No domingo passado, nosso país viveu momentos com alguns contornos das finais de Copa do Mundo. Famílias e amigos se reuniram defronte das televisões, em suas casas ou em vários telões espalhados em restaurantes e locais de encontro.
Os votos contrários ou a favor, da autorização para os procedimentos do impeachment da presidente Dilma, eram comemorados, comentados, contestados e analisados, com grandes compaixões, mais comuns no mundo futebolístico do que nas tradições políticas brasileiras.
As imagens televisivas não apresentavam o tradicional gramado verde, pois o palco das disputas estava presente no Plenário da Câmara dos Deputados em Brasília.
Justamente por esta característica, no lugar das torcidas unidas, sempre emoldurados pelas cores nacionais, do verde e amarelo, nas ruas das cidades quando acompanham finais da copa do mundo, pudemos acompanhar as torcidas divididas, com cores diferentes, muitas vezes raivosas, demonstrando a grave ruptura na sociedade brasileira.
Um dos resultados deste atual ambiente de instabilidades políticas atingiu o segmento portuário e, portanto, com reflexos nas cidades portuárias, como a nossa querida Santos.
O ministro dos Portos, Helder Barbalho, se retirou do Governo.
Os votos, de sua mãe e esposa, contrários ao processo de impeachment, geraram um ambiente desconfortável para o então ministro Helder, dentro de seu partido político, o PMDB, exigindo que o mesmo entregasse o cargo e se retirasse do governo e buscasse a reconciliação partidária.
Com a mudança do titular do Ministério de Portos (o ex-secretário do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Maurício Muniz Barreto de Carvalho, foi nomeado na sexta-feira), de imediato o sistema portuário nacional encetou debates, sobre como ficariam os planos e os programas em andamento nos portos e, portanto, nas cidades portuárias.
As licitações para arrendamentos nos portos serão efetivadas? As obras previstas serão efetivamente realizadas? A Avenida Perimetral entre a Bacia do Macuco e a Ponta da Praia, em nossa cidade portuária, será iniciada? Os planos serão finalizados? Ou os planos serão paralisados ou totalmente revistos?
Estas dúvidas demonstram como nosso país precisa separar os Planos de Governo dos Planos de Estado.
As questões estratégicas e relativas à infraestrutura, fundamentais para a competitividade do país, em especial os temas envolvidos com o sistema portuário nacional, devem estar inseridos em Planos de Estado e não apenas em Planos de Governo.
Os Planos de Estado são perenes e continuam presentes e obrigatórios, independentemente de quem esteja no Governo. Os Planos de Estado não podem ser alterados por correntes ideológicas ou partidárias.
Enquanto os Planos de Governo podem flutuar segundo as visões personalistas ou ideológicas dos governantes, os Planos de Estado devem ser sempre respeitados pelos governantes, que devem dar continuidade ao que a nação brasileira decidiu.
Infelizmente, ainda não faz parte da cultura da sociedade brasileira a separação e identificação dos temas que estão inseridos nos Planos de Estado.
Grande parcela da sociedade brasileira, equivocadamente, ainda tolera que os governantes tenham o suposto direito de interromper ou alterar os planos e as atividades em andamento.
Os governantes devem ser obrigados a dar continuidade aos Planos de Estado. Precisamos lutar para que questões estratégicas, como o sistema portuário, estejam em Planos de Estado, impedindo que sejam tratados como meros Planos de Governo.
Somente assim garantiremos a continuidade das atividades, mesmo quando as estruturas governamentais são alteradas. Com os portos inseridos nos Planos de Estado, não nos preocuparemos se o ministro saiu ou ficou. Isto interessa ao país e apresenta-se como desafio e oportunidade de luta de nossa cidade.