A notícia veio rápida na noite de sábado. Estava num barzinho ouvindo a boa música da cantora Débora Tarquínio e do guitarrista Edinho Godoy, ao lado de queridos amigos. De repente, o meu celular toca e, do outro lado, o meu caro amigo Ademir Soares, me informa a triste notícia. Tudo parou. O tempo parou por alguns segundos e a emoção logo aflorou. Não queria interromper a segunda entrada dos músicos, mas não houve jeito e a música também parou.
Foi assim que recebi a triste notícia do falecimento do incrível cantor Celso Lago, uma figura doce, leve, que sempre carregava no rosto um sorriso meigo e cativante.
É impossível não registrar que ele era uma figura muito querida por todos e uma das pessoas mais simples e generosas que conheci.
Imediatamente comecei a lembrar das minhas passagens musicais com ele. Ao lado do próprio Ademir Soares, tinha um projeto de gravar o primeiro CD dele, que na época, ainda não havia acontecido. E achava estranho que um cantor daquele nível ainda não tivesse um registro próprio. Não conseguimos realizar o projeto, pois sempre uma coisa ou outra desviava o caminho.
Depois, me lembrei dos projetos no restaurante do WTC no centro, com “jam sessions” nas noites de quarta e depois uma temporada de 3 meses no restaurante Catalina. Sem falar no show memorável do Projeto Jazz, Bossa & Blues, que reuniu ele, o pianista, compositor, arranjador e maestro Gilson Peranzzetta e a cantora Nadja no Teatro do Sesc. Lembranças inesquecíveis.
Viemos a nos encontrar também na saudosa e marcante Rádio Litoral FM – 91,9 MHz, quando ele assumiu por algum tempo a programação musical da rádio, sempre com muita competência e estilo apurado.
E a última vez que estive com ele foi no casamento da minha sobrinha Rafaella Laranja que, ao lado do marido Fábio, ganhou, como grande presente, a emocionante interpretação do tema “Sorriso de Luz”, composição iluminada de Gilson Peranzzetta e Nelson Wellington, que na sua voz ganhou para mim, a versão definitiva. E olha que a primeira versão desta música foi interpretada simplesmente por Djavan e mais recentemente ganhou outra versão do conjunto vocal Os Cariocas, graças a um pedido especial da minha querida amiga Herlinha Gomes. A versão de Celso Lago é absurda e eterna. Esta música embalou as histórias de amor de muitos casais apaixonados. E faz parte da trilha sonora da minha vida.
Celso Lago, obrigado por tudo e por nos deixar, como grande marca, a sua alma e voz iluminadas. Um beijo no seu coração gigante.
Joyce & Toninho Horta – “Sem Você”
Curiosamente este CD tributo a Antonio Carlos Jobim foi lançado em 1995, apenas para o mercado japonês. Os japoneses tiveram a sorte e o privilégio de conhecer, primeiro, uma das mais perfeitas reuniões musicais que já pude ouvir.
Somente em 2007 o selo Biscoito Fino relançou aqui no Brasil o CD “Sem Você”, duo de voz e violão de Joyce e Toninho Horta. Antes tarde do que nunca.
Um trabalho inspirado e emocional que nasceu por acaso no meio de uma temporada de shows que a dupla realizava na sucursal japonesa do Blue Note, em Tóquio. Sentiram a “química” para a gravação quando o show se tornava mais intimista, bem na hora que os outros músicos que os acompanhavam saíam do palco, e o repertório escolhido por eles, coincidentemente, era sempre de Tom Jobim. Naturalmente surgiu a ideia de gravarem uma homenagem ao querido maestro, verdadeira referência musical para ambos. E fizeram isso em apenas uma noite.
O violão mágico do mineiro de Belo Horizonte, Toninho Horta, se encontrou perfeitamente com a voz e com os belos improvisos da cantora carioca Joyce. Impressionante ouvir e sentir a grande afinidade e cumplicidade atingida nas gravações.
Destaco os temas: “Ligia”, “Vivo Sonhando”, Só Danço Samba”, “Outra Vez” e as minhas preferidas “Este Seu Olhar/Só Em Teus Braços” e “Ela é Carioca – Take 2”, uma verdadeira apoteose repleta de improvisos. Nota dez em todos os quesitos.
Jane Duboc & Victor Biglione – “Tributo a Ella Fitzgerald”
O CD “Tributo a Ella Fitzgerald”, lançado em 2009 pelo selo Rob Digital, é uma homenagem cheia de Bossa Nova a uma das maiores cantoras da história do Jazz.
Reuniu a voz suave e marcante da cantora paraense Jane Duboc com a guitarra surpreendente do argentino/ brasileiro Victor Biglione. O resultado não poderia ser outro: perfeição nas doze faixas.
Novos arranjos e interpretações, com tempero bem “bossanovista”, deram o toque especial e arrojado ao trabalho que contou, também, com as participações especiais do pianista Marco Tommaso, do contrabaixista Sérgio Barroso, do baterista André Tandeta e do percussionista Pantico Rocha.
O CD foi lançado depois do sucesso do espetáculo “Dear Ella”, que ambos participaram em 2006 no Rio de Janeiro.
O repertório cuidadosamente escolhido pela dupla surpreende com algumas interpretações muito marcantes.
Meus destaques: “Night And Day”, “Stormy Weather” numa versão bem movimentada, a bela balada em tom intimista “Here Is That Rainy Day” e os medleys: “Autumn In New York/April In Paris/ A Foggy Day” e “Embraceable You/How Long Has This Been Going On/Love Is Here To Stay”, parecendo que foram gravadas como uma única música. Um tributo elegante que reuniu dois grandes artistas e que superaram todas as expectativas. Simplesmente demais.