Comportamento

Esquisitices no RG

29/08/2014
Esquisitices no RG | Jornal da Orla
por Mírian Ribeiro
 
Rhullyanny, Liynkon, Rhendrick, Nikison, Amora, Noah, Nyander, Tayller, Aimeê, Cristal. Difíceis de entender na primeira leitura, esses são alguns nomes de recém-nascidos registrados nos últimos meses em Santos. São mais de 600 registros feitos mensalmente pelos dois cartórios de registro civil da cidade e, embora minoria, a escolha de nomes exóticos ou de caligrafia estranha e excesso de “y”, “l”, “n”, “k” continua acontecendo, revelando que alguns pais preferem inventar moda em cima daquilo que já existe para que seu filho tenha um nome diferente, único, ainda que de gosto duvidoso.
 
“A gente procura aconselhar os pais a não darem nomes muito complicados ou estranhos, pois podem até no futuro induzir a erros em documentos, mas se eles insistem não podemos interferir, salvo se for expor a criança ao ridículo. Esses casos representam minoria, normalmente os pais optam por nomes comuns”, diz Evandro Costa Pereira, oficial substituto do 1º Subdistrito, o primeiro cartório de Santos, aberto desde 1895. Para a criança também pode complicar na hora de dizer ou até escrever o próprio nome.
 
A criatividade dos santistas, porém, é fichinha perto do que acontece pelo Brasil adentro. Basta uma rápida pesquisa na internet para descobrir aberrações do tipo Aeronauta Barata, Agrícola Beterraba Areia, Agrícola da Terra Fonseca, Alce Barbuda, Amado Amoroso, Amável Pinto, Chevrolet da Silva Ford, Ilegível Inilegível, Marciano Verdinho das Antenas Longas …
 
Inventados ou verdadeiros, esses “acessos de loucura” dos pais não são mais permitidos por lei. Caso o oficial de cartório pressinta que o nome pode expor a pessoa à gozação, situações constrangedoras e bullying, ele submete a questão ao juiz, que impede o registro. “Em meus 36 anos de profissão só lembro de um caso que o nome tinha uma conotação muito feminina. Daí o juiz determinou a colocação de um primeiro nome masculino bem conhecido para não haver problema”, lembra Aldir Pascoal Monte Bello, oficial do 2º subdistrito de Santos, aberto desde 1932. A lei possibilita também que a pessoa pleiteie a troca de nome quando completar a maioridade. A decisão será do juiz.
 
Apesar dos nomes estranhos, o que prevalece entre os mais novos santistas são nomes comuns, alguns modernos, outros antigos que retornaram à moda. Caso de Alice, Miguel, Davi, Heitor, Clara. Neymar, apesar do sucesso que faz entre as meninas e entre os fãs de futebol, não batizou nenhuma criança com a junção que originou seu nome. Já o nome do seu filho, Davi Lucca, continua aparecendo com muita frequência e algumas variações. 
 
Nomes e mais nomes
O 1º Subdistrito mantém equipes na Santa Casa, Hospital Ana Costa, São Lucas e Maternidade Silvério Fontes. O 2º Subdistrito faz o registro de crianças nascidas na Casa de Saúde e Hospital Guilherme Álvaro. Há também os pais que procuram diretamente os cartórios para providenciar o documento. Nem todos os bebês são de Santos, mas a lei permite o registro no local do nascimento.
 
Segundo Evandro Pereira, se a escolha de nomes estranhos reduziu bastante, a composição dos nomes de pai e mãe ainda acontece. Homenagem ao pai e ao avó também, com a colocação de Junior e Neto no final do nome, mas os tios parecem que foram esquecidos. “Incluir Sobrinho é raro nos dias de hoje”, cita Aldir Monte Bello.
 
Hoje também é menor o número de crianças sem o nome do pai no registro. Evandro acredita que isso se deve aos processos de investigação de paternidade. Nos casos de filho de relação homoafetiva, adotado ou por inseminação artificial, a criança recebe os dois nomes na filiação, sem distinguir gênero. Os avós aparecem no documento da mesma forma.

Mau gosto para uns, exotismo para outros

O que parece mau gosto em pessoas anônimas, é exotismo entre famosos. Um exemplo brasileiro são os herdeiros de Baby do Brasil e Pepeu Gómez: Sarah Sheeva, Pedro Baby, Krishna Baby, Kriptus Baby, Nana Shara e Zabelê. Na lista de nomes diferentes está também o filho de Marisa Monte: Mano Wladimir. Sem falar em Mirosmar e Emival Eterno, que depois se tornaram os famosos sertanejos Zezé Di Camargo e Leonardo.
 
O gosto duvidoso não é exclusividade dos brasileiros. A filha de Johnny Depp chama-se Lily-Rose Melody (em inglês, Melodia do Lírio Rosa). Já The Edge, o guitarrista do U2, deu à filha o nome de Blue Angel, que significa Anjo Azul. Mariah Carey  nomeou os filhos gêmeos de Maroccan (Marrocos em inglês) e Monroe (homenagem à Marlyn Monroe), enquanto o filho da atriz Alicia Silverstone chama-se Bear Blue (em inglês, urso azul).
 
Nomes da moda
O site BabyCenter Brasil fez um levantamento com os 100 nomes de meninos e meninas mais usados no País em 2013. Para elaborar o ranking, foram utilizados os 69.295 nomes de recém-nascidos cadastrados no site no ano passado. Entre os meninos, Miguel, Davi, Arthur, Gabriel e Pedro, nesta ordem, ocupam o topo da lista. Já para as meninas, Sophia foi o nome mais cotado, seguido por Julia, Alice, Manuela e Isabella. 

Os filhos da Copa

Se os brasileiros querem esquecer o vexame protagonizado por nossos jogadores, no Peru, país que sequer se classificou para a Copa do Mundo deste ano, houve uma enxurrada de homenagens a craques que brilharam no futebol. Neymar, apesar da atuação meia-boca, foi o mais lembrado pelos pais de 455 bebês batizados com o seu nome.
 
O segundo nome mais colocado nas crianças peruanas no período da Copa foi Lionel, em alusão a Messi -140 meninos foram registrados assim. Enquanto que 123 foram batizados como James, 41, como Cristiano, 23, como Ronaldo, 23, como Arjen e outros 23 como Robben.
 
O atleta colombiano James Rodríguez brilhou na Copa e nos registros civis de seu país. Segundo o Tabelionato Nacional do Estado Civil da Colômbia, 70 bebês foram registrados com o nome James durante a disputa do Mundial. E os nomes aparecem com as mais diferentes variantes, que vão desde James Faryd, em homenagem ao aposentado goleiro Faryd Mondragón (aos 43 anos se converteu no mais velho a disputar uma Copa) a James Neymar, em claro tributo ao craque brasileiro. Referências na seleção colombiana, Cuadrado, Jackson (Martínez) e até Radamel (Falcao, que não foi à Copa por estar lesionado) foram lembrados nas certidões.