Por: Mirian Ribeiro
Falam por aí que atire a primeira pedra quem nunca traiu ou foi traído. Mesmo que, no segundo caso, você não saiba. Brincadeira popular ou não, o certo é que a infidelidade tem sabor amargo e não é fácil de ser digerida. A traição demonstra falta de cumplicidade e falha na relação, mas, uma vez descoberta, é possível perdoar e superar sem mágoas e ressentimentos, reiniciando uma nova etapa da vida a dois?
Além da raiva e da dor no coração, a traição envolve constrangimentos quando o fato vem a público. Nesses casos, em nossa cultura com resquícios machistas, a mulher traída geralmente é vista como vítima e digna da solidariedade da família e amigos; já o homem, coitado, não costuma receber o mesmo apoio e, dependendo do meio em que vive, é alvo de comentários jocosos, ainda que feitos pelas costas.
A psicoterapeuta sexual Márcia Atik ressalta também a culpa como um dos resultados do doloroso episódio. “A estagnação de uma relação pode dar espaço para a necessidade de viver e sentir mais adrenalina e se isso pode ocorrer numa paixonite qualquer sem consequências, também pode ser a causa de grandes dores e a sinalização da insatisfação. Se o casal entender isso pode refazer a relação em novas bases”, acredita.
Para a terapeuta Erica Aidar, além dos valores individuais, o grau de envolvimento afetivo pode sinalizar a possibilidade ou não de um sentimento de perdão. “A traição não precisa significar necessariamente o término de uma relação, desde que o casal tenha maturidade para enfrentar o problema e buscar uma solução para que tal crise não se instale definitivamente”, alerta.
NA VIDA REAL E NA FICÇÃO: TRAIÇÕES ANTOLÓGICAS NO CINEMA
Infidelidade – Bonitão, bom pai, ótimo marido, bem sucedido profissionalmente. Todas estas qualidades não impediram o personagem vivido por Richard Gere ser traído por sua mulher (Daine Lane), que acaba se envolvendo por um sedutor livreiro francês (Olivier Martines).
Atração Fatal – Dan Gallagher (Michael Douglas) não resiste o assédio de Alex Forrest (Glenn Close) e trai a esposa durante breve viagem. Mas a amante revela-se uma psicopata e transforma a vida dele em um verdadeiro inferno.
Dama do Lotação – Baseado na obra de Nelson Rodrigues, o filme mostra uma mulher (Sônia Braga) que não consegue manter relações com o marido (Nuno Leal Maia), mas o trai com qualquer homem que se aproxime dela, até mesmo o próprio sogro.
POR QUE SE TRAI
Segundo Márcia Atik, diferentes motivos levam à traição. Um deles é a possibilidade de a pessoa comprometida se apaixonar por outra e, enquanto houver dúvida, isso é chamado de adultério. Há também o traidor (a) contumaz, aquela pessoa que tem necessidade de se sentir desejada, olhada, amada e nunca se satisfaz. “É um típico caso de baixa autoestima, o indivíduo fica tentando se realizar através do outro e, como isso não é possível, vai estar sempre à procura”.
Segundo Márcia Atik, diferentes motivos levam à traição. Um deles é a possibilidade de a pessoa comprometida se apaixonar por outra e, enquanto houver dúvida, isso é chamado de adultério. Há também o traidor (a) contumaz, aquela pessoa que tem necessidade de se sentir desejada, olhada, amada e nunca se satisfaz. “É um típico caso de baixa autoestima, o indivíduo fica tentando se realizar através do outro e, como isso não é possível, vai estar sempre à procura”.
Outra situação citada pela psicoterapeuta é a da pessoa que usa sua sexualidade, ainda que de forma inconsciente, para desafogar mágoas, se sentir poderosa. “Neste mundo de ansiedades desenfreadas e de insatisfação, o desempenho sexual acaba sendo uma válvula de escape, um amortecedor, um relaxante. Isso não seria problema se ocorre dentro do relacionamento que se mantém, o que não necessariamente acontece, pois os casais ainda têm a sexualidade conjugal nos moldes bem antigos, em que a esposa é santa e os desejos mais latentes devem ser vividos com outra mulher”, analisa.
Outra possibilidade é reflexo de recentes mudanças comportamentais. “As pessoas estão vivendo hoje a sexualidade até uma idade mais avançada. Há aquelas que estão numa zona de conforto em relacionamentos maduros e antigos e que acabam se descobrindo apaixonantes e desejadas por outras pessoas. E isso pode ser muito estimulante”.
Márcia Atik reforça que, se o casal tiver a maturidade de entender o sentido da traição e intimidade para resolver e aparar arestas, via de regra a superação além de ser possível, pode dar a chance de um relacionamento com bases mais verdadeiras. “Nessa cumplicidade readquirida, o ônus da crise também deve ser incorporado e talvez seja mais um aspecto a reforçar o vínculo do casal. Neste sentido, o acompanhamento de um terapeuta, de um religioso ou mesmo de uma pessoa isenta e de confiança do casal é muito importante”.
CINCO PASSOS PARA A SUPERAÇÃO
Para que a infidelidade não destrua de vez um relacionamento, a terapeuta Érica Aidar aponta cinco itens essenciais aos casais que decidem investir na recuperação pós-traição.
Encare o problema o quanto antes– É importante que o casal enfrente o desafio de buscar uma solução juntos e observe as falhas que levaram ao deslize, identificando insatisfações. “Fazer de conta que está tudo bem não vai ajudar em nada. Se a intenção é salvar a relação, é preciso colocar o dedo na ferida e agir de forma madura”, avalia.
Libere os sentimentos negativos– É natural que a pessoa traída sinta raiva ou mágoa, e expressar isso é fundamental. Se sentir vontade de chorar, não engula o choro. Se for preciso falar o que está sentindo, expresse seus sentimentos. “É importante vivenciar essa dor para que ela seja curada dando lugar a uma nova etapa”, diz Erica.
Não tenha medo de falar– Para que seja resolvido, o assunto precisa ser discutido. Portanto, vale dialogar, questionar e tentar entender por que o outro teve tal atitude. “O pacto de confiança foi rompido e para que seja restabelecido é necessário reconquistá-lo”, afirma Erica. E ambos devem colocar-se dispostos a buscar esclarecimento e entendimento.
Fuja da paranoia- Perdoar não significa que o outro tem permissão para errar novamente. Por isso, o laço de confiança tem de ser reconquistado. E quem pisou na bola deve demonstrar que está empenhado em cumprir este acordo, sendo verdadeiro e oferecendo garantia. Portanto, quem optou por apostar em uma segunda chance, deve libertar-se de neuras. “Não adianta dizer que perdoou e transformar a vida do outro em um martírio. Cada um deve cumprir com sua promessa”, sugere a especialista.
Proteja sua relação das fofocas- Quando a traição torna-se pública é inevitável que a opinião de terceiros invada a relação. E comentários maldosos podem interferir na decisão do casal. “A decisão é do casal e palpites não podem atrapalhar isso. É fundamental impor limites e manter-se firme no acordo estabelecido com seu parceiro (a)”, salienta Érica.