O encontro do pianista Bill Charlap com o lendário cantor Tony Bennett, gravando exclusivamente 14 canções do premiado compositor americano Jerome Kern, que escreveu mais de 700 músicas e mais de 100 trilhas para filmes de Hollywood e espetáculos da Broadway, rendeu à dupla o cobiçado prêmio Grammy 2016, curiosamente na categoria “Traditional Pop Vocal Album”.
O disco, que é precioso e intimista do início ao fim, contou também com as participações muito especiais da esposa de Bill Charlap, a também pianista canadense Renee Rosnes, o contrabaixista Peter Washington e o baterista Kenny Washington, time de primeira.
Vale destacar a longevidade da carreira de Bennett, que em 2016 completa 90 anos de vida, em plena forma e com absoluta disposição, demonstrando que a música lhe faz muito bem e que não existem limites quando fazemos o que verdadeiramente amamos.
Fica registrado, para as gerações mais novas, o belo exemplo deste grande artista, que une talento e simpatia em várias décadas de carreira, sempre com absoluto sucesso e obtendo admiração do público e da crítica especializada.
E vale lembrar que Tony Bennet, em 2015, ao lado da cantora Lady Gaga, já havia arrebatado o Grammy na categoria “Best Traditional Pop Vocal Album”, com o CD “Cheek To Cheek”, com músicas de George Gershwin, Cole Porter, Irving Berlin entre outros compositores importantes.
Ele também é o artista mais velho em atividade que frequenta as principais paradas de sucesso em todo o mundo, seja com o Jazz ou o repertório do cancioneiro popular americano.
Já o novaiorquino Bill Charlap é um pianista de Jazz consagrado e experiente, começou a tocar piano com apenas 3 anos de idade, se interessando primeiro pelo repertório clássico e somente anos mais tarde pelo Jazz.
Recebeu dos seus pais, com carreiras ligadas à música, total incentivo para seguir na carreira como pianista. E seguiu no mesmo instrumento de seu primo distante, Dick Hyman, um dos pianistas preferidos do cineasta e músico de Jazz Woddy Allen.
Teve a honra de dividir o palco e estúdios ao lado dos lendários saxofonistas Gerry Mulligan, Benny Carter, Phil Woods, Scott Hamilton, do trompetista Winton Marsalis entre tantos outros nomes importantes.
Destaco os temas “All The Sings You Are”, “Pick Yourself Up”, “The Last Time I Saw Paris”, “Long Ago And Far Away”, “The Song Is You”, “The Way You Look Tonight”, “Nobody Else But Me” e a faixa título “Look For The Silver Lining”.
Este encontro reforça a tese de que a boa música é atemporal e o que importa é o que faz bem aos nossos ouvidos.
Nossa reverência ao Sr. Anthony Dominick Benedetto, ou simplesmente Tony Bennett, que mais uma vez emplacou um disco incrível, desta vez ao lado de Bill Charlap, assim como já havia feito com o genial Bill Evans, nos anos de 1975 e 1977, discos clássicos no formato piano e voz, que marcaram sua carreira.
Luiz Pié – “Memória Afetiva”
O jovem cantor Luiz Pié é mais uma grande prova de que a música tem o raro poder de transformar a vida das pessoas. E é uma das vozes brasileiras mais surpreen-dentes que ouvi nos últimos tempos.
Ele acalenta o sonho de um dia cantar no Carnegie Hall e acredito muito que ele possa realizar esta façanha, pois talento e garra, aposto que ele tem de sobra. A sua bela história de vida comprova que não existem limites para ele. Viveu dos 3 aos 17 em um orfanato e desde cedo demonstrava interesse pela música.
Curiosamente, ainda quando estava no orfanato, ganhou de uma família americana uma caixa com 26 LP’s e uma vitrola e lá pôde descobrir o Jazz e alguns cantores brasileiros como Gal Costa, Caetano Veloso, Nana Caymmi e Djavan.
Anos mais tarde, frequentou as “lan-houses” da vida, visitando os sites de Emílio Santiago, Dori Caymmi e Gilberto Gil.
Para sua sorte e merecimento, anos mais tarde, a mesma família americana que havia lhe presenteado o procurou para saber como estava aquele menino, lhe comunicando que estavam de mudança para o Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro e que eles patrocinariam o seu primeiro disco.
Ele se preparou para este momento. Estudou música popular, visitou e estudou o repertório da Bossa Nova, Samba e MPB, para criar sua identidade musical.
E assim, com a cara e a coragem, Luiz Pié ao final de um show de Marcos Valle e Roberto Menescal pediu, para este último, que queria gravar um CD.
Depois de uma semana daquele encontro meteórico e definitivo, estava ele no estúdio Albatroz, de Menescal, gravando as primeiras músicas.
Lá estavam no violão Wilson Lopes, no piano Adriano Souza, no contrabaixo Adriano Giffoni e Beto Lopes, no acordeom Christiano Caldas, na bateria João Cortez e nos arranjos, regência e guitarra Roberto Menescal. E como convidado especial, em uma faixa, simplesmente Milton Nascimento. Time simplesmente perfeito.
Seleciono “A Volta”, “O Bem e o Mal”, “Abajur Lilás”, “Fim de Caso”, “Sabe Você”, “Manhã de Carnaval”, “Pai Grane” e a faixa título “Memória Afetiva”.
O seu timbre grave, aveludado e extremamente afinado, mostram que temos saída na nova safra da nossa MPB.
Ao ouvir sua voz, é impossível não lembrar o saudoso Emilio Santiago. Isso é inevitável e tomara que Luiz Pié consiga tirar proveito deste timbre vocal especial que ele tem, encontrando seu verdadeiro caminho musical.
O CD de estreia lançado pelo selo carioca Fina Flor, com 12 faixas, foi um excelente começo.
Toquinho e Vinicius – “O Poeta e o Violão”
Imagine você estar presente num estúdio ao lado dos gênios Toquinho e seu grande parceiro Vinicius de Moraes, para conferir uma sessão de gravação de estúdio, onde a descontração, amizade e o improviso são as marcas deste encontro.
Foi desta forma que há mais de 40 anos a dupla gravou em Milão, Itália, de forma intimista e bem à vontade o disco, que foi lançado originalmente pela gravadora RGE no ano de 1975.
Fizeram e verbalizaram várias homenagens nas gravações feitas numa única sessão que teve a duração de apenas 4 horas: João Gilberto, Tom Jobim, Dorival Caymmi, Chico Buarque, Carlos Lyra e Baden Powell foram alguns dos citados.
Merece destaque também as participações muito especiais nas gravações dos maestros Luis Bacalov e Sergio Bardotti.
A parceria de Toquinho e Vinicius teve início em 1969 e durou aproximadamente 10 anos e várias canções importantes da nossa MPB forma compostas pela dupla como “Tarde em Itapoã”, “Como Dizia o Poeta”, “Testamento”, “A Tonga da Mironga do Kabuletê”, “Regra Três”, “Para Viver Um Grande Amor”, “Cotidiano no. 2”, “Morena Flor” entre outras maravilhas. No total, mais de 100 canções em parceria, 25 discos e mais de 1.000 shows.
No disco foram gravadas 14 canções e uma surpresa, o tema “Nature Boy”, que era uma das canções preferidas de Vinicius de Moraes e que estava diariamente no “set list” do show que ele fez ao lado de Toquinho e Maria Bethânia no ano de 1971 na Argentina.
Não deixe de ouvir, também, “Tristeza”, “Chega de Saudade”, “Insensatez”, “Garota de Ipanema”, “Berimbau/Consolação,” numa versão de arrepiar, “Dora” e “Januária”.
Simples assim, “O Poeta e o Violão” é o mais fiel registro de uma linda e eterna amizade de dois gigantes de nossa MPB, que são Toquinho e Vinicius de Moares. Qualidade extrema do repertório escolhido e uma interpretação marcante e envolvente.