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A Bossa Nova no Carnegie Hall 1962 – 2016

19/03/2016
A Bossa Nova no Carnegie Hall 1962 – 2016 | Jornal da Orla
Na noite de 21 de novembro de 1962, uma quarta-feira chuvosa, a Bossa Nova viveu um dos capítulos mais importantes da sua existência. Mudaria o rumo da sua história e dos seus principais protagonistas.
 
Era a noite da Bossa Nova para os americanos verem e ouvirem ao vivo e em cores, num dos seus maiores templos culturais dos Estados Unidos: o Carnegie Hall, de Nova York.
 
Aconteceu graças ao empenho da gravadora americana Audio Fidelity e do governo brasileiro, através do Itamaraty, e o show foi cercado de muitas polêmicas e incertezas. 
 
A apresentação começou a ser organizada muitos meses antes daquela noite, quando o executivo da gravadora Audio Fidelity, Sidney Frey, veio ao Brasil e conheceu pessoalmente o famoso Beco das Garrafas e os principais artistas que por lá se apresentavam.
 
A sua pretensão inicial previa apenas a apresentação de Tom Jobim e João Gilberto. Depois mudou de ideia e reuniu um time bem diversificado. 
 
Os músicos brasileiros, que se apresentaram, eram bastante jovens e para lá foram Antonio Carlos Jobim, João Gilberto, Luiz Bonfá (os únicos que já tinham algum prestígio) e mais Oscar Castro Neves, Sérgio Mendes, Roberto Menescal, Carlos Lyra, Chico Feitosa, Milton Banana, Sérgio Ricardo, Normando Santos, Dom Um Romão,  Agostinho dos Santos e outros nomes desconhecidos.
Na plateia lotada por mais de três mil pessoas, alguns nomes da primeira linha do Jazz: o cantor Tony Bennett, os trompetistas Dizzy Gillespie e Miles Davis, os saxofonistas Gerry Mulligan e Cannonball Adderley, o flautista Herbie Mann, o The Modern Jazz Quartet. E muitos deles, inclusive, foram recepcionar o time de músicos brasileiros no aeroporto quando eles chegaram a solo americano. E uma grande prova de que a Bossa Nova influenciou o Jazz e vice-versa. A primeira consequência imediata deste show foi o fato de muitos destes músicos americanos gravarem o repertório da Bossa Nova, e isso serviu para que o gênero ganhasse o mundo e rompesse as suas fronteiras territoriais.  A segunda, e mais marcante, determinou que alguns dos músicos brasileiros trocassem o Brasil pelos Estados Unidos. Oscar Castro Neves, Sérgio Mendes e Tom Jobim e João Gilberto abriram mercado por lá imediatamente depois daquela apresentação.
 
A partir daquela noite, em 1962, a Bossa Nova não foi mais a mesma. E não poderia ser diferente. 
 
Depois de 54 anos, mais precisamente no dia 15 de novembro de 2016, o mesmo templo sagrado do Carnegie Hall está reservado para uma reedição daquela noite memorável.
 
Já está confirmada a presença de Roberto Menescal, Carlos, Lyra, Marcos Valle, João Donato, Wanda Sá, Joyce Moreno, Celso Fonseca, Leila Pinheiro, Bebel Gilberto, Lisa Ono, Fernanda Takai, Luiz Pié, Maria Gadú, Stacey Kent entre outros grandes nomes que estão sendo negociados.
 
Reviver este grande momento musical em 2016 é um reforço necessário. Atualmente a Bossa Nova é um estilo, um gênero, um ritmo, um movimento que está presente em todas as partes do planeta, revigorado e sempre atualizado.
 
Wanda Sá – “Ao Vivo”
Em grande estilo e recebendo vários convidados especiais, a cantora e violonista Wanda Sá marcou os 50 anos de carreira, gravando ao vivo no Espaço Tom Jobim, localizado no belo Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, um DVD (com 15 faixas) e CD (com 11 faixas), ambos contendo 3 faixas bônus, lançados no final do ano de 2014 pelo selo Biscoito Fino.
 
Considerada como uma das pioneiras da Bossa Nova, ela acompanha o movimento desde o seu início, quando tinha apenas 16 anos. Primeiro, como fã de carteirinha dos primeiros encontros e shows, e anos depois, como uma de suas principais protagonistas. Foi aluna e depois professora da famosa Academia de Violão de Roberto Menescal e Carlos Lyra, seus grandes mestres e padrinhos musicais.
 
Seu disco de estreia “Wanda Vagamente” (1964) é uma referência marcante até os dias de hoje, nos quesitos estética (a capa do disco é sensacional,  tem a cara e a alma da Bossa Nova) e também no musical.
 
Os convidados para esta noite de gala são muito especiais: Carlos Lyra, Marcos Valle, João Donato (outro grande mestre para ela), Dori Caymmi e a cantora americana Jane Monheit. A única ausência sentida e justificada foi a de Roberto Menescal que, no dia da gravação do show, estava nos Estados Unidos, recebendo, em Las Vegas, o prêmio Grammy Latino.
 
Dona de uma voz maravilhosa e uma levada no violão apaixonante, Wanda Sá mostra vigor e sentimento nas suas interpretações, no repertório muito bem equilibrado, que prestigia vários compositores importantes da Bossa Nova, que não foram tão festejados.
 
A banda base foi formada por Adriano Souza no piano, Dôdo Ferreira no contrabaixo e o incrível João Cortez na bateria. E as participações especiais de Marcelo Martins no saxofone, Jessé Sadoc no trompete e, nas faixas bônus de Ricardo Silveira na guitarra e Jefferson Escowich no contrabaixo e Jurim Moreira na bateria.
 
Destaques para “Água de Beber”, “Samba de Uma Nota Só”, “Ciúme”, “A Rã”, “Novo Acorde” e as minhas preferidas “E Nada Mais”, “Vagamente”, “Minha Saudade/Bim Bom”, “O Que É Amar” e “Caminhos Cruzados”.
 
Outra grande obra musical desta paulista batizada e convertida a carioca. Entre escolher o formato DVD ou CD, não tenha dúvida, fique com os 2 formatos.
Um banquinho, um violão, Wanda Sá e a Bossa Nova no coração. Viva !!!
 
Osmar Milito Trio – “Samba Jazz”
O pianista paulista, radicado no Rio de Janeiro desde o início da Bossa Nova, é oriundo do mítico Beco das Garrafas e um dos grandes representantes do “Samba Jazz” da atualidade. E este belíssimo trabalho do ano de 2010, lançado de forma independente, visita as composições de Pacífico Mascarenhas, compositor bossanovista mineiro.
 
O compositor homenageado já teve alguns CDs gravados por artistas diferentes em várias formações, que valorizam a sua obra musical.
 
Ao todo são 24 faixas, que contaram com a participação de Augusto Mattoso no contrabaixo e Rafael Barata na bateria, dois talentosos músicos da nova geração, que acompanham o pianista há algum tempo.
 
A integração do trio é fantástica e é fruto de uma intensa afinidade musical e da imensa admiração de todos, pela linguagem universal do Jazz e da Bossa Nova.
Osmar Milito, pianista, maestro, compositor e arranjador, acompanhou Sylvinha Telles, Leny Andrade, Nara Leão, Paulo Moura, Vinícius de Moraes, Elis Regina, Pery Ribeiro, Sérgio Mendes entre tantos outros importantes nomes.
 
Atualmente está em temporada prolongada no mezanino do bar do Hotel Novo Mundo, na cidade do Rio de Janeiro, localizado na Praia do Flamengo, sempre com apresentações muito concorridas e onde podemos conferir, ao vivo, seus costumeiros inspirados improvisos.
 
Seu irmão Hélcio Milito, falecido em 2014, foi o baterista e percussionista do Tamba Trio, um dos grandes nomes da Bossa Nova. Destaco os temas “Amo Você”, “Foi Assim”, “O Jogo”, “Começou de Brincadeira”, “O Vento Que Soprou”, “Minha Ex-Namorada”, “Bem-Vindo ao Rio”, “Praça Savassi” e “Belo Horizonte Que Eu Gosto”.
 
Achei por acaso este CD, em minha última passagem pela cidade do Rio de Janeiro, na Livraria da Travessa, espaço cultural de visita obrigatória no Shopping Leblon, principalmente para aqueles que amam a música e uma boa leitura. Lá você poderá encontrar, com absoluta certeza, verdadeiras raridades.