nossos ouvidos.
Acabaram de lançar um belíssimo CD independente, que merece toda a atenção e considero como um dos trabalhos mais surpreendentes que ouvi nos últimos tempos.
Além de Jessé, Marcelo e Danilo, que também assinam a produção do disco, a orquestra conta com Gesiel Nascimento no trompete, Aldivas Ayres e Wanderson Cunha nos trombones, Elias “Kibe” Borges e Sérgio Galvão nas madeiras, Glauton Campello no piano, Jorge Helder no contrabaixo, Williams Mello na bateria e Dadá Costa na percussão.
Para este primeiro registro de estúdio, contaram com as participações especiais do guitarrista Nelson Faria, do trombonista Vittor Santos, que inclusive, assinaram alguns arranjos, além do saxofonista Mauro Senise.
Algumas curiosidades: são amigos de longa data, são muito talentosos e extremamente requisitados. Todos os integrantes são músicos que acompanham, nos palcos e nos estúdios, os maiores nomes da nossa música, o que dá mais força e credibilidade ao trabalho.
Destaque para os temas autorais “De Volta Ao Rio”, “Passo o Ponto”, “Ponderações no. 6”, “Chico” e “Passeio Público”, as minhas preferidas “Rio” e “Melancia e mais “Preciso Aprender a Ser Só” e “Nós”.
“Inútil Paisagem”.
Fico imaginando a emoção de vê-los tocar ao vivo. Deve ser, sem dúvida, uma experiência única e rara e espero poder realizar isso em breve, provavelmente na cidade do Rio de janeiro, que considero a cidade mais musical do planeta.
A Orquestra Atlântica é uma prova irrefutável disso. Música brasileira, músicos brasileiros, formação universal e uma mistura de gêneros que fazem o coração bater mais forte.