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Hora de iluminar o problema

05/09/2014
Hora de iluminar o problema | Jornal da Orla
Quarta-feira, 10 de setembro, é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, um ato que já é considerado como problema de saúde pública pelo Ministério da Saúde. Para marcar a data, o CVV – Centro de Valorização da Vida – programou uma mobilização, a partir das 20h, para qual pede que as pessoas acendam uma vela e a coloquem em sua janela, sacada ou qualquer outro local à vista de todos. A ideia é que, por meio da luz, seja possível oferecer o acalento a todos e promover a prevenção do suicídio.
 
Os números explicam tanta preocupação: no Brasil, 25 pessoas se matam e ao menos outras 50 tentam tirar a própria vida por dia. No mundo, uma pessoa comete suicídio a cada 40 segundos. Segundo os especialistas, mais de 90% dos casos poderiam ser evitados. 
 
“A pessoa com pensamentos suicidas não está necessariamente doente, mas não está bem e, geralmente, ela passa vários recados antes de chegar ao ato em si. Por isso é preciso ter atenção, principalmente dentro de casa, deixar a pessoa falar, desabafar, ouvir com respeito, aceitar o outro como ele é, procurar ajuda especializada. São ações simples, mas não fáceis”, comenta o porta-voz do posto do CVV em Santos, Renato Caetano de Jesus. 

Tabu social e religioso
 
Apesar da gravidade da situação, o suicídio ainda é tabu na sociedade brasileira, o que dificulta o esclarecimento e a prevenção. Há uma crença que falar em suicídio incentivará a prática, mas o voluntário da CVV garante que é o contrário: falar ajuda na prevenção. E quem decide ajudar deve estar preparado para ouvir.
 
“Quem tenta suicídio pede ajuda. Quem se mata não estava querendo se matar, mas sim fugir do problema que o estava angustiando. Faz parte do ser humano questionar o sentido da vida, mas isso vira problema quando o pensamento começa a ficar persistente. Ao ser ouvida com atenção e respeito, a pessoa se sente valorizada e é nesta hora que a gente consegue mudar a direção do pensamento”, reforça Renato Caetano. 
 
Reduzir o suicídio é um desafio coletivo. Pesquisa da Unicamp revelou que 17% dos brasileiros pensaram seriamente em dar fim à própria existência no decorrer de suas vidas e, desses, 4,8% chegaram a elaborar um plano para isso. “Nossa resposta não pode ser o silêncio. Nossas chances de chegar às pessoas que precisam de ajuda dependem da visibilidade”, argumentou o psiquiatra Humberto Corrêa em um artigo sobre suicídio publicado pela revista Planeta. E completou: “O debate sobre o suicídio não é uma questão moral ou religiosa, mas um assunto de saúde pública e que pode ser prevenido. Aceitar essa ideia é o primeiro passo para poupar milhares de vidas”.
 
Depressão é uma das causas
 
Vários motivos podem levar alguém ao suicídio. E a depressão está por trás de muitos desses atos extremos. Além do componente genético, o psiquiatra Miguel Jorge, professor da Unifesp, explica que fatores externos da vida atual, como o estresse e a grande competitividade profissional, podem favorecer o aparecimento da doença. “Um estilo de vida estressante, o uso de drogas e álcool e insatisfação em diversas áreas são fatores de risco para a doença. Fazer escolhas pessoais e profissionais que ajudem a controlar esses fatores é uma forma de prevenir a depressão”, diz.
 
No caso dos idosos, a chegada de doenças crônicas incuráveis, o luto pela perda de pessoas próximas e a frustração por não poder mais realizar algumas atividades os tornam mais vulneráveis à depressão e ao suicídio.
 
Segundo especialistas, o aumento de suicídios e de mortes associadas à depressão está relacionado com dois principais fatores: o aumento das notificações e o crescimento de casos do transtorno. “Como o assunto é mais discutido hoje, há maior procura por atendimento médico e mais diagnósticos. Mas também está provado, por estudos epidemiológicos, que a incidência da depressão tem aumentado nos últimos anos, principalmente nos grandes centros”, informou o psiquiatra.
 
Casos aumentam entre jovens
 
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a tendência é de crescimento dessas mortes entre os jovens, especialmente nos países em desenvolvimento. Nos últimos vinte anos, o suicídio cresceu 30% entre os brasileiros com idades de 15 a 29 anos, tornando-se a terceira principal causa de morte de pessoas nesta faixa etária no país (acidentes e homicídios precedem). 
 
Especialista em suicídio, a psiquiatra Alexandrina Meleiro faz um alerta aos pais: “Se o pai ou mãe já percebeu que o filho está falando em suicídio, significa que já notou alterações que começam a aparecer no comportamento do adolescente quando existe a ideia de suicídio. Pode estar entristecido, dependente de drogas, se sentindo abusado por colegas por bullying. Então é fundamental que pais e mães estejam atentos a mudanças de comportamento. Quando observar algo, sem preconceito nenhum, procure um psiquiatra. Ele dará o diagnóstico para saber se essa criança ou adolescente tem depressão, está com algum distúrbio a ser tratado e, principalmente, se há abuso de drogas, o que é importantíssimo no caso de suicídio”.

AJUDA ESPECIALIZADA- O Centro de Valorização da Vida (CVV) presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo. Em Santos, onde o CVV fez mais de 16 mil atendimentos em 2013, o posto atende durante 24 horas, todos os dias, através dos tels. 141 ou 32344111. O CVV pode ser solicitado também pelo Skype/VOIP – cvvsantos e e-mail: [email protected].