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Cubatão é tema de mestrado para universitária brasileira no Canadá

25/08/2014
Cubatão é tema de mestrado para universitária brasileira no Canadá | Jornal da Orla
Cintia Gillam é paulistana de nascimento mas já vive há tanto tempo no Canadá que, constantemente, esquece algumas palavras do idioma natal e traz um sotaque peculiar no seu português. São quase 20 anos em terras estrangeiras. O plano, em 1998, era estudar inglês e francês; acabou construindo a vida pessoal e acadêmica em Halifax, capital da Nova Escócia, estado canadense.
 
Engenheira agrônoma formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, Cintia faz mestrado em Desenvolvimento Internacional pela Saint Mary University. Mas foi ao dar aulas de inglês e francês para crianças refugiadas de países como o Sudão, Líbano, Palestina e leste europeu, que teve o desejo de trabalhar com minorias. A ideia de pesquisar a sustentabilidade da pesca na Vila dos Pescadores, em Cubatão, veio há dois anos, quando visitou o Brasil, após o falecimento de seu pai. “Minha tia é coordenadora pedagógica da escola desse bairro cubatense e me falou sobre a situação desses trabalhadores, de quem vive nas palafitas e de como aquela comunidade é especial. Optei por pesquisar as técnicas de manejo que esses pescadores utilizam para viver do que retiram do rio e do manguezal”.
 
Na cidade há pouco mais de duas semanas, realiza pesquisa de campo, visitando o bairro e conhecendo de perto o dia a dia desses pescadores, cerca de 200 na colônia. A grande maioria, segundo a pesquisadora, é nordestina e veio para Cubatão ainda criança. Os que vivem em piores condições são os catadores de caranguejos. Ela conheceu o bairro, as palafitas, o mangue e a pesca no rio.
 
Cintia descobriu que muitos fatores têm afetado a sobrevivência desses trabalhadores, como o lixo e a dragagem do porto que diminui o número de animais no manguezal. “Já penso em modificar algo em minha pesquisa, pois pensava que a pesca no bairro era mais sustentável do que realmente é. O próximo passo, depois que eu for embora, é procurar bibliografia do porquê dessa pesca não ser suficientemente boa para essas pessoas”, explica.
 
A mestranda destaca que, apesar da situação difícil, os pescadores da Vila trabalham duro, amam o ofício que têm e sempre acham que a situação vai melhorar. Na próxima sexta-feira, Cintia leva a filha de 8 anos para conhecer o bairro, os moradores e os pescadores, e espera que a experiência modifique a vida da menina, como têm feito com a dela.
 
A tese precisa estar pronta em setembro de 2015 e Cintia conta que está sendo orientada por Tony Charles, uma sumidade quando o assunto é sustentaibilidade. Charles trabalha para a ONU, FAL e tem muitos contatos com o Banco Mundial de Desenvolvimento. Diz que ele ficou bastante animado em participar do estudo sobre Cubatão.
A vinda da pesquisadora à cidade mostra que, apesar de todo investimento e ações para modificar a visão ultrapassada da Cubatão poluída da década de 80, infelizmente, ainda há muita distorção lá fora. “As pessoas têm uma ideia errônea sobre o município. Cubatão não é poluição e não é apenas favela; as pessoas daqui são super solícitas e me receberam de braços abertos. A cidade é cheia de verde e de lugares bonitos, como a Serra do Mar”.
 
Cintia conta com patrocínio da Robin Rigby Trust, uma fundação canadense que investe em pesquisas sobre sustentabilidade e comunidades costeiras e ribeirinhas. Foi com essa verba que teve condições de vir ao Brasil e acompanhar tudo de perto. Ela fará um documentário sobre a Vila para apresentar à fundação e à banca examinadora.
 
Mais do que apenas constatar a problemática, a estudante deseja que sua pesquisa ajude a comunidade de alguma forma. Afirma que há falta de bibliografia sobre o assunto, e mesmo sobre a favela de mangue, não existem muitos dados disponíveis. Como a pesquisa será publicada em inglês, é uma maneira de mostrar ao mundo acadêmico estrangeiro, como é o meio de vida desses pescadores artesanais. “Não sei pescar, a única forma de ajudar é fazendo o que eu sei: escrevendo”, finaliza.