Conheça santistas, de nascimento ou coração, que conseguiram reconhecimento e que prometem dar muito o que falar em um futuro próximo.
Animação de ponta
Aos 13 anos, durante um passeio pelo Gonzaga, Marcelo de Moura confidenciou a um amigo que gostaria de trabalhar na Disney. "Ele deu uma gargalhada e disse que eu nunca iria para lá. Isso acabou servindo como um estímulo para mim". Hoje, aos 46 anos, é um desenhista e especialista e animação digital, com uma carreira mais do que consolidada. Requisitado por grandes estúdios do exterior, Moura tem em seu portfólio duas indicações ao Oscar, com as animações "Brendan e o Segredo de Kells" (2010) e "Chico & Rita! (2012). Após o deboche do amigo, ele enviou seu portfólio com desenhos do Mickey para a Disney. "Eles me retornaram com um catálogo de uma escola de arte. Mas não existiam escolas de animação no Brasil. Foi aí que eu vi que animação era uma carreira", diverte-se.
O desejo de trabalhar na criadora de Mickey Mouse deu certo. Foram 12 anos morando na Irlanda e nos Estados Unidos, passando por outros estúdios, como Blue Sky e Warner Brothers. Entre as animações mais conhecidas que levam a sua assinatura ou participação estão "Mulan", "Asterix e os Vikings" e "Snoopy". De volta à cidade natal, Marcelo montou um estúdio na Ponta da Praia. "Saí de Santos para estudar e trabalhar, mas nunca abandonei a cidade. Ter nascido à beira-mar faz parte de mim".
De comercial de pet shop para Hollywood
Imagine um jogador que começou batendo bola na praia e hoje está no Barcelona. É praticamente isso o que está acontecendo com o cineasta santista Afonso Poyart. Ele é o diretor de "Presságios de um crime", filme de um grande estúdio de Hollywood, que tem no elenco as estrelas Anthony Hopkins e Colin Ferrell.
Publicitário por formação, começou gravando comerciais para pet shops. Em seguida, fez publicidades para clientes maiores e clipes para artistas como Charlie Brown Jr e Felipe Dylon. Já na estreia no cinema, com o curta "Eu te darei o céu" (2005), arrebatou dois importantes prêmios -festivais do Rio e de Gramado. Rodou o primeiro longa-metragem em 2002, "2 Coelhos", que foi considerado inovador no cinema nacional, por incluir animação, efeitos especiais inéditos e linguagem pop.
"Presságios de um crime", no qual Hopkins é um vidente que usa seu dom para resolver crimes, estreia no Brasil no dia 28. Com este filme, Poyart entra para um seleto grupo de diretores brasileiros que conquistaram espaço em Hollywood, como Fernando Meirelles ("O jardineiro fiel"), José Padilha ("Robocop") e Bruno Barreto ("Voando alto").
E vem muito mais por aí: no momento, o cineasta finaliza o longa "Mais forte que um mundo", sobre a vida do lutador de MMA José Aldo. "Não sou um cara que acredita em filmes 'cool'. Sou de uma escola na qual cinema não se aprende em faculdade de cinema. Tarantino nunca foi a uma".
Bom humor, sem grosserias
Gabriel Cielice é uma agradável contradição ambulante. Ostenta uma bela barba e tatuagens, mas tem olhos e sorriso de criança; faz stand-up comedy, modalidade de humor que se notabilizou no Brasil por piadas grosseiras e sem limites, mas sem apelações. E provou que é possível divertir sem recorrer a insultos e tiradas de gosto duvidoso, ao ganhar o Prêmio Multishow de Humor em 2015. Nascido e criado em Santos, Gabe, como é conhecido, levou alguns anos para se descobrir como profissional do riso: vendeu peças para carros, deu aulas de inglês e atuou como classificador de café.
Em 2011, por influência do "boom" do stand-up, descobriu o prazer de fazer rir. "Sempre gostei de comédia. Comecei em shows que davam espaço para calouros em São Paulo. Por muitas noites eu dormi na rodoviária do Jabaquara", lembra. Para ele, humor que ataca os outros não é humor. "Eu sofro preconceito por parte dos comediantes preconceituosos. Minhas piadas não ofendem nenhum grupo, seja mulher, negro, gay. Em 99% delas sou eu apontando para mim mesmo. Gosto de falar sobre as minhas decepções amorosas".
Hoje, Gabe se apresenta em locais voltados à comédia em todo o país e nas calçadas da Avenida Paulista, onde conta piadas de graça. Há pouco tempo, trocou Santos pela capital, por causa do trabalho, mas volta pelo menos uma vez ao mês. "Eu sou uma placa solar e Santos é como um sol pra mim", filosofa. Saiba mais sobre o humorista em
eusouogabe.com.
Obras de arte na pele
Um artista de traços vibrantes, precisos e extremamente realistas, a ponto de as imagens parecerem pular para a realidade. Mas ele não as faz em telas, e sim na pele humana! Marcelo Mordenti é um dos tatuadores mais requisitados do Brasil – e há clientes que vêm de outros países para serem atendidos, como o mexicano Alfonso Herrera, ex-cantor da banda RDB. Autodidata, começou a fazer os primeiros traços, "com canetinha", inspirado por Lucky Tatoo, o pioneiro da tatuagem no Brasil, que atuava em Santos.
Aos 15 anos, após aprender os primeiros fundamentos com dois hippies que conheceu na praia, fez a primeira tatuagem definitiva. "Peguei o primeiro amigo mais louco e fiz um cavalo-marinho", recorda. Desta época (1985) para cá, foram milhares de verdadeiras obras de arte, nas quais está presentes o estilo único, de beleza impressionante. Mordenti não utiliza moldes pré-elaborados, faz a arte à mão livre, de acordo com a ideia da pessoa.
Ele revela que seu trabalho não se restringe ao ato de tatuar em si, inclui também um rigoroso trabalho de pesquisa. Como no caso em que criou uma cena de batalha da Revolução de 1932, ocupando todas as costas de um rapaz, com todos os elementos características daquela época. "A tatuagem ganhou status de linguagem", afirma. Tatuador de artistas como Marcelo D2, Badauí (CPM22) e Alemão (Falamansa), ele mesmo tem "poucas" tatuagens: 15. Atualmente, Mordenti também se dedica a fazer pinturas em tela. Aliás, seu estúdio (Rua da Paz, 49), conta com uma galeria de arte.
Uma vida mais bela e saborosa
Após 25 anos atuando em publicidade, e mais alguns como artista plástico, Rick Zavala decidiu mergulhar de cabeça no mundo da confeitaria, inspirado em Buddy Valastro, o Cake Boss. E, por uma destas intersecções das linhas do destino, ele encontrou com o ídolo em um reality-show, a "Batalha dos Confeiteiros". Mais do que isso, venceu a competição! "O meu maior adversário fui eu mesmo. Cheguei inseguro e com muito medo de tudo. Cada prova eu achava que seria a última. Mas me dediquei 100% à competição e comecei a acreditar no meu potencial", diz. Após o programa, sua vida ficou mais doce: o reconhecimento como artista e confeiteiro e o carinho das pessoas nas ruas e redes sociais.
Rick diz que a cidade de Santos inspira o seu trabalho. "Uma das minhas paixões é praia. Amo caminhar da Ponta da Praia até a Ilha Porchat, curtir o sol, o vento e o mar. E é essa sensação que reflete no meu trabalho, na minha criatividade. Ter ideias sem limites e conseguir transformá-las em realidade reflete essa sensação de liberdade criativa", explica. Mas seus bolos são só bonitos ou também gostosos? "Tenho receitas supergostosas, tanto das massas quanto nos recheios. Minha alegria é receber elogios quando o bolo chega pelo seu visual e depois também quando são saboreados", finaliza. Siga o trabalho de Rick no Instagram: @ricksuperbolos.
Ensino divertido e efetivo
A ideia de apresentar a pesquisa científica de forma divertida, fácil de ser entendida e em um ambiente de descontração, rendeu em 2015 a Leonardo Parreira o primeiro lugar no concurso de comunicação criativa Euraxess Science Slam Brazil, iniciativa da Comissão Europeia voltada à mobilidade internacional de cientistas. Como prêmio ganhou uma viagem à Europa. Foi a segunda vez que o jovem santista de 30 anos, doutorando em Ciências da Saúde da Unifesp Santos, venceu o concurso. A primeira foi em 2014, com outros dois colegas do curso de mestrado.
Baseado em artigos científicos, eles estudaram a interferência da expressão corporal, do humor, da música e da dança no aprendizado e criaram uma metodologia para apresentar seus trabalhos de pesquisa, brincando com algo que sempre foi tratado de forma séria – e, até por isso, difícil de ser entendido por muitos. Aplicando técnicas de teatro, o assunto abordado é desenvolvido em meio a uma história, envolvendo o espectador na trama e despertando sua curiosidade. A banca do concurso é formada por leigos, justamente para medir o alcance da comunicação.
À frente do Grupo Gatu, Leonardo passou a dar treinamentos e palestras para aprimoramento didático, aplicando sua metodologia de sucesso. Este ano, junto com outros dois parceiros, o jovem pesquisador está com novo desafio: o Gatu Corporis & Actio, treinamento oferecido a empresas para tornar as reuniões de trabalho mais atrativas, interessantes e produtivas. Quem quiser saber mais pode entrar em contato com Leonardo, acessando
www.facebook.com/grupogatu e
www.grupogatu.com
Uma voz potente que vai cada vez mais longe
De 2014 para cá, a vida de Maria Edith Gomes, ou melhor, Didi Gomes, mudou da água para o vinho. Acostumada aos microfones desde pequena por herança do pai, presidente do Grupo Chorões Santistas, ela foi escolhida para fazer o alusivo, ou seja, a introdução do desfile da escola de samba Vai-Vai em 2015. Sua voz potente e afinada chegou aos ouvidos dos diretores da agremiação graças a um vídeo de sua participação no Programa Raul Gil.
Pesou na escolha a semelhança com a voz de Elis Regina, cantora homenageada pela Vai-Vai no carnaval do ano passado. A escola venceu o carnaval e Didi, esbanjando carisma e simpatia, tornou-se querida na comunidade. Até então, nunca tinha pisado no Sambódromo do Anhembi: "Sensação maravilhosa", disse, na época. Este ano vai repetir a dose, incorporando Edith Piaf na homenagem que a Vai-Vai prestará à França.
Bastante conhecida no cenário musical da cidade, a participação no Sambódromo de São Paulo projetou a cantora santista para outros horizontes. Aos 39 anos, casada há 24 e mãe de quatro filhos, Didi este ano participa do CD da Liga das Escolas de São Paulo e da vinheta da Vai-Vai na TV Globo, integra o Samba da Vela (famosa roda de samba que acontece sempre às segundas-feiras em Santo Amaro), foi convidada por Sombrinha para acompanhá-lo em shows e se prepara para cumprir uma maratona de visitas a programas de TV. Uma dica para quem quiser conferir seu talento: na terça-feira (26), aniversário de Santos, ela se apresenta na Tenda 3 na praia do Boqueirão.
Quarenta dias para sempre
Ela já tinha ganhado dois prêmios Jabuti (o mais prestigioso da literatura nacional), com dois livros infantis ("No risco do caracol", em 2009, e "Ouro dentro da cabeça", em 2013). Mas foi com "Quarenta dias" que a escritora e freira santista Maria Valéria Rezende fez barulho -além do Jabuti de 2015 na categoria Romance, a obra foi considerada o Livro do Ano. Impressionante é só agora, aos 75 anos, ela ter sua capacidade de tornar ideias brilhantes em palavras devidamente reconhecida. Ainda assim, ela mesma pisa no freio: "Não me impressiono muito ou me envaideço demais com esse prêmio, pois já fiz parte de júris de outros concursos e sei bem que se ganha sempre "por um triz". Bastaria que se mudasse um componente do júri e o resultado provavelmente seria diferente", argumenta.
Maria Valéria gosta de dizer que nasceu e cresceu numa família de leitores e escritores (Vicente de Carvalho, o Poeta do Mar, era seu tio-avô ), "em casas frequentadas por praticamente todos os escritores da cidade e mesmo os de fora quando vinham veranear em Santos". Para ela, o bom do prêmio é a possibilidade de atrair novos leitores, o que é um estímulo, "sobretudo físico", para continuar produzindo. Ela revela que, em breve, a editora santista Simonsen publicará um livro de contos, "A face serena", e está preparando "Memórias mentirosas de minha infância santista", que ela gostaria que fosse publicada pela Editora (também santista) Realejo, "se o Zé Luiz gostar".
Sangue novo na teledramaturgia brasileira
Em 2017, a imaginação de um jovem santista poderá invadir milhões de lares brasileiros. O publicitário Victor Darmo, 34 anos, foi uma das 26 pessoas selecionadas entre quase 800 inscritas para a 3ª edição do Master Class Aguinaldo Silva, oficina de roteiro realizada pelo famoso autor de novelas no início de dezembro passado. Foram 10 dias de imersão no centro cultural criado por Aguinaldo em Petrópolis, na serra fluminense, em uma casa tombada pelo Patrimônio Histórico. "No primeiro momento, foi proposta a adaptação da novela "O Outro", do próprio Aguinaldo, mas diante de tantas sugestões a ideia foi abolida meia hora depois para começar do zero".
Os participantes montaram sinopses, criaram personagens, pensaram em estilos, formaram núcleos e imaginaram uma cidade fictícia no interior de Minas Gerais. Aos poucos foram dando vida a cada personagem, trançando uns nos outros. "O Aguinaldo Silva falou de sua intenção de resgatar o bom novelão, sem tanta violência e realidade atual", conta. A sinopse de 80 páginas e 52 personagens passará por ajustes nas mãos do autor, que deverá apresentá-la à Rede Globo. Se aprovada, irá ao ar no próximo ano.
Victor Darmo não pode adiantar mais sobre a trama, pois tem contrato de confidencialidade assinado, mas ainda está emocionado com a experiência. "Foram 10 dias totalmente voltados para o projeto. O Aguinaldo levou atores até nós, como a Lilia Cabral e o Marcelo Serrado, para entender como funciona", relata Victor, que sempre gostou de criar roteiros, mas de modo amador. Como publicitário, está no mercado há 16 anos.