Nesta segunda-feira, 2 de novembro, Dia de Finados, uma multidão incalculável de pessoas irá invadir os cemitérios do país para cumprir o mesmo ritual. Flores, velas, orações, são formas tradicionais de expor a saudade e reverenciar a memória daqueles que não estão mais em nosso convívio.
Crescemos sabendo que a morte é a única coisa certa na vida, mas evitamos pensar nisso e dificilmente estamos preparados para a perda de um ente querido, principalmente quando somos surpreendidos com o inesperado, o improvável. Se a morte for prematura e violenta, potencializa a dor, deixando a sensação de vida roubada.
Mas, independente das causas, superar a perda de alguém querido é uma das maiores provações que o ser humano pode experimentar. Com o tempo, a dor aguda e dilacerante vai passar, cedendo lugar para a saudade. “A primeira ideia que precisa ser lembrada é que a dor passa. Pode demorar, mas um dia terá passado. Ou, pelo menos, diminuiu a ponto de não incomodar mais”, afirma o psicanalista Luiz Alberto Py, autor do livro “Amor e Superação – Como enfrentar perdas e viver lutos”.
Para o psicólogo João Alexandre Borba, o Dia de Finados é uma oportunidade para as pessoas pensarem se realmente se despediram daqueles que se foram ou ainda deixam com que o sentimento de dor tome conta das suas vidas.
Ele lembra que a saudade existirá para sempre, mas ela deve existir com uma sensação de “leve tristeza”, e não de arrebatamento. “Se a saudade aparece de um jeito avassalador é porque muito provavelmente o ciclo do luto não se fechou. Aproveite o dia para fazer isso: fechar o ciclo do luto e honrar a pessoa que se foi com amor, boas lembranças e emoções positivas”, propõe.
Viver a dor ajuda a superar
Ao se perder alguém, é mais do que saudável chorar e sentir-se triste pelo acontecimento, diz o psicólogo, João Alexandre. “Passar certo tempo sofrendo, é natural. Nessas horas, a pior coisa a se fazer é chegar para a pessoa que está em luto e dizer ‘não fica assim, não’. Como assim, não é para a pessoa ficar triste? Como ela deve se sentir nesse momento?”, exalta.
Superar o sofrimento depende das condições de resiliência de cada um, pois o luto é um processo vivido e sentido totalmente no plano individual. “É preciso respeitar o momento em que a pessoa se encontra e deixar que ela libere e se entregue à emoção que está sentindo”, diz João Alexandre Borba.
Nestas horas ter fé ajuda, afirma Luiz Alberto Py. “A fé ajuda muito, em todos os sentidos. Kenneth Cooper – o famoso criador do método de corrida que leva seu nome – escreveu um livro cujo título é: “E melhor acreditar”, onde mostra estatisticamente que as pessoas que possuem fé vivem mais e melhor. É pena que fé não seja algo fácil de ser adquirido ou desenvolvido”.
As cinco fases do luto
A psiquiatra suíça Elisabeth Kubler-Ross, pesquisadora do tema, descreveu cinco fases do processo de luto, que não são necessariamente seguidas na regra. As pessoas podem superar uma fase, mas depois retornar a ela (ir e vir), estacionar em uma delas, sem ter avanços por longo período ou ainda suplantar todas as fases rapidamente até a aceitação.
Negação – Nessa fase a pessoa se recusa a acreditar no que aconteceu. Pode não acreditar na informação que está recebendo, tentar esquecê-la, não pensar nela ou ainda buscar provas ou argumentos de que ela não é a realidade. “Quando um casal mora junto e um deles falece, é comum, nos primeiros dias, que aquele que está vivo ache que o outro irá aparecer a qualquer momento ou até mesmo esquecer-se de que ele morreu. É a negação da morte – e a esperança de que a pessoa volte”, explica Borba.
Raiva – Depois da negação, vem a fase da raiva. A pessoa fica com raiva da situação e até da pessoa que se foi. “Como assim, ela morreu e me deixou aqui nessa situação? Por que ela foi tão egoísta comigo?”, comenta o especialista, que diz que essa é uma fase necessária, afinal, se a pessoa manter-se na negação para sempre, ela não sai do lugar. A fase da raiva é que lhe dá energias para tentar superar o acontecido.
Negociação – Nessa fase busca-se fazer algum tipo de acordo de maneira que as coisas possam voltar a ser como antes. Essa negociação geralmente acontece dentro do próprio indivíduo ou, às vezes, voltada para a religiosidade. Promessas e pactos são muito comuns e muitas vezes ocorrem em segredo. “Frases como ‘perdi essa pessoa, mas a vida segue’ ou ‘a pessoa ia ficar feliz se me visse prosperando’, são comuns nessa hora”, comenta Borba.
Depressão – Tristeza, desolamento, culpa, desesperança e medo são emoções bastante frequentes nesta fase. “É quando cai a ficha. Nessa hora o sentimento de dor é maduro, e não de desespero”, diz o psicólogo.
É um momento em que acontece uma grande introspecção e necessidade de isolamento.
Aceitação – É quando a pessoa percebe e vivencia uma aceitação do rumo das coisas. As emoções não estão mais tão à flor da pele e a pessoa se prontifica a enfrentar a situação com consciência das suas possibilidades e limitações. Busca ajuda para resolver, conversa com outros, planeja estratégia para lidar com a questão. É a hora de começar a se reerguer e voltar à sua vida por inteiro – e não aos trancos e barrancos.