Impossível não se emocionar ao ouvir a trilha sonora jazzística composta por Leandro “Gato” Barbieri, em 1972, para o filme “O Último Tango em Paris”, clássico de Bernardo Bertolucci, que teve Marlon Brando e Maria Schneider nos papéis principais.
Foi um dos grandes momentos musicais deste músico argentino, nascido na bela cidade de Rosário, e que desde os 12 anos de idade se dedicou integralmente à música. Ele nos deixou no último dia 2 de abril em NovaYork.
A decisão pela música foi inspirada depois que ele ouviu o clássico “Now’s The Time”, do também gigante Charlie “Bird” Parker. Primeiro com a clarineta e, aos 18 anos, quando se mudou para Buenos Aires, assumiu o saxofone.
Foram mais de 50 anos de carreira, mais de 35 álbuns e 2 prêmios Grammy, um pela magnífica trilha sonora do filme “O Último Tango em Paris”, que o projetou internacionalmente e outro pelo conjunto da sua obra musical.
E poucos sabem que a referida trilha havia sido encomendada a Astor Piazzolla, que atrasou na entrega do material. Desta forma, Bertolucci acionou Barbieri que nos presenteou com esta obra-prima. Coisas da vida.
Curiosamente, o apelido “Gato” lhe foi dado na década de 50, quando ainda morava em Buenos Aires e pulava de clube em clube de Jazz rapidamente para tocar várias vezes numa mesma noite.
Sua passagem pela Orquestra de Lalo Schifrin foi decisiva em sua carreira para projetar seu trabalho fora da Argentina e, na década de 60, viveu alguns meses no Brasil e depois entre as cidades de Roma e Nova York, onde se fixou na década de 70.
Seu fraseado inconfundível carregava a herança latina do Tango com o improviso do Jazz, numa mistura passional perfeita que deu destaque ao seu trabalho musical.
Frequentou as escolas do Free Jazz, do Jazz Latino e mais recentemente a do Smooth Jazz, e teve, nas décadas de 60 e 70, o auge da sua carreira.
Sua última apresentação em público foi em Nova York no lendário clube Blue Note em 23 de novembro de 2015. E, neste palco, se apresentava regularmente todos os meses. Desde a sua estreia por lá, que ocorreu no ano de 1985.
Outro momento marcante para mim, na sua carreira, foi o lançamento do disco “Caliente”, no ano de 1976, pelo selo A&M Records com 9 faixas. Uma delas, “Europa” (Earth’s Cry Heaven’s Smile), composição de Carlos Santana, eu considero como uma das gravações mais bonitas que já ouvi.
Ele faz parte de uma lista dos maiores nomes da música argentina e figura ao lado de Astor Piazzolla, Mercedes Sosa, Lalo Schifrin e Carlos Gardel.
Tocou ao lado dos grandes nomes do Jazz, como Don Cherry, Cecil Taylor, Charlie Haden, Pharoah Sanders e Ron Carter.
Sua mulher atual, Laura, disse ao New York Times: “A música era um mistério para Gato e, a cada vez que tocava, era uma nova experiência para ele, e era assim que queria que fosse também para a audiência. Foi para ele uma honra poder, durante todos esses anos, levar a sua música a todo o mundo”.
Até breve Gato Barbieri. Tiro o chapéu para seu som, que também é eterno.
“Charlie Parker With Strings”
O saxofonista Charlie “Bird” Parker é uma das lendas mais importantes da história do Jazz.
Sua música é, até os dias atuais, referência sob todos os aspectos. Revolucionou a sonoridade do seu instrumento e ele pode ser considerado como o maior mestre na arte do improviso.
Particularmente, gosto muito da sua fase mais melódica e por esta razão resolvi falar um pouco sobre o CD “The Master Takes”, lançado em 1995, pelo Selo Verve e que reuniu, sob a supervisão do produtor Norman Granz, suas gravações antológicas, ao lado de uma orquestra de cordas, feitas entre os anos de 1947-1952. Um trabalho primoroso e indispensável.
No total são 24 músicas, com destaque para os temas: “Just Friends”, “Laura”, “Dancing In The Dark”, “Autumn In New York”, “Stella By Starlight” entre outros preciosos registros.
Destaque também para seus cúmplices Ray Brown, no contrabaixo, Buddy Rich na bateria e Stan Freeman e Bernie Leighton no piano, além de uma super e afinada orquestra de cordas conduzidas por Jimmy Carrol e Joe Lipman.
Não deixe de ouvir essas gravações marcantes deste músico que teve uma vida meteórica e conturbada de apenas 35 anos.
Só fico imaginando se ele tivesse vivido por mais tempo, o quanto que ele ainda teria produzido e principalmente surpreendido musicalmente a todos nós.
Coisas que só acontecem com os gênios. E Charlie Parker é, sem dúvida, um deles.
Dave Brubeck – “Time Out”
Este disco do pianista Dave Brubeck também é considerado como um dos discos de Jazz mais importantes de todos os tempos.
Brinco ao dizer que o tema “Take Five”, de autoria do saxofonista Paul Desmond, se tornou um verdadeiro hino do Jazz.
E, graças a esta gravação, transformou o quarteto de Dave Brubeck em campeão absoluto de vendas na época.
Foi lançado no ano de 1959 pelo Selo Columbia/Legacy e gravado no mítico estúdio montado dentro de uma antiga igreja na Rua 30 em Nova York e por onde também passaram Miles Davis e Charles Mingus.
O genial Paul Desmond no sax alto, Eugene Wright no contrabaixo e Joe Morello fizeram parte desta formação que também virou referência de sonoridade.
E, depois de tanto tempo, é curioso lembrar que este disco quase não foi lançado na época.
Chegou às lojas contra a vontade de quase todos os executivos da gravadora. Tinha tudo para dar errado segundo eles: uma sonoridade diferente, uma capa também pouco usual e todas as sete faixas eram de autorais, sem nenhum standard conhecido.
Todos se enganaram redondamente, pois o público já estava preparado para receber aquela nova forma de tocar e se transformou em recordista de vendas.
Curiosamente, a inspiração musical de Brubeck, para a sonoridade do disco, veio da fazenda onde vivia e onde observava o trote do cavalo, que marcava o compasso, e o vento vindo ao encontro do seu rosto. E, o contraponto a este movimento, o som. Simples assim. Genial, como Dave Brubeck.
Já se passaram 57 anos de seu lançamento e, até os dias de hoje, é um disco cultuado e admirado em todas as partes do planeta.