Por: Mírian Ribeiro
Na folhinha do calendário, não passa de um dia após o outro, como sempre ocorre. Mas a chegada de um novo ano carrega um forte simbolismo que desperta o desejo por mudanças e tomada de decisões na vida. Começar a bendita dieta, abandonar o cigarro, praticar atividades físicas, trocar de emprego ou até de namorado (a), realizar a sonhada viagem, ter um filho… Muitas são as propostas e promessas que acompanham um ano que se inicia e que traz com ele a sensação de recomeço, uma oportunidade de cada um refletir sobre o que foi realizado, o que gostaria de ter feito e o que pretende fazer. Enfim, traçar projetos de vida.
Infelizmente, a maioria das promessas e das intenções é abandonada logo nas primeiras semanas por falta de real comprometimento com as metas estabelecidas. A acomodação dá a falsa impressão de impossibilidade de cumprir metas e realizar sonhos, e essa sensação de impotência acaba virando uma bola de neve: quanto menos objetivos você atinge, mais incapaz se sente. E, aí, os sonhos se tornam mais e mais distantes, porque não há motivação alguma para tentar alcançá-los.
A psicóloga Patrícia Gebrim lembra que não é o passar do tempo que vai fazer nossos projetos acontecerem, e sim algo dentro de nós que decida que é tempo de mudança. “Vai depender da sua coragem de abandonar pensamentos e atitudes negativos que vêm lhe fazendo mal. Vai depender da sua criatividade em se permitir ser maior. Vai depender da sua ousadia de arriscar ser alguém diferente do conhecido e ir para além da mera repetição. Vai depender, principalmente, das suas atitudes. É preciso que as boas intenções se tornem ações, se tornem as sementes com que semeamos nosso novo caminho”, enfatiza.
Psicologia Positiva
Que tal começar 2015 agradecendo pelos aprendizados, pelas conquistas, pelas dores (que nos ajudaram a melhorar como pessoas), entre outros agradecimentos? Um dos exercícios sugeridos pela Psicologia Positiva para alcançar a felicidade é praticar a gratidão. A Psicologia Positiva é um movimento dentro da ciência psicológica que enfatiza mais a busca pela felicidade humana que o estudo das doenças mentais.
“Tais exercícios abrem portas para que possamos olhar para o novo com mais esperança e motivação, para que possamos nos abrir para um futuro próximo: um novo ano”, diz a psicóloga e consultora Heide Castro, especialista em Psicologia Organizacional.
Segundo ela, um dos exercícios de gratidão propostos é escrever uma carta para uma pessoa que foi importante para você e dizer isto a ela e, se possível, entregar pessoalmente. “Neste caso, a felicidade que a pessoa tem ao receber também é muito boa de vivenciar, não somente a felicidade que sentimos ao escrever”, explica.
A teoria do Flow (fluxo, em inglês), desenvolvida pelo pesquisador e psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, também pode ajudar a começar 2015 com uma energia positiva. Flow representa um estado mental atingido quando se está absolutamente envolvido em alguma atividade prazerosa. “Podemos sentir prazer sem nenhum investimento de energia psíquica, mas o deleite só ocorre em consequência de investimentos extraordinários de atenção”, comenta Heide Castro.
Pensando em produzir Flow em nossas vidas, que tipos de metas e sonhos seriam adequados escolher em 2015? Aqueles que nos desafiam – responde a psicóloga. Mas os desafios devem estar dentro de nossas habilidades, capacidades e as metas atenderem as seguintes características. Confira no quadro.
Como alcançar os objetivos
Ser bastante claros. Para se envolver por inteiro em qualquer tarefa é preciso ter o conhecimento preciso dela.
Fornecer feedback imediato: ao longo da jornada, os sinais por onde se passa confirmam o objetivo alcançado.
Equilíbrio entre desafios e habilidades. Se por um lado sonhar e se desafiar faz parte de nossa existência, colocar metas que estejam, neste momento, distantes de nossas capacidades/habilidades certamente trará ansiedade e frustração, pois teremos poucas chances de êxito.
Altos níveis de concentração: é preciso ver se os itens acima foram levados em consideração ao definir as metas.
Experiência alterada do tempo: a percepção do tempo em todos os nossos dias depende, fundamentalmente, da entrega. “Quando a meta estabelecida for desafiadora, nossa sensação de tempo estará alterada. Não veremos o tempo passar enquanto estivermos fazendo”, explica a consultora.
A lição de Aristóteles
O filósofo grego Aristóteles, que viveu quase quatro séculos antes de Cristo, disse que a felicidade não é enviada pelos deuses, mas obtida pela prática da virtude mediante longa aprendizagem. E distinguiu duas categorias: as virtudes intelectuais, que são as que nascem do ensinamento (sabedoria, ciência, engenhosidade etc.), e as virtudes éticas ou morais, que nascem da permanente repetição de hábitos que conduzem a elas (honradez, honestidade, temperança, generosidade etc).
Para Aristóteles, a virtude é um hábito, uma qualidade que depende de nossa vontade e que está regulada pela razão. Ela nasce da temperança e morre no excesso e na deficiência. A virtude, portanto, é uma questão de prática. Nenhum defeito pode ser cerceado combatendo diretamente esse defeito (apenas se estiver atravancando o caminho), mas somente fomentando a virtude que lhe é oposta. Como se vê, podemos melhorar e mudar, mas depende da nossa vontade de espírito e treinamento.
