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Gigantes do Jazz – Louis Armstrong

23/02/2015
Gigantes do Jazz – Louis Armstrong | Jornal da Orla
O trompetista, cantor e “showman” Louis Armstrong foi uma das figuras mais simpáticas, talentosas e importantes da história do Jazz e um dos pioneiros do gênero e também um dos grandes responsáveis pela sua popularização.
 
Ele teve a honra e o privilégio de nascer em New Orleans, berço do Jazz, e onde tudo começou. E ele mesmo destacou: “O Jazz e eu crescemos lado a lado quando éramos pobres”. Ele nasceu sem teto, órfão de pai, filho de mãe solteira e foi criado nas ruas de New Orleans. Outro exemplo real do poder da música em transformar a vida das pessoas.
 
Tornou-se um dos músicos mais conhecidos, respeitados e queridos nos quatro cantos do planeta e sua música, seja através do seu instrumento ou da sua voz grave, rouca e peculiar, continua cultuada até os dias de hoje. Foi um mestre que amava a música acima de qualquer coisa e nos deixou um legado musical, que considero arte pura.
 
E não posso deixar de falar também do seu sorriso, sempre aberto, outra marca registrada. Estava sempre de bom humor, alegre e disposto e, com esta característica natural, cativava a todos com quem se relacionava.
 
Seu talento para a música aflorou cedo e logo no início da carreira caiu nas graças do músico Joe King Oliver, que tornou seu padrinho e que tinha muito prestígio na época e uma banda famosa, a Creole Jazz Band, o convidando no ano de 1922 para shows na sua terra natal e na cidade de Chicago, outro grande centro musical importante dos Estados Unidos.
 
Logo depois, mudou para Nova York, gravando em 1924 na orquestra de Fletcher Henderson e formando os seus grupos famosos, “Hot Five” e “Hot Seven” (entre os anos de 1925 1929), quando ganhou o simpático apelido de “Satchmo”, dado em razão do grande volume das suas bochechas quando tocava. Outro apelido carinhoso, que ele recebeu em vida, foi o de “Pops” e este era o seu preferido.
 
Com o fim da Segunda Guerra Mundial formou a Louis Armstrong All Stars, composta por um time de músicos de primeira linha e que marcou uma fase muito importante da sua carreira.
 
Solista nato ele mudou a história do Jazz, tornando o gênero aberto para os solos e para os improvisos, características mais fortes do gênero.
 
As suas gravações de “Potato Head Blues”, “West End Blues”, “Struttin With Some Barbecue”, “Indiana”, “Hogh Society”, “When The Saint’s Go Marchin’ In”, “St. Louis Blues”, “Mack The Knife” e “What Wonderful World”, são antológicas e definitivas.
 
E, também, destaco as parcerias nos discos ao lado do pianista Oscar Peterson (Louis Armstrong Meets Oscar Peterson), da cantora Ella Fitzgerald (Ella and Louis e Ella and Louis Again) e de Duke Ellington (Louis Armstrong & Duke Ellington – The Great Summit: The Complete Sessions).
 
No início dos anos 50, ele viajou pelo mundo como Embaixador da Paz, a pedido do Departamento de Estado dos Estados Unidos, e assim o fez por diversas vezes até o final da sua vida, que teve seu ponto final, em 6 de julho de 1971.
 
E ele não só tocou da maneira certa o seu instrumento, como também conseguiu tocar de forma definitiva os nossos corações com sua música, eterna, sublime e estimulante. Um gênio do Jazz com apelo absurdamente popular.
 
 
Guga Stroeter & Orquestra HB Heartbreakers – “Emoções Baratas”
 
No ano de 1989, assisti, em São Paulo, à primeira montagem do espetáculo “Emoções Baratas”, que unia a atmosfera mágica do Jazz com a dança e um repertório selecionado com as mais belas composições do genial de Duke Ellington, executadas pela orquestra HB Heartbreakers, liderada pelo vibrafonista Guga Stroeter, um dos maiores estudiosos aqui no Brasil, da obra “Ellingtoniana”.
 
E as surpresas já começavam no saguão de entrada do teatro, onde os músicos e bailarinos já interagiam com o público, criando uma atmosfera real de um cabaré. Quando me dei por conta, estava fazendo parte do espetáculo.
 
Sucesso de público e crítica, o espetáculo ficou em cartaz por mais de 30 meses e foi concebido e dirigido pelo competente José Possi Neto, que se inspirou numa vivência pessoal, quando passeava pela cidade de Boston e descobriu um porão onde se tocava um jazz alucinante.
 
No ano de 2010, eles retornaram ao palco e fizeram mais uma temporada de sucesso, inclusive com a gravação deste CD primoroso com 17 faixas, lançado no mesmo ano pelo selo independente Sambatá. O repertório do disco é bem variado e contempla as várias fases do compositor, como aquelas executadas nos cabarés dos anos 20, trechos de obras religiosas dos anos 40 e músicas no formato camerístico de concerto dos anos 50.
 
Destaque para “I’m Just A Luck So And So” e “Come Sunday” na voz de Bibba Chuqui, “I`m Beginning To See The Light”, “Satin Doll” e “Don`t Get Around Much Anymore” na voz de Karin Hills e as instrumentais “Wild Man Moore”, “The Mooche”, “Stomp Look & Listen” e, a minha preferida, “Sunset And The Mocking Bird”. 
 
Um superespetáculo, uma superorquestra, um superrepertório e como consequência, um super CD. Simplesmente, inevitável.
 
 
“Edu Lobo & Metropole Orkest”
 
Quem disse que o Jazz não pode visitar a MPB e vice-versa. Edu Lobo, um dos principais intérpretes e compositores do nosso país, teve a ousadia que revisitar sua obra musical ao lado da renomada Metropole Orkest, da Holanda, fundada em 1945. E que tem no currículo gravações ao lado de Al Jarreau, Herbie Hancock, Andrea Bocelli, Paquito D`Rivera e os brasileiros Egberto Gismonti, Ivan Lins e Astrud Gilberto.
 
O CD foi lançado em 2013 pelo selo Biscoito Fino e apresenta um show ao vivo gravado dois anos antes, em 28 de maio de 2011, na cidade de Amsterdã, no Teatro Beurs Van Berlage, e que contou com as orquestrações e piano do competente e talentoso Gilson Peranzzetta, as flautas e saxofones de Mauro Senise (seus velhos parceiros) e a regência do maestro Jules Bucley, que liderou mais de 50 músicos.
 
O repertório do show foi escolhido por Edu Lobo, contando com a ajuda de seus grandes parceiros e grandes músicos, Gilson Peranzzetta e Mauro Senise, que conhecem com intimidade a obra musical de Edu Lobo. Destaque para os clássicos “Vento Bravo”, “Ave Rara”, “Choro Bandido”, “Canção do Amanhecer”, “Canto Triste”, “A História de Lily Braun” e os temas instrumentais “Casa Forte” e “Zanzibar”.
 
O que mais me impressionou foi ouvir a obra de Edu Lobo, genuinamente brasileira, com sambas, bossas, baladas e frevos, interpretada com a sonoridade vigorosa de uma “Big Band”, típica do Jazz.
 
O resultado ficou surpreendente e reforça sua grande sensibilidade interpretativa. É mais um belo registro da sua vitoriosa carreira.