Infelizmente no dia 1 de março, data em que se comemorou mais um aniversário do Rio de Janeiro, cidade maravilhosa, marcou também o falecimento de Severino Filho, pianista, cantor, arranjador, líder e último remanescente da formação original do grupo vocal Os Cariocas.
A história do conjunto vocal começou com seu irmão, Ismael Neto no ano de 1942, portanto há exatos 74 anos. Começou como quinteto e depois se consolidou como quarteto.
A partir do ano de 1956, com a morte prematura do irmão, Severino Filho assumiu a liderança do grupo, sendo responsável pelos arranjos vocais até os dias de hoje.
Um dos momentos mais importantes da trajetória do grupo foi vivida em 1962, quando receberam o convite do produtor Aloysio de Oliveira para participar do show na Boate “Au Bom Gourmet”, em Copacabana, ao lado de Tom Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto. A primeira e única vez que estes gigantes da Bossa Nova se apresentaram juntos.
No final da década de 60, por divergências sérias entre os seus integrantes, o grupo teve um período de paralisação de aproximadamente 21 anos, quando novamente se reuniu para gravar o CD “Minha Namorada”, que destaco ao lado e a partir daí não parou mais até os dias de hoje, com várias formações dos seus integrantes.
A motivação para a tão esperada volta aconteceu em 1988 quando a Prefeitura do Rio convocou o conjunto para participar da campanha contra a emancipação do bairro da Barra da Tijuca, gravando uma paródia de “Ela é Carioca”, com o nome “A Barra é Carioca, Ela é Carioca”. O sucesso da campanha foi grande e a Barra continuou carioca e o grupo pôde retornar à cena musical. A volta aos shows aconteceu logo depois disso na famosa casa de espetáculos “Jazzmania”, no Arpoador, e numa destas noites de uma temporada de sucesso, o saudoso Luis Roberto se sentiu mal e pediu para parar o show por alguns instantes. Foi para o camarim e infelizmente não voltou mais. Ele havia entrado no grupo no ano de 1961. Outra grande perda para o grupo.
Sempre acalentei o sonho de um dia poder trazer o grupo Os Cariocas a Santos e graças à amizade com a querida Herlinha Gomes de Souza, que mora em Santos, esposa do saudoso integrante Luis Roberto, consegui realizar a proeza.
A primeira vez foi numa apresentação especial no Shopping Parque Balneário e, a segunda, na Praça Mauá, no Centro Histórico. Dois momentos muito especiais que vivi e tenho certeza de que todos aqueles que puderam ver as apresentações, não se esquecem.
Os Cariocas é para mim, o conjunto vocal mais importante da história da nossa MPB, pela ousadia e originalidade das interpretações e dos arranjos, extrema afinação, sonoridade única, que fizeram escola na arte de cantar. Torço apenas que seja possível a continuidade do grupo, apesar das perdas irreparáveis de seus principais integrantes. Afinal, Os Cariocas é patrimônio musical universal e atemporal. Até breve, Severino Filho !!! Sua voz permanece para sempre entre nós.
Os Cariocas – “Minha Namorada”
Sou fã incondicional do grupo vocal Os Cariocas. Desde pequeno, em casa, graças aos meus pais, pude escutar na vitrola seus principais discos e sempre me surpreendi com o talento e com os belíssimos arranjos vocais nas músicas interpretadas pelo grupo. E, para mim, Os Cariocas representam de forma definitiva a sonoridade da Bossa Nova. Eles estão integrados absolutamente para sempre e é impossível separar um do outro. Falar em Bossa Nova é obrigatório mencionar Os Cariocas e vice-versa. Selecionei um disco muito especial, lançado em 1990, pelo selo Somlivre e que marcou o retorno do grupo depois de 21 anos de ausência e separação.
Para esta reunião especial lá estiveram Severino Filho no piano, Badeco no violão, Luiz Roberto no contrabaixo e Quartera na bateria. Quatro vozes extraordinárias, afinadas e eternas.
Não deixe de ouvir a faixa título “Minha Namorada”, o hino “Samba do Avião”, a minha preferida do disco, “Você e Eu”, “Ela é Carioca”, “Wave”, “Samba de Verão” e “Águas de Março”.
O grupo atualmente estava em plena atividade, com uma formação muito diferente da original, mantendo apenas Severino Filho como integrante mais antigo e que participa do grupo desde o seu início. Tive a honra de trazer Os Cariocas para Santos em duas oportunidades e tenho que confessar que nos seus shows pude sentir uma das maiores emoções da minha vida. Ouvir o grupo ao vivo é sinônimo de pura emoção. Bossa Nova pura e natural.
Os Cariocas – “Estamos Aí”
Este é o primeiro CD lançado pelo conjunto vocal com a sua 10ª. formação, com o maestro Severino Filho na 1ª. voz, piano e teclados (líder e único integrante que participou de todas as formações do grupo), Fábio Luna na 2ª. voz, bateria, percussão e flautas (novo integrante), Neil Teixeira na 3ª. voz e contrabaixo e Eloi Vicente na 4ª. voz, violão e guitarra.
O disco, o 70º. da carreira, foi lançado em 2013 pelo selo Biscoito Fino, 65 anos após o lançamento do primeiro disco do grupo carioca, um 78 rotações do ano de 1948, e contou com as participações especiais de Chico Buarque, Francis Hime, João Carlos Coutinho, Leny Andrade Chiquito Braga, Félix Junior e Hernane Castro.
Falar de “Os Cariocas” é falar da própria história da Bossa Nova. O grupo está sempre se renovando, mas tem a preocupação de manter suas características vocais exclusivas, que o fazem ser reconhecidos imediatamente quando o ouvimos.
Destaco os temas “Eu e a Brisa”, “Januária” (uma sensível homenagem ao Magro, integrante do grupo MPB-4, falecido em 2012), “Que Maravilha”, “Marina” (gravado à capela de uma forma muito especial), “A Noiva da Cidade”, “A Felicidade” e a faixa título “Estamos Aí”, a minha preferida, que contou com a participação da diva Leny Andrade.
O escritor Ruy Castro escreveu sobre o disco: “Não é um grupo vocal, mas uma constelação – que às vezes explode e ilumina toda a cena musical. Os Cariocas são assim”. Cresci ouvindo o som mágico de “Os Cariocas” e, para mim, ouvi-los cantar é sempre um grande prazer, uma grande emoção, que faz bater mais forte o coração.