Para lá, foram transferidos 127 quadros e 51 cerâmicas, que representam cada fase da sua trajetória profissional. Ele, que é carioca, afirma ter uma dívida de gratidão com Santos, onde aprendeu as “primeiras letras”. Filho de espanhóis, nasceu em 1925 e, em 1940, cursou a Escola de Belas Artes de Priego, na Espanha. Retornou ao Brasil e fez Filosofia na USP – Universidade de São Paulo, entre 1945 a 1949. Em 1950, estudou estética, com Bogumil Jasinowsky, na Universidade do Chile. Como bolsista do governo francês, aprofundou os conhecimentos na Sorbonne. De volta ao nosso país, montou um estúdio no bairro das Perdizes, em São Paulo, onde deu aulas de pintura, cerâmica, escultura e desenho. Atualmente, vive na Espanha e, aos 89 anos, está em plena ativa, pintando como ninguém.
Por que resolveu doar parte do seu acervo à Pinacoteca Benedicto Calixto?
Foi para satisfazer o meu próprio ego, porque tenho uma dívida de reconhecimento com Santos. Desde a primeira infância, tive a sorte de aprender aqui na cidade as primeiras letras. Primeiro, no Grupo Escolar Barnabé, depois no Ginásio do Estado Canadá e também na escola Progresso Brasileiro. Todas estas experiências me levaram ao curso de Filosofia da USP, que me projetou para o exterior, em Paris.
Como foi a escolha das obras que seriam doadas?
Doar parte do meu acervo para Santos, onde passei parte da minha primeira infância e a adolescência sempre esteve nos meus planos. A cada nova coleção, eu separava um trabalho para o meu acervo particular, sabendo que já tinha destino certo: seria doado para Santos, a cidade que melhor me acolheu no Brasil.
Algum fator foi decisivo para isso?
Sim, o projeto de construção do Museu de Arte Moderna da Pinacoteca Benedicto Calixto, cujo autor é o arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Este projeto foi responsável pela decisão de doar as obras.
É, também, uma maneira de fazer com que suas obras sejam apresentadas às novas gerações?
Esta é uma das minhas intenções. Em Santos, estão fechando muitos espaços e os meios de visitação cultural estão ficando cada vez mais reduzidos. Logo, esta cidade precisa de um grande centro cultural, que tenha condições de apresentar exposições importantes.
Como foi a experiência no exterior?
Era para eu ficar um ano por lá, mas tive a sorte de o estágio ser prorrogado. Então, fiquei de 1949 a 1953 pela Europa, o que influiu de maneira decisiva em minha carreira. Fiz estágios em diversos ateliês de manufatura, participando de várias atividades. Foi um privilégio!
O que representa a arte para você?
A arte é tudo para mim, não satisfaz apenas meu espírito.
Você tem medo da morte?
Não. Quem, como eu, teve tanta vivência, não deve temer a morte. Na juventude, tive a sorte de ter indagações filosóficas a respeito dos mistérios da supervivência eterna, que se fazem necessárias. Quando entrei para a Faculdade de Filosofia, preocupado com temas metafísicos e outras indagações, saí mais ignorante do que entrei. Eu me aproximei dos grandes pensadores para tentar entender o mundo, mas saí da faculdade com a certeza de que jamais saberia muito sobre qualquer coisa.
O que as suas obras dizem sobre você?
Não paro de pintar e, indiretamente, minhas obras fazem um retrato de minha trajetória pelo mundo, da espontaneidade total de um representante da minha época. Posso dizer que é a minha maneira de viver a época em que estou, a partir do olhar de meu mundo interior. Procuro ser contemporâneo em tudo e, é por isso, que a minha arte tem variado com o tempo. Os artistas devem saber retratar o mundo em que vivem.