Comportamento

O prazer do encontro familiar no Natal

19/12/2014
O prazer do encontro familiar no Natal | Jornal da Orla
Por: Mirian Ribeiro

Nos tempos atuais, o Natal é uma das poucas, senão a única, datas em que é a família se reúne para se confraternizar, matar a saudade, colocar o papo em dia, trocar afeto. Mas, como família não se escolhe, em muitos lares o encontro acaba servindo para reviver antigas mágoas e ressentimentos, reacender os conflitos e lavar a roupa suja. Às vezes, basta a presença de um espírito de porco, aquele parente inconveniente que aproveita a festa para provocar os demais, criar polêmicas desnecessárias e lançar a fagulha da discórdia, que pode se alastrar e estragar o prazer da reunião. 
 
Quem já viveu este tipo de situação sofre por antecedência e passa a noite de Natal em sobreaviso. O que dá conforto é saber que sua família não é única e especialistas em comportamento consideram problemas assim naturais e contornáveis. “A imagem de propagandas e programas de TV com pessoas extremamente felizes festejando o Natal e o Réveillon levam alguns a acreditar na alegria de todos, menos na sua”, comenta o psiquiatra Joel Rennó Jr.
 
Regras básicas 
A família é o único grupo ao qual se pertence de fato. De outros grupos, participamos apenas. Os familiares servem de apoio nas horas difíceis e podem ser ótimas companhias nos momentos de divertimento. Por isso, vale o empenho para transformar o encontro de Natal em algo realmente prazeroso, de acordo com o espírito da festa máxima do Cristianismo. Confira algumas regras básicas de convivência:
 
Modere no álcool – O álcool deixa as pessoas desinibidas e seu consumo em excesso favorece comportamentos inadequados, tipo falar alto demais, dar gargalhadas escandalosas ou desenterrar antigas mágoas. 
 
Converse amenidades – Nada de papo sério e temas polêmicos na noite de Natal. Fale de assuntos banais, não toque em política, religião ou na vida dos outros. Pense apenas em se divertir e viver uma noite feliz.
 
Neutralize o provocador – Como ele se alimenta da plateia, tanto no meio familiar quanto no ambiente de trabalho, tire-o do foco de atenção, desvie do assunto lançado pelo provocar e crie situações de união e alegria. Ele vai se sentir sem espaço para se manifestar. Acolher este tipo de pessoa por medo ou pena só vai fortalecê-la, pois ficará cada vez mais dependente de sua doença.
 
Administre conflitos – Se notar uma possível discussão arrume uma desculpa para separar os envolvidos.
 
Evite perguntas e críticas – Não questione idade, peso, costumes ou relacionamentos amorosos e tampouco faça críticas, julgamentos e fofocas.
 
Intimidade até certo ponto – Pela própria intimidade que a relação proporciona, tudo em família é muito potencializado e, às vezes, uma simples palavra faz o outro reagir de forma intempestiva. Por isso, é importante ter cuidado com as palavras e manter um pouco de cerimônia. Em outras palavras, praticar a gentileza, principalmente com os mais íntimos. 
 
Não idealize – Entre a família idealizada e a família real, é preciso se adequar à realidade, saber conviver com as imperfeições e os defeitos de cada um. Inclusive com os seus.
 
Não esqueça o espírito do Natal – Muitas pessoas esquecem que, na verdade, a comemoração é pelo nascimento de Jesus. Vá para a festa com este sentimento e faça um esforço para agradar sua família.
 
Imagem idealizada favorece depressão
De acordo com o psiquiatra Joel Rennó Jr, quadros de depressão nesta época do ano são muito comuns, podendo aparecer, particularmente, entre pessoas que têm vulnerabilidade para aceitar mudanças no ritmo e nas circunstâncias de vida do ser humano. “Há vários contextos e situações de vida que incidem neste período e que funcionam como gatilhos estressores. Perdas e mortes, separações, luto e saudade podem favorecer, em indivíduos vulneráveis, o surgimento de um quadro depressivo. Sua intensidade varia de acordo com cada pessoa”, diz.  
 
Pessoas deprimidas ficam mais recolhidas e pensativas, algumas sentem dificuldade de sair da cama, ficam sem motivação para realizar as funções básicas do dia a dia ou aumentam o consumo de massas e chocolates (alimentos precursores de serotonina). Irritabilidade, impaciência, inquietação, pessimismo, insônia, queixas frequentes, sentimentos de culpa injustificáveis são outros sintomas típicos da depressão, que podem ser altamente danosos à saúde.
 
Joel Rennó Jr ressalta que ao perceber sintomas de depressão é importante que a pessoa procure ajuda médica. “Temos todos que ficar atentos. Profissionais, familiares, amigos e até mesmo aqueles que estão passando por tal situação. Justificar como sendo comum ficar triste no Natal ou no fim de ano é o mesmo que abandonar ao mero acaso tal sofrimento”.