A música de Tom Jobim fala das “águas de março fechando o verão”, mas os moradores da região, principalmente os de Santos e São Vicente, sentiram na pele os efeitos das “águas de dezembro abrindo o verão”, na segunda-feira (22), menos de 24 horas após o início da estação mais quente do ano.
Em Santos, entre 16h15 de segunda-feira (22) e as 6h de terça-feira (23), o índice pluviométrico foi de 171,6 milímetros. O normal é chover, em dezembro, 210 milímetros.
Foi a maior chuva registrada nos últimos 36 anos, revela o climatologista Rodolfo Bonafim. Em janeiro de 1978, o índice pluviométrico de um único dia foi de 194,6 milímetros.
A quantidade de chuva superou a capacidade de escoamento da rede de drenagem da cidade, resultando em pontos de alagamento em praticamente todos os bairros da cidade. O local mais crítico foi a avenida Nossa Senhora de Fátima, onde o trânsito foi interditado pela Companhia de Engenharia de Tráfego.
No supermercado Assai, clientes e funcionários ficaram 17 horas ilhados, passaram a noite no local e só foram resgatados pelo Corpo de Bombeiros.
A avenida da praia, no sentido Ponta da Praia-São Vicente, ficou praticamente parada. Diversos prédios e estabelecimentos comerciais foram invadidos pela enxurrada e tiveram prejuízos materiais.
Os alagamentos se agravaram devido ao intenso processo de impermeabilização da cidade, verificada nos últimos anos, e pela quantidade de lixo despejada indevidamente pelas vias públicas, que acabaram entupindo várias bocas-de-lobo e galerias.
Sandra Perruci
Aquecimento
O climatólogo Rodolfo Bonafim explica que o fenômeno ocorreu em decorrência do encontro de uma frente fria com uma massa de ar quente que estava estacionada na região.
“Essa frente fria teve um atraso, demorou um pouco pra chegar até aqui, mas ela foi adquirindo um contraste muito grande com relação à massa de ar quente que estava muito forte na região. Então, essa diferença de pressão, temperatura e umidade fez com que ela ganhasse força e esse choque térmico foi inevitável, causando toda essa chuva absurda”, disse.
Segundo ele, o fenômeno pode voltar a acontecer durante esta temporada. “Uma chuva com esta intensidade já era prevista, por causa das mudanças climáticas e o aquecimento das cidades. Com muito concreto e muito asfalto, as chuvas tendem a piorar. São chuvas rápidas, violentas e pontuais”, explicou.