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20 anos sem Tom Jobim, o eterno maestro

15/12/2014
20 anos sem Tom Jobim, o eterno maestro | Jornal da Orla
Em 8 de dezembro de 1984, Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, maestro, arranjador, pianista, violonista, cantor e compositor, nos deixava, com apenas 67 anos de idade, em Nova York, cidade que ele tão bem conhecia, desde daquele memorável concerto no Carnegie Hall em 1962, que marcou em grande estilo a estreia da Bossa Nova em solo americano.
 
Depois de passados 20 anos daquele dia, temos a certeza de que ele verdadeiramente nunca nos deixou. Sua música está cada vez mais presente entre nós.
 
Lembro-me de ver, na época, a chamada do plantão especial da TV Globo, dando a triste notícia para todos os brasileiros. E de ver também, no dia seguinte,  muito emocionado, o Jornal Nacional praticamente todo dedicado a Tom Jobim, com a apresentação de Cid Moreira e Sérgio Chapelin, repercutindo seu ultimo voo de volta ao Brasil. Impossível esquecer.
 
Nestes anos, que se passaram, muitas homenagens foram prestadas ao Maestro Soberano, como a justa alteração do nome do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro/Galeão para  Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro/  Galeão – Antonio Carlos Jobim ou Tom Jobim, ocorrida em 1999.
 
Em 2008, foi inserido no corredor cultural do belo Jardim Botânico, localizado na cidade do Rio de Janeiro, o Espaço Tom Jobim, que compreende o Teatro Tom Jobim, o Galpão das Artes e a Casa do Acervo, que guarda grande parte do seu acervo pessoal e uma exposição permanente com fotos, partituras originais, objetos pessoais e vídeos. Era o local que ele mais gostava de frequentar em vida.
 
No dia 25 de janeiro, comemora-se o Dia Nacional da Bossa Nova, instituído através de Lei Federal no. 11.926, de 17 de abril de 2009, e também o aniversário de nascimento de Tom Jobim, um dos fundadores do movimento. Uma proposital coincidência.
 
Em Santos, atendendo à nossa solicitação, o vereador Douglas Gonçalves conseguiu aprovar a Lei Municipal no. 2.972, de 14 de março de 2014, instituindo a Semana da Bossa Nova, comemorada sempre de 19 a 25 de janeiro (neste dia, comemoramos o Dia Municipal da Bossa Nova). Em 2015, vamos comemorar em grande estilo esta data tão especial, assim como fizemos em 2014, antes mesmo da aprovação da lei.
 
A mais recente homenagem aconteceu em 8 de dezembro de 2014, data que marcou vigésimo aniversário de seu falecimento. Na sua cidade preferida, o Rio de Janeiro, na praia de Ipanema, no Arpoador, Tom Jobim ganhou uma estátua de bronze, assinada pela artista plástica Christina Motta. A imagem retrata ele jovem, nos anos 60, andando com um violão no ombro e foi inspirada numa foto dele tirada ao lado de Vinícius de Moraes, quando ambos estavam no cerrado, em Brasília, compondo a famosa Sinfonia da Alvorada. 
 
A partir de agora, os cariocas e todos os visitantes vindos de todas as partes do planeta, poderão caminhar pela praia ao lado deste artista genial, que, até os dias de hoje, continua a influenciar com a sua música, genuinamente brasileira.
 
Para finalizar, cito um pequeno trecho de sua composição “Querida” (1991), que  está perpetuado em sua última morada: “Longa é a arte, tão breve a vida”. E ousadamente complemento: “eterna é sua música”. Obrigado Tom Jobim, que, através da sua música, transformou a minha vida.
 
 
Antonio Carlos Jobim – “The Composer Plays”
 
A primeira vez que ouvi este disco foi quando tinha 14 anos, ainda no formato LP e tenho que confessar que nunca me esqueci da sonoridade mágica das suas 12 faixas instrumentais. É um dos trabalhos de Tom que mais gosto. Na verdade, sou suspeito, pois toda a discografia do maestro é perfeita e inquestionável. Este disco foi lançado originalmente em 1963, pela gravadora americana Verve, e foi o 1º. trabalho de Tom Jobim lançado no EUA (na época em que a Bossa Nova estava em alta por lá) e contou com a produção do genial Creed Taylor, que apresentou e recomendou a participação do também genial arranjador alemão Claus Ogerman.
 
O resultado musical foi perfeito e dessa parceria com Ogerman, nasceu uma afinidade/amizade que durou 17 anos (1963 – 1980), possibilitando a realização em parceria de vários discos primorosos.
 
Não tenho dúvidas em afirmar que Claus Ogerman tornou-se o arranjador predileto de Tom, afinal foi com quem ele mais trabalhou ao longo da sua carreira. Os solistas principais: Leo Wright na flauta, Jimmy Cleveland no trombone, George Duvivier no contrabaixo, Edison Machado impecável na bateria, uma imposição de Tom, para preservar a nossa batida exclusiva e uma orquestra de cordas afinadíssima. Em 1964, o mesmo disco foi lançado no Brasil pela gravadora Elenco com o título “Antonio Carlos Jobim”, inclusive com uma capa diferente da original. Não deixe de ouvir este trabalho único e definitivo de Tom Jobim, hoje já disponível em formato de CD, totalmente remasterizado. Garanto que será amor à primeira vista, ou melhor amor à primeira audição. Assim como aconteceu comigo
 
 
Jobim – “Antonio Brasileiro”
 
Este trabalho foi o último lançamento de Antonio Carlos Jobim. Um verdadeiro testamento musical de um artista acima da média e sem comparações.
 
Curiosamente foi lançado no mercado três dias depois do seu falecimento, tornando-se sucesso de crítica e público. Não apenas por esta razão, pois o trabalho é memorável e com várias surpresas muito agradáveis e marcantes, reforçando toda a universalidade musical de Tom Jobim. A primeira surpresa, que destaco, foi a gravação de “Insensatez” ao lado de Sting, contando também com a participação do contrabaixista de Jazz, Ron Carter. Também “Samba de Maria Luiza” e “Forever Green”, que contaram com a participação muito especial da sua filha caçula Maria Luiza, na época uma linda garotinha de apenas 7 anos de idade, que encantou e não desafinou. E também do seu neto Daniel Jobim, que assinou a produção do disco ao lado do pai, Paulo Jobim, e pilotou os teclados em 2 faixas.
 
Para encerrar, “Blue Train”, ou para nós brasileiros simplesmente “Trem Azul”, numa versão de emocionar, que contou com um solo mágico do flugelhorn do também saudoso Marcio Montarroyos e o inspiradíssimo tema instrumental “Radamés & Pelé”. Destaque para a participação de uma afinada orquestra de cordas, que deu ao disco um complemento de classe e beleza. É um daqueles discos que não cansamos de ouvir e que marcou em alto estilo a despedida do nosso querido e eterno Maestro. É para sempre Tom !!! Saudades !!!