Na ocasião, haverá uma série de atrações que lembrarão esta significativa trajetória desde Cântico dos Cânticos, o primeiro filme exibido no cinema, em março de 1934.
O evento contará com a participação de artistas de renome nacional, representantes de distribuidoras, cineastas e parceiros, com presença confirmada do crítico Rubens Ewald Filho e do maestro Gilberto Mendes. Nos anos 80, o empresário dirigiu a clássica casa noturna Heavy Metal, que faria 30 anos em 2013, e foi responsável pelos primeiros e mais importantes shows do rock nacional na região, inclusive o último da banda Barão Vermelho, até então liderado pelo cantor Cazuza, ocorrido em Santos.
A que você atribui o sucesso do Roxy ao longo de 80 anos?
O Roxy foi o primeiro cinema no Gonzaga, quando todos, que hoje já estão extintos, eram no Centro. Passou por duas reformas grandes, a última em 2003. Além disso, hoje são quatro, em Santos (Roxy 5 e Iporanga 4), São Vicente (Brisamar 6) e Cubatão (Parque Anilinas 3).
Mesmo sendo outros tempos, com tanta pirataria e a comodidade de não sair de casa?
Mesmo assim. Hoje os filmes podem ser baixados pela internet, tem o pay-per-view em sistema on demand, que o consumidor pode escolher o filme, mas o cinema não vai perder o seu público cativo. As pessoas que valorizam a sétima arte vão continuar saindo de casa para frequentar o cinema. Em contrapartida, há investimentos sendo feitos. Estamos digitalizando e modernizando equipamentos para atrair ainda mais pessoas. Além disso, há toda a magia de ir ao cinema, as pessoas ainda vão pelo convívio social, porque querem ver gente com os mesmos gostos. O cinema tem a sua tribo!
Quais os maiores sucessos dos últimos tempos no Roxy?
Titanic, na época do Roxy antigo, foi estrondoso: lotou os 1400 lugares daquela sala grande. Outro, mais recente, foi Tropa de Elite 2, que lotou quatro salas.
Quais são seus gostos pessoais sobre cinema?
Meu filme preferido é Doutor Fantástico, de Stanley Kubrick. De 1964, que, na época, foi importante para entender algumas coisas da vida. Como personalidade do cinema, destaco o diretor José Padilha, que admiro bastante.
A que você credita a sobrevivência do Roxy ao longo de oito décadas?
O público santista tem o hábito de ir ao cinema. Assistir no Cine Roxy é algo natural, porque este cinema já faz parte da história da cidade e do cotidiano dos santistas.
O que o público pode esperar de novidades ao longo deste ano?
Estamos comprando projetores digitais de 4K, o dobro das telas atuais, e telas pratas, com mais luminosidade, o que resultará em ainda mais resolução para as telas grandes. Já estamos cotando o novo sistema 3D, que estreia em abril nos Estados Unidos, que tem mais profundidade e é uma verdadeira revolução em como as pessoas assistirão aos filmes. A previsão, se tudo der certo, é que chegue para cá em junho.
Pode nos contar os bastidores do show que marcou a saída de Cazuza do Barão Vermelho?
Eu estava com 3500 ingressos vendidos, e o empresário da banda ligou para avisar que o grupo tinha acabado. Fiz um escândalo, eu gritava de um lado, ele do outro, mas não tinha jeito. Ele ofereceu a banda para ir sozinha, sem Cazuza, mas daria confusão do mesmo jeito. Propus convencer o Cazuza a vir, e fui para o Rio de avião. Chegando lá, liguei para o Frejat, que me devia favores, pois trazia os shows deles para cá, e “colei” no Cazuza. Insisti, e ele topou vir, se eu organizasse o primeiro show solo dele, o que cumpri. Eles vieram, pela ponte aérea. Chegando lá, a banda veio de ônibus e o Cazuza foi comigo de carro. O clima dos bastidores, no show, era bem ruim. Cazuza saiu do palco e Frejat anunciou o fim da formação, e que o Barão Vermelho continuaria. O clima ruim dos bastidores foi para o lado de fora do palco, foi “pau” pra tudo que é lado. Os seguranças, naquele dia, trabalharam muito (risos).
Você ficou um longo tempo ao lado de Cazuza, na estrada até Santos. Que impressão teve dele?
O Cazuza era gente boa, um cara legal. Alguém com aquela cabeça, com aquele raciocínio de criar músicas que são atuais até hoje, não poderia ser diferente. Ele gostava de garotos e garotas, era um rapaz de seu tempo que foi pego de surpresa e, infelizmente, partiu cedo.
E da Heavy Metal, a emblemática casa noturna que até hoje não é esquecida?
Muitas bandas que hoje são conhecidas nacionalmente, como a Barão Vermelho no primeiro show em Santos, Lobão, Ultraje a Rigor, e Titãs, que ainda eram Titãs do Iê, Iê, Iê, se apresentaram lá. Os Titãs, por exemplo, iriam se apresentar numa festa do ex-colunista social João Carlos Moraes Camargo. Como a decoração era de sucata, um amigo acabou se machucando. A banda estava lá e foi acudir, mas este homem começou a bater em todos eles. Até hoje eu rio com isso… e eles ainda lembram!