Paulistano do Bixiga, guitarrista autodidata, cantor e locutor publicitário, ALAOR COUTINHO esteve recentemente em Santos para apresentar o show “Quebra Vozes – o Ballet Vocal de Beto Hora e Alaor Coutinho” que, parodiando o ballet “Quebra-nozes” é um musical de imitações de artistas nacionais e internacionais consagrados. Nesta entrevista, fala sobre a parceria com Beto Hora, como se tornou imitador, por que abandonou a rádio e o papel de um artista na era da internet.
A parceria com Beto Hora dura mais de 20 anos. A que você atribui este sucesso?
O sucesso da parceria se deve principalmente à autocrítica e ao respeito mútuo. O resultado é um show equilibrado, que coloca a qualidade do show acima da personalidade de cada um.
Foram milhares de apresentações ao longo deste tempo. Como é a sua relação com ele?
Nosso respeito profissional se transformou numa amizade sólida, difícil de abalar. Mas é um exercício permanente de bom senso.
Você é guitarrista autodidata e cantor. Como a música entrou em sua vida?
Estou deixando de ser autodidata, ou seja, coloquei a preguiça de lado e estou estudando um pouco de música (risos)! Mas desde criança a música teve muita importância para mim. Eu não pretendia me tornar um profissional, mas a brincadeira ficou séria e segui carreira.
E como locutor publicitário, como tudo começou?
Eu gravava como cantor desde 1974, em jingles e discos. Mas, a partir de 1977, passei a trabalhar em rádio, num momento em que se iniciava a expansão das emissoras de FM, e quebrava-se o paradigma dos “vozeirões” para apresentadores. A escolaridade foi fundamental, pois tenho facilidade para idiomas, inclusive para o dificílimo português (risos), além de ter bom texto e facilidade de comunicação. A publicidade veio a reboque.
Quando percebeu que as suas imitações eram boas?
Uma voz chama a atenção, você tenta imitar. Quem ouve acha engraçado. Pronto! A partir daí, você passa a observar mais, vai tendo familiaridade com o registro e arrisca outras vozes. Sempre gostei de imitar os cantores.
Quem é mais fácil, e mais difícil de imitar?
Difíceis são as vozes que ficam fora da sua extensão vocal. Quanto mais naturalidade, melhor. Nunca tive problemas com isso, porque faço bom uso, sem agredir o personagem. O Beto idem.
Quem você gostaria de homenagear nestas imitações, e ainda não fez?
Gostaria de imitar o Gilberto Gil. Eu o considero o artista musical mais completo que conheci. Também não consegui imitar a Elis Regina e o Milton Nascimento. Seria maravilhoso incluí-los em meu repertório.
Existe algum limite para o humor?
Quando o humor é muito chulo, histriônico ou ofensivo, bullying, por exemplo, eu não aprecio. Esses são meus limites.
E sobre a sua carreira de radialista, sente saudade desse contato diário com o público?
O rádio foi uma excelente escola para mim. Adorava o contato com o público. Tenho ótimas lembranças. Mas estou fora há 25 anos, já me acostumei a ser ouvinte novamente. A música é minha prioridade.
Em seus programas de rádio, você se mostrou um profundo conhecedor musical. O que pensa sobre a atual safra da música brasileira?
Não sou um musicólogo, um especialista. O que sempre procurei foi conhecer melhor os artistas e canções dos quais eu gosto, e passar essas informações. No tempo em que eu atuava na produção de rádio não havia internet. Era preciso garimpar em revistas, jornais, informativos das gravadoras, capas e encartes dos discos. Muita gente ficou com a impressão de que eu sou um profundo conhecedor, mas não sou. Por exemplo, sei pouco sobre jazz e música erudita.
Você afirmou que, quando se sentiu cerceado, por vezes rotulado como “didático”, preferiu sair do ar. Explique.
Por vezes fui criticado por dar informações, como se isso fosse desnecessário. Nunca tive esse tom professoral, didático. As emissoras musicais tornaram-se “Jukeboxes”. Havia certa superficialidade. Entre outras coisas, isso me desestimulou a continuar no ar. Atualmente a mentalidade mudou bastante, talvez por vivermos esta era da informação.
Você utiliza o Facebook para se comunicar com o público e, também, para emitir opiniões. É muita exposição para uma figura pública?
Seja nas redes sociais ou não, você pode e deve expor e defender seus pontos de vista. Teoricamente, um artista é um formador de opinião, ou ao menos sua opinião fica mais exposta. Não me incomodo com a exposição, e nem quero posar de engajado. Nem sempre comento o que leio. Atualmente tenho notado um tremendo retrocesso na postura política. Com tanta facilidade para comunicação, sinto certo patrulhamento, informações truncadas, troca de ofensas.
O que pensa sobre a política?
Política no Brasil está parecendo enfrentamento de torcidas organizadas de futebol. Como defendo o parlamentarismo com voto não obrigatório, nada do que está colocado me agrada. Considero nosso sistema falido. Democracia não é ausência de ditadura. Portanto levo pancadas de todo mundo! Ainda bem que sei rir, inclusive de mim mesmo. Como dizem, sou responsável por aquilo que digo e escrevo, e não pelo que entendem.