Na semana passada escrevi sobre a relação mágica entre o vinho e a Bossa Nova e dias atrás recebi um e-mail do ouvinte da rádio Jornal da Orla/Digital Jazz da cidade de São Paulo, José Mário Paranhos do Rio Branco, que me pediu para escrever sobre a relação intensa que também acontece entre o vinho e o gênero Jazz. Pedido feito e aceito, prontamente. Já mencionei por aqui que não sou um grande conhecedor de vinhos, apenas um fiel apreciador e um aprendiz interessado das suas histórias e tradições, principalmente dos países sul-americanos, Argentina, Uruguai e Chile.
Tenho feito regularmente algumas experiências de vivenciar a intensa sinergia de degustar esta bebida tão especial e saudável (quando apreciada com a devida moderação), obrigatoriamente acompanhada por uma boa música, de preferência um bom Jazz. Uma combinação perfeita que serve para aguçar e despertar ainda mais os nossos sentidos. Nestes momentos de prazerosa degustação é quase natural a necessidade do complemento da música, que nos deixa mais sensíveis a sentir os ritmos bem marcados e arranjados, os solos dos instrumentos e das vozes, mexendo invariavelmente com as nossas emoções e deixando a nossa alma repleta de alegria. Imediatamente me lembro dos vinhos produzidos nos Estados Unidos, mais precisamente no estado da Califórnia, que a partir doa década de 90, conquistou grande prestígio no mundo dos vinhos. Os seus rótulos, por serem originários de uma região ensolarada e mais quente, são mais leves e adocicados. E assim também aconteceu com o “West Coast Jazz”, considerado um derivado do “Cool Jazz”, criado no início da década de 50, que valorizava muito os arranjos e a sonoridade das orquestras, apresentando um som mais calmo e envolvente. Que tal então você desfrutar de um bom vinho californiano ao som dos saxofonistas Gerry Mulligan, Bud Shank e Bob Cooper, do trompetista Chet Baker, da orquestra do pianista Stan Kenton e dos pianistas André Previn e Dave Brubeck. E nos dias de hoje são muito comuns e rotineiros os eventos que associam o vinho e o Jazz, como confrarias, festivais de música, noites de degustação, assim como também em outras manifestações artísticas, como as literárias, as de cinema e as de gastronomia. Sempre muito interessantes e repletas de boas informações. Numa destas minhas pesquisas, encontrei um texto muito interessante assinado no ano de 2010, pelo entendido no assunto de vinhos, Marcelo Copello que afirmou: “o vinho é apenas um líquido em uma garrafa. A emoção está em quem o bebe. O vinho funciona como um espelho onde cada um verá a si mesmo. Quem gosta de Jazz, por exemplo, ouvirá em seu vinho predileto, muitos Miles, Monks, Ellas e Parkers. A relação será estabelecida na emoção”. Achei perfeita a sua colocação. E Copello finaliza: “um monstro do Jazz e um monstro de vinho”.
Posso garantir que o gênero musical Jazz pela sua composição estética e por ser uma música mais elaborada, traz na sua essência a garantia de proporcionar um clima muito agradável para você desfrutar esta agradável experiência.
O Jazz é uma das trilhas musicais preferidas pelo público para estar associado ao vinho, pelo seu encaixe perfeito. Só falta agora você escolher o seu vinho e o seu artista de Jazz preferido.
Aproveito para desejar um Feliz Ano Novo, repleto de realizações e com muita música. E vem aí o Rio-Santos Bossa Fest 2016. Imperdível !!!
Ricardo Leão – “Rio Bossa Nova”
Algum tempo atrás estive em São Paulo e, numa visita ao Shopping Morumbi, encontrei, depois de alguns anos, a loja de discos Billbox, muito tradicional e que tem mais de 30 anos de história. Por lá, garimpei algumas pedras preciosas que já estão no “playlist”da Rádio.
Uma destas maravilhas que encontrei é o trabalho do pianista, tecladista, produtor, arranjador, radicado no Rio, Ricardo Leão, lançado nos formatos CD e DVD (é obrigatório ter os dois), pelo selo MZA Music.
Justifico: o CD pelo repertório, arranjos e solos incríveis do pianista e dos seus convidados. E o DVD, pela mesma trilha musical do CD, porém com o diferencial de conter imagens da cidade maravilhosa, o Rio de Janeiro, em clipes de emocionar da primeira à última imagem. E a homenagem ficou ainda mais especial depois que a cidade do Rio recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade.
O repertório do disco apresenta os clássicos “Rio”, “Corcovado”, “Samba de Verão”, que contou com a participação muito especial do piano elétrico inconfundível de Marcos Valle, “Garota de Ipanema”, “O Barquinho”, que teve a participação de Roberto Menescal, “Samba do Avião” e “Eu e a Brisa”, numa sensível e justa homenagem a Johnny Alf.
Contou com as participações de André Vasconcellos no contrabaixo acústico, Marco Lobo na percussão (e que percussão), Zé Canuto nos saxofones, Márcio André no flugelhorn e trompete, Márcio André no trombone e Aldivas Ayres no trombone.
Os arranjos são muito inspirados e a sonoridade do disco agrada em cheio. Como é gostoso ouvir todos estes clássicos com uma levada revigorada pelo talento de Ricardo Leão e seus parceiros. E, como ele mesmo destacou no CD, lembrando Jobim: “Minha alma canta”. Leve para casa o CD e o DVD. Você não vais se arrepender.
Be Bossa, Menescal & Wanda Sá – “A Galeria do Menescal”
A gravação deste CD aconteceu de forma inesperada e seguiu a ordem natural das coisas. Foi lançado em 2011 pelo selo Sala de Som Records.
Foram vários shows por diversos palcos do país desde 2009, reunindo o grupo vocal carioca à capella, o sexteto BeBossa com Roberto Menescal e sua dedicada aluna Wanda Sá.
A química foi tão intensa, que decidiram levar o show para o estúdio. E esta maravilha também já está tocando na Rádio Jornal da Orla/Digital Jazz.
A capa do CD é uma nítida reverência às capas antológicas do Selo Elenco, criadas com muita simplicidade pelo designer Cesar Villela e que se tornaram ícones de ousadia e criatividade.
O nome do disco foi inspirado no local pitoresco do Rio de Janeiro, a Galeria Menescal, onde coincidentemente, o querido “Menesca” morou por alguns anos.
Uma forma que o grupo vocal encontrou para homenagear os 50 anos de carreira deste que pode ser considerado como um dos principais personagens da Bossa Nova (como intérprete e compositor).
As 14 músicas do disco são as principais do seu repertório, incluindo algumas boas surpresas.
As minhas eleitas são “Bênção Bossa Nova”, “Bye, Bye, Brasil”, o clássico cinquentão “O Barquinho”, “Rio”, “Agarradinhos” e mais “Eu Canto Meu Blues”, “Japa” e “Balansamba”.
E como é bom saber que no Brasil temos grupos vocais de qualidade, seguindo o legado de Os Cariocas e Quarteto em Cy (ainda em plena atividade), e dos inesquecíveis The Hi Lo’s, The Four Freshmen, The Modernaires, L.A. Voices, The Manhatan Transfer e Take 6.
E o BeBossa dá um verdadeiro show de interpretação vocal ao lado do Capitão do “Barquinho”, Roberto Menescal, e de Wanda Sá. Simplesmente, sensacional.