Comportamento

Patriotismo em frangalhos

05/09/2014
Patriotismo em frangalhos | Jornal da Orla
por Giovanna Mari
 
Dia 7 de setembro é comemorado o dia da Independência do Brasil, fato que marcou o fim do domínio português e a conquista da autonomia brasileira. Mas, afinal, qual é a importância de celebrar a data e valorizar os símbolos da nossa pátria? Será que o brasileiro de hoje pode ser considerado patriota?
 
 “A identificação com os valores da pátria faz toda a diferença na formação do cidadão. Sem isso, o indivíduo não exerce a cidadania sequer no seu lar, na sua rua, no seu bairro, na sua cidade e no seu estado, quanto mais na defesa do País”, explica o cientista político Fernando Chagas.
 
Ainda segundo o especialista, existem alguns itens que ajudam a alimentar a falta de patriotismo de cada brasileiro. A falta de interesse do jovem em participar e discutir política é um dos aspectos destacados. Para o cientista, é necessário estimulá-los e mostrar a política como um caminho legítimo para todas as transformações sociais do país. “O jovem perdeu o interesse na política porque falta identificação deles com os políticos. É preciso resgatar isso através de incentivo e exemplos da política”, explica.

A “desnacionalização” de toda a economia brasileira é outro item que preocupa. Segundo Chagas, muitos brasileiros não conseguem gostar de artigos produzidos no Brasil devido à influência da globalização. Isto é, o brasileiro prefere comprar um sapato dos Estados Unidos, um creme da França, consumir uma música latina e até torcer por times estrangeiros. “Um exemplo notável é o brasileiro que nesta Copa preferiu trocar o Brasil pela Argentina e Alemanha, entre outros. O futebol mostra como nos distanciamos de nosso maior símbolo. Isso atrapalha muito no cultivo do patriotismo”, diz.

Refúgio na bola

A Copa do Mundo foi, durante décadas, o período em que o patriotismo brasileiro era claro. Neste ano, apesar de o evento ter sido no Brasil, não se pode negar que o ânimo do brasileiro foi fraco. Menos bandeiras, animação e torcida. Entretanto, mesmo com o sentimento menor, alguns patriotas acabaram saindo da toca. 
 
Para uns, o torneio de futebol é momento de fortalecimento de identidade do povo; para outros, época de delírio nacional, em que o brasileiro deixa de acompanhar os fatos relevantes para a nação. Mas, para Chagas, a palavra mais correta para definir esse “patriotismo de mentira”  é “refúgio”. 
 
“Sabemos que uma das maiores habilidades de nosso país é o futebol. Com tantos problemas no país, o brasileiro parece encontrar conforto quando o assunto é futebol. É uma válvula de escape”, explica Chagas.

Educação, a saída para virar o jogo
Segundo dados do IBGE, atualmente quase todas as crianças têm acesso ao ensino básico no país. No entanto, o Brasil continua tendo grandes problemas neste setor.  Para Chagas, a saída para melhorar esse aspecto, e, consequentemente, a falta de amor pelo país, é inserir o sentimento de patriotismo brasileiro desde o Ensino Fundamental do jovem. 
 
“É preciso exaltar a bandeira nacional, falar de coisas boas do país, cantar o Hino Nacional, não se esquecer da Independência do país e outras datas históricas, dar exemplos e instruir o jovem a amar o país desde a sua formação. Enquanto nós não desenvolvermos o sentimento de amor pelo país desde a época escolar, dificilmente vamos resgatar os futuros patriotas. O patriotismo não é para ser imposto, mas sim conquistado pelas pessoas através da educação de boa qualidade – que também depende dos políticos, claro. Se houver a união desses dois aspectos, o jovem vai ser reconhecido, ter um bom emprego, vida digna, vai amar e falar bem de seu país”, aconselha.
 
Exigir direitos, ser solidário, viver bem, ser livre de preconceitos, e, claro, cobrar das autoridades a cuidar do país também fazem parte da lista do patriota. “Faça algo pelo seu país e comporte-se como cidadão. Este é o começo para qualquer processo de mudança no país”, afirma.