Esportes

O mundo de chuteiras

20/06/2014
O mundo de chuteiras | Jornal da Orla
Quando John Lennon compôs “Imagine”, idealizou um mundo sem fronteiras, uma utopia que parece se materializar nestes dias de Copa do Mundo no Brasil. O campeonato ultrapassa as disputas no gramado e promove um espetáculo humano que emociona e encanta. Uma prova, para os céticos, de que o mundo não está perdido.
 
É uma mistura de etnias, idiomas, fantasias que se nota em cada cidade sede de jogo. Estão presentes os romanos, os astecas, os hermanos, os guerreiros africanos, os ordeiros asiáticos, mas na essência todos se mostram iguais na vontade de se alegrar, festejar e se integrar. Que poder é este que tem um campeonato de futebol, esta paixão que transborda muros e barreiras culturais? 
Não está em discussão o atraso de obras e o excesso de gastos, nem se o campeonato deixará o tão falado legado social para a população. Nem tampouco o ufanismo e o esquecimento dos problemas fora das quatro linhas durante esse período. O motivo do encantamento é a união de povos e a vibração do planeta em torno de uma paixão.
 
São demonstrações que provam a verdadeira vocação deste esporte, descrita no livro “Futebol ao sol e à sombra”, de Eduardo Galeano. Ao ver a integração continental nascer nas periferias, a partir do encontro entre imigrantes e nativos em torno do futebol, o escritor identificava uma nova linguagem que hoje atravessa as barreiras do padrão Fifa.
 
“O esperanto da bola unia os nativos pobres com os peões que tinham atravessado o mar vindos de Vigo, de Lisboa, Nápoles, Beirute ou da Bessarábia, e que sonhavam fazer a América levantando paredes, carregando caixotes, assando pão ou varrendo ruas. Linda viagem a que havia feito o futebol: tinha sido organizado nos colégios e universidades inglesas, e na América do Sul alegrava a vida de gente que nunca tinha pisado numa escola”.
 
Uma nação verde, amarela, vermelha, laranja, azul …
 
Todo início de partida, seja qual time esteja em campo, a cena se repete. Jogadores e torcidas inflam o peito para cantar os hinos de suas nações. Um orgulho também escancarado pelos brasileiros, que, se antes da Copa estavam tímidos ou até contrariados, agora cobrem o corpo, os carros, as casas e as ruas de verde e amarelo.
 
Torcedores de todo o mundo mostram que não deixam nada a dever aos brasileiros no quesito diversão. Nas arquibancadas e nas ruas o show é deles, seja com fantasias, caras pintadas ou coreografias. É um segundo carnaval, e desta vez de caráter universal.
 
Isso sem falar das demonstrações de civilidade de algumas torcidas, que devem ser tomadas de exemplo para os brasileiros. Caso dos holandeses, considerados muito educados, e dos japoneses, que recolhem o lixo das arquibancadas antes de deixar os estádios.