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Zimbo Trio – 1964 – 2013

09/02/2015
Zimbo Trio – 1964 – 2013 | Jornal da Orla
Amilton Godoy (piano), Luiz Chaves (contrabaixo) e Rubinho Barsotti (bateria) fizeram parte da formação original do Zimbo Trio, formado em 1964 em São Paulo, e que se tornou uma das maiores instituições da nossa música. Digno representante paulistano do samba jazz, surgido na fase áurea da Bossa Nova e que conseguiu unir a MPB ao Jazz, esteve ativo até o ano de 2013.Foram 49 anos de uma história rica e com excelentes serviços prestados à boa música, mais de 50 discos lançados, reconhecimento mundial, excursões de sucesso por diversos países dos cinco continentes, levando sempre na bagagem a música instrumental brasileira.
 
Por uma questão jurídica, agora se chama Amilton Godoy Trio, liderado pelo pianista, único remanescente da formação original. O Zimbo Trio, na sua trajetória, se caracterizou por apresentar uma sonoridade diferente, qualificada e de vanguarda, traduzidas nos seus arranjos sempre surpreendentes. Recentemente, o selo Discobertas, dirigido pelo pesquisador Marcelo Fróes, lançou um box sensacional com os seis primeiros discos gravados do Zimbo Trio, editados na época pela gravadora RGE, no período de 1964 e 1969. São eles: Zimbo Trio (1964), Zimbo Trio Volume 2 (1965), Zimbo Trio Volume 3 (1966), É Tempo de Samba – Zimbo Trio + Cordas (1967), Zimbo Trio + Cordas Volume 2 (1968) e Decisão – Zimbo Trio + Metais (1969).Verdadeiras preciosidades que agora estão à disposição de todos, totalmente remasterizados, relançados com suas capas originais. Mais que um documento, um projeto que resgata um dos períodos mais importantes da história do grupo e da nossa música.

Não é preciso nem dizer que o repertório contido nos seis discos está recheado de tesouros, revelando, com detalhes, todas as possibilidades sonoras alcançadas, inclusive com o acréscimo das cordas e dos metais. E, por todas estas características, podemos dizer que o Zimbo Trio conseguiu atingir o ambicioso objetivo de fazer música brasileira de qualidade, com toques de modernidade e sofisticação, muito além de ser um simples trio de acompanhamento ou aquele trio que escutamos para fazer a trilha de uma noite.  
Um dos fatos mais marcantes do trio foi a participação como banda fixa do programa “O Fino da Bossa” da TV Record (1965), apresentado por Jair Rodrigues e Elis Regina, que na época divulgava os novos talentos da música. Fora dos palcos, o Zimbo Trio realizou uma dos maiores legados de sua vitoriosa carreira, quando, em 1973, fundou em São Paulo o Centro Livre de Aprendizagem Musical – CLAM, que foi e é, ainda hoje, responsável pela formação musical de diversas gerações de músicos. Uma das mais conhecidas alunas do CLAM é a genial pianista e cantora Eliane Elias, que está radicada nos Estados Unidos há muitos anos e que sempre que pode divulga, com orgulho e reconhecimento, a excelente formação musical que recebeu da escola do Zimbo Trio, agora comandada por Amilton Godoy.

E, para encerrar, uma curiosidade: o termo Zimbo significa boa sorte, felicidade e sucesso. Ingredientes fundamentais que o Zimbo Trio conseguiu ter em sua bela trajetória musical. Com merecimento e muito talento. Nossa eterna reverência !!!

 
 
Cris Delanno & Alex Moreira – “Nosso Quintal”
 
A cantora e compositora Cris Delanno, uma genuína carioca americana (ela nasceu no Texas – EUA), começou muito cedo na música, aos 5 anos de idade, cantando no coral infantil do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
 
Teve como seus principais padrinhos musicais o pianista Luiz Carlos Vinhas e o guitarrista, compositor e produtor Roberto Menescal, que sentiram nela, desde a sua adolescência, um grande talento a ser lapidado.
 
Acompanho sua carreira desde os seus primeiros lançamentos, com vários discos importantes e qualificados, mais atrelados ao repertório da “Nova Bossa Nova”, e sua interpretação, sempre muito sentida e intensa, me agrada demais. É uma das minhas intérpretes preferidas.
 
Madura e feliz, lançou no final de 2014, no mercado brasileiro, este trabalho ao lado de seu parceiro de vida, dos palcos e de composições, Alex Moreira, multi-instrumentista e um dos líderes do genial e inventivo grupo Bossacucanova. Uma curiosidade: o disco foi lançado no Japão em 2012 pelo selo P-Vine Records.
 
O trabalho é totalmente autoral e com parcerias importantes ao lado de João Donato, Joyce Moreno, Dora Vergueiro, George Israel, entre outros nomes. A produção foi assinada por Donatinho e Alex Moreira.
 
Nasceu dos diversos encontros musicais caseiros, ocorridos com frequência ao lado de amigos e parceiros, sempre com muita descontração e intensa cumplicidade.
 
Inspirado nas cenas do cotidiano, traz nas letras mensagens otimistas e com o firme compromisso com o planeta. Já as melodias, sonoridades com sotaques diferenciados, com fortes pitadas do ritmo latino e do Samba e algumas citações do Choro.
 
Destaque para os temas: “Dejá Vu”, “Até Sonhar”, “Na Flor da Idade”, “Tanta Água”, “Confusão”, “Saudade”, com a participação do Power Samba Jazz, “Valsa com o Poeta”, que contou com a participação de Jacques Morelenbaum no cello e  Gustavo Black Alen na voz e a faixa título “Nosso Quintal”, com a participação muito especial de João Donato.
 
Está aí uma sugestão diferenciada da nossa MPB, nesta dobradinha de Cris Delanno e Alex Moreira, que demonstra uma intensa cumplicidade e musicalidade qualificada.
 
 
David Feldman – “Piano”
 
A música também entrou muito cedo na vida do incrível e jovem pianista carioca David Feldman. Aos 4 anos de idade, ele já dedilhava o piano, recebendo aulas de piano clássico e, anos mais tarde, teve a sorte, merecimento e a grande honra de ser um dos principais discípulos do genial pianista Luiz Eça, do Tamba Trio.
 
Gravado de forma independente, este é o segundo CD de carreira (o primeiro de 2009, foi uma homenagem ao Beco das Garrafas), deste que considero um dos pianistas mais completos que já vi tocar.
 
Tive a sorte de vê-lo tocar ao vivo no ano passado no mítico Bottle’s Bar, numa canja especial  do Circuito Carioca de Bossa Nova, num show do Paulinho Trompete.
 
E não é novidade constatar que ele é um dos músicos mais requisitados do momento, já tendo atuado ao lado de Leo Gandelman, Leny Andrade, Ricardo Silveira, Leila Pinheiro, Jacques Morelenbaum, entre outros nomes importantes. 
 
Ao ouvir o disco, que traz 10 faixas, sendo 6 composições autorais, me lembrei de algumas gravações intimistas no formato “piano solo”, como aquelas dos lendários pianistas George Shearing, Tommy Flanagan, Dave Brubeck, Dave Mckenna entre outros.
 
O repertório gravado é bastante eclético, com citações da música clássica, da Bossa Nova e do Jazz, soando sempre de forma muito harmoniosa e com extremo bom gosto.
 
As releituras das conhecidas “Primavera”, “Conversa de Botequim”, “Tristeza de Nós Dois” e “Sabiá” merecem destaque pela sua interpretação. E as composições autorais “Chobim”, “Bad Relation”, “Tetê” e “Esqueceram de Mim no Aeroporto” demonstram toda a sua inspiração.
 
Outro detalhe interessante do disco é que em duas faixas, ele gravou com dois pianos, usando recursos da tecnologia para dobrar sua interpretação. Ficou muito interessante ouvir esta dobradinha intimista dele com ele mesmo.
 
A Música Instrumental Brasileira ganhou mais um belo registro e o pianista David Feldman merece todo nosso respeito e admiração pela sua ousadia, talento e inventividade.