Renato Di Renzo
A partir de que ideia o Projeto foi criado?
A partir de que ideia o Projeto foi criado?
Fui convidado pela equipe de intervenção da Prefeitura da época para conhecer o Anchieta… O engraçado é que eles nem sabiam que eu era de Santos! Na época, 1989, eu vivia em São Paulo e trabalhava com arte com diversas comunidades por lá. Voltei a Santos e me apaixonei por aquelas pessoas. Propus um trabalho em que a principal palavra, até hoje, é: “paixão”!
Por que o nome TAMTAM?
TAMTAM nasceu de um jogo de poemas dadaístas e o significado é o melhor: “instrumento de percussão que ecoa por todos os lados”! Esse era o maior segredo e uma descoberta maravilhosa daquelas pessoas! E a palavra TAMTAM foi o primeiro elemento de troca que aqueles pacientes tinham para trocar com a sociedade depois de anos de cárcere. Isso era maravilhoso! Nunca tivemos problemas com o nome! A forma de agir sempre nos proporcionou muito respeito e admiração da população e imprensa em geral. TAMTAM se transformou numa referência de saúde mental e inclusão no Brasil e fora dele.
Como é possível formar uma sociedade para pensar na saúde mental?
Trazendo as pessoas e a sociedade para perto! Com as oficinas, campanhas de Natal, desfiles, peças de teatro… noites do “Rolidei”… se torna poesia… um canto que todo mundo canta junto… Parece simples, mas não é. Exige entrega, envolvimento, comprometimento com o outro. Relação de troca contínua…
O Projeto TAMTAM colocou um ponto final em maus-tratos contra os internos da extinta Casa de Saúde Anchieta. Vinte e cinco anos depois, qual a principal mudança?
É, por exemplo quando sou convidado (e isso acontece muito hoje em dia!) para dar palestras sobre o trabalho da TAMTAM em diversas Faculdades de Medicina. Isso já demonstra avanços, vontade de mudar, de refletir… Isso não acontecia anos atrás! É, por exemplo, as pessoas falando, discutindo e querendo participar ao lado daqueles que um dia foram desqualificados e vistos como menos… Em nossas atividades temos crianças, jovens e adultos “de todo o tipo”, lado a lado, celebrando as diferenças e convivendo com uma harmonia maravilhosa!
A exclusão que as pessoas com deficiência acabam sofrendo é porque não sabem conviver entre si?
Aí a gente fala das doenças do afeto inerentes ao homem contemporâneo… o buraco é bem mais embaixo (risos!). Poderíamos falar horas sobre isso….
Existe uma maneira de colaborarem com este trabalho?
Sim, precisamos com urgência de investidores, empresários, pessoas físicas ou empresas que acreditem no trabalho e invistam nele de forma permanente e efetiva.
O que vocês esperam para os próximos 25 anos da TAM-TAM?
Que a gente tenha força para continuar e replicar cada vez mais. A dignidade, a paixão e o caráter para a realização diária das ações da TAMTAM a gente tem de sobra! Não estamos nesta caminhada à toa. Eu acredito no homem, acredito nas pessoas… eu quero dançar com todos, o bonito, o feio, o esquisito, você e você, por todos os dias da minha existência! Que venham mais 25, 25 e 25!
Cláudia Alonso
A inclusão, realmente, existe para valer?
É uma pergunta delicada. No mundo em que eu vivo e compartilho no meu dia a dia, sim, mas a gente sente e percebe que muitas vezes as pessoas nos veem como lunáticos, como idealistas de coisas tidas como banais, ou “poéticas” demais. Eu já escutei muito: “Claudia, deixa de ser poética”, etc….
Ao longo de 25 anos, qual continua sendo o principal desafio do TAMTAM?
Acho que o maior desafio é que possamos nos encaixar em editais, ou preenchimentos de “coisas” documentais para verbas, porque somos uma Instituição híbrida e em praticamente 100% do que tem que ser preenchido, esta qualidade tão diversa não se encaixa.
Ainda existe preconceito com pessoas portadoras de deficiência?
O preconceito existe sempre. Não sei explicar por que… parece que as pessoas sentem um certo prazer em criticar, comparar… É estranho… Às vezes parece que é a tal relação de poder: para que exista o “bonzinho”, tem que haver o “piorzinho”.
As pessoas sabem lidar com as diferenças?
Se a gente entender que pessoas são pessoas e que podemos conviver com as diferenças, apesar disso implicar em comprometimento e certa dose de humildade, já é um grande começo!
E a questão do afeto, onde entra, dentro deste contexto?
Afeto, paixão, amor (sem pieguismo) é a base de tudo. Entra em tudo! Na aula de dança, de teatro, no ensaio, ao ler um livro, ao lavar o banheiro, fazer a comida… Na escola, na família, no médico, no espetáculo… Essa qualidade do homem deveria ser mais lembrada, mais valorizada… As pessoas parecem que têm vergonha de demonstrar afeto, e isso é algo tão gostoso! Tão vital…
A que você atribui o medo que as pessoas têm?
Medo? Medo de quê? De demonstrar afeto? Creio que seja porque todos têm medo da perda, medo da solidão… Mas, ao mesmo tempo, esquecem de perceber o quanto o afeto alimenta, cura e acalenta. É uma conta que não dá prá fechar… Medo dos diferentes??! Ahhh! Aí é falta total de tudo! O mundo é recheado de diferenças, de coisas estranhas e que não conhecemos. Tenho pena de quem se alimenta por preconceitos, estigmas, valores, opiniões. Estamos vivos e, se não nos permitirmos viver coisas novas, não vai valer a pena. É como o Renato mesmo diz: “Aí você não tem História pra contar, então não tem graça!”.