O mar pela primeira vez
Quem passa pela casa em estilo colonial, em frente ao mar, entre os canais 4 e 5, não imagina quantas alegrias o local já proporcionou. O fundador, Américo Ribeiro dos Santos, batizou o lugar em homenagem à sua mãe e o transformou em uma instituição sem fins lucrativos que traz crianças do interior do Brasil para Santos para conhecer o mar. A ideia surgiu em suas viagens ao interior, ao perceber que muitas pessoas não haviam tido a oportunidade de conhecer a praia. A Casa da Vovó Anita já recebeu mais de 55 mil crianças, vindas de escolas públicas ou instituições carentes, para passar 15 dias no Litoral. A instituição oferece acomodação e alimentação sem custo algum, a não ser o sorriso das crianças.
O esporte nasceu na praia do Gonzaga, em 1937. Os irmãos italianos Joseph e Luigi Donadelli, radicados em Santos desde 1911, batiam em uma bola de borracha maciça, com um instrumento parecido com um pandeiro, arremessando-a um ao outro, em distância de, aproximadamente, 80 metros. Não havia delimitação de campo ou presença de rede. O objeto tinha de 35 a 40 centímetros de diâmetro, era feito de madeira e tampo de couro de cabra. Esta diversão era chamada de “tamburello”, palavra originada de ‘tambor, em italiano. A prática lembrava uma atividade italiana em que grupos de pessoas, cada qual com um pandeiro, procuravam arremessar uma bolinha o mais longe possível, sem deixá-la cair no chão. Foi em Santos que surgiram as marcações na areia. O primeiro clube praticante do Tamboréu em nossas praias foi o Grupo dos Graussás, fundado em 1936.
Não há maior estrela no Orquidário Municipal de Santos que o pavão que anda solto pelo parque. Com suas penas multicoloridas e andar imponente, o animal chama a atenção de quem visita o parque zoobotânico, que também conta com animais silvestres (alguns raros e até mesmo ameaçados de extinção), como macacos-aranha, micos-leões-dourados e guarás. Além da coleção com centenas de orquídeas que se encontram em uma estufa dentro do parque, os visitantes podem apreciar mais de 1.500 espécies de árvores, entre elas o ipê-roxo e o pau-brasil.
Em 2002, a equipe do Livro dos Recordes (Guiness Book of Records) confirmou que os jardins da praia de Santos são os jardins de maior extensão em todo o mundo. Detalhe que causa certa confusão é a diferença entre a extensão das praias e a dos jardins: embora existam sete quilômetros de praia contínua, a extensão dos jardins é de “apenas” 5.335 metros, totalizando 218,8 mil m². No livro ‘Poliantéia Santista’, o pesquisador Fernando Martins Lichti conta como a criação dos jardins evitou inclusive que toda essa faixa de terreno fosse ocupada por um segundo paredão de prédios particulares, a exemplo do que chegou a ocorrer próximo à divisa com São Vicente, no José Menino. O ponto alto da urbanização e ajardinamento de Santos é os jardins da praia (José Menino, Gonzaga, Boqueirão, Embaré e Ponta da Praia), que formam um conjunto florístico de mais de sete quilômetros de extensão, com a média de 60 metros de largura, verdadeiramente incomparável.
Na época do prefeito Aristides Bastos Machado, exatamente no dia 12 de maio de 1932, foram inaugurados os seis Postos de Salvamento. Hoje, com o tombamento do jardim da orla da praia de Santos pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Cultural (Condephaat), esses postos estão preservados e alguns ganharam novas utilizações, como a primeira escola de surfe do Brasil, no Posto 2, o Laboratório de Controle Ambiental, no Posto 3, o Cine Arte, no Posto 4, a Gibiteca Municipal, no 5 e a Biblioteca Municipal Mário Faria, no Posto 6. Em 2011, o sétimo posto de salvamento foi construído na Ponta da Praia.
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Não há melhor maneira de se localizar em Santos do que através dos famosos canais que atravessam a cidade. Os sete principais canais, que desembocam diretamente na praia, se transformaram em pontos de referência, ainda mais do que a localização dos bairros que os cercam. Desenvolvidos a partir de 1905 pelo engenheiro sanitarista Saturnino de Brito, os canais possibilitaram o saneamento básico e escoamento da cidade, separando a água dos rios e córregos das de esgoto. A criação foi decisiva para a diminuição da insalubridade que havia na cidade na época, que possuía números alarmantes de morte por febre amarela.
Sentar nas estátuas do famoso casal de leões da praia – e até tirar foto com eles – é um hábito dos santistas que vem passando de geração em geração. O imponente leão, construído em concreto e pintado de branco, foi encomendado pela Prefeitura em 1940 e criado pelo escultor espanhol Sigismundo Fernandes, proprietário da empresa de esculturas Labor. Já a segunda estátua, não se trata de uma leoa, como muitos pensam, mas sim de um jaguar, que foi produzido pelos alunos do curso de Artes Plásticas do Instituto Escolástica Rosa.
Para quem vem de fora, a visão é de assustar. Os prédios tortos da orla tornaram-se marca registrada da cidade -há quem os compare à Torre de Pisa, na Itália. Segundo a Prefeitura, são 651 edifícios inclinados, sendo que 65 deles passaram do nível de inclinação aceitável exigido pela ABNT. Esta inclinação se deve ao fato de o solo santista ser instável e as fundações dos edifícios serem curtas, ou seja, terem menos de dez metros de profundidade.
Em épocas em que não havia GPS e os instrumentos de navegação eram muito mais rudimentares, os três faróis da praia foram muito importantes para o maior Porto da América Latina. Os dois que ficam na praia (um em frente à Pinacoteca e o outro no Canal 6) eram alinhados ao antigo farol na entrada do canal do porto, no mar, e eram responsáveis por informar aos práticos a correta posição de acesso das embarcações no Canal do Estuário. Em 2009, a Capitania dos Portos optou pela demolição do farol que se encontrava no mar, alegando que ele estava a ponto de ruir e que havia sistema mais moderno para suprir a sua ausência.
O mar tranquilo e a areia batida fazem dos sete quilômetros de faixa de areia o local ideal para andar. De manhãzinha e nos fins de tarde, vê-se uma verdadeira procissão de caminhantes. Hábito de santistas de todas as idades, a atividade faz bem ao corpo e, principalmente, à alma.
Um turista que queira comer um pãozinho em Santos terá que aprender que pão francês e pão de leite possuem nomes próprios na cidade. O pão de leite ou pão de cará, como é chamado pelos santistas, não é feito de cará há muito tempo, pois o ingrediente ficou caro e, consequentemente, saiu da receita, mas o nome permaneceu. O pão francês tem um nome para cada região: filão, em Ribeirão Preto, pãozinho, na Grande São Paulo, carioquinha, no Ceará, cacetinho, no Rio Grande do Sul, pão de trigo, em Santa Catarina, pão Jacó, em Sergipe, pão massa grossa, no Maranhão e pão careca, no Pará. Naturalmente, Santos não ficou atrás e também batizou o pão mais consumido do Brasil, como média. Na cidade, pedir “três médias” quer dizer “três pães franceses” – o que pode causar uma situação embaraçosa se esse pedido for feito em São Paulo, uma vez que o balconista colocará três copos de café com leite na sua frente, pingado, no linguajar dos caiçaras santistas.