Luís Carlos Barbano (meio da foto), historiador, esteve recentemente em Santos para lançar o livro “Ronald Golias: o Gigante do Humor”, uma obra impecável sobre o comediante que marcou época fazendo um humor ingênuo, simples e capaz de arrancar risos de todas as plateias por onde se apresentava, sem precisar de apelos. Com ele, Carlos Pinto e João Paulo Tavares Papa.
De onde veio a ideia de escrever sobre Ronald Golias?
Surgiu a vontade de homenagear a um dos maiores comediantes do Brasil. Hoje em dia, muito se fala que o artista precisa ser multifacetado, completo, o que significa que ele deve representar, cantar, dançar e se dedicar às várias formas de expressão artística. Ronald Golias era tudo isso há mais de 50 anos.
Ele era um artista polivalente, não é mesmo?
Sim, ele começou a carreira como locutor, atuou em teledramas, depois se dedicou exclusivamente ao humor. Fez rádio, televisão, cinema e teatro, tocou sax e bateria, cantou e gravou marchinhas de carnaval, foi apresentador de programas… Foi sem dúvidas um artista completo, à frente de seu tempo, e, por tudo isso, merecedor de uma biografia.
Qual foi o seu objetivo ao escrever o livro?
Um trabalho como esse tem a finalidade de resgatar a lembrança desse grande comediante e chegar às gerações de brasileiros que não o conheceram. É mais uma oportunidade de conhecer e admirar o trabalho dele.
O Brasil está carente de humor?
O humor está mudando muito nos últimos anos, porque a sociedade também está mudando. Mas, independente da mudança de valores éticos, morais e comportamentais da nossa sociedade, o humor que Ronald Golias praticava, sempre foi considerado um humor ingênuo, pensado para a família assistir reunida, sem passar por nenhuma espécie de constrangimento. Golias se identificava muito com as crianças e, por isso, fazia muito sucesso com elas.
Como você analisa o momento atual da comédia?
O Brasil está vivendo um momento em que o humor está perdendo espaço. Existem poucos programas humorísticos na televisão brasileira. Na época em que Ronald Golias estava no auge do sucesso, os programas de humor eram maioria na programação das emissoras de rádio e televisão. Hoje a realidade é outra, existem muitos pouco de humor na televisão.
Diferenças e semelhanças do humor que ele praticava nos dias atuais?
A grande diferença no humor de antigamente com o humor que se pratica hoje está na vigilância ideológica. Muito do que se fazia no passado não se pode mais fazer hoje por ser considerado politicamente incorreto e ofensivo. O humor dos “Trapalhões” não pode mais ser exibido exatamente por isso. Por outro lado, nos tornamos mais exigentes e nos cansamos mais rapidamente das coisas, porque o mundo nos impõe um estilo de vida em constante transformação. Percebo que as pessoas estão perdendo o bom humor e a predisposição para o riso, lamentavelmente. Reflexo dos novos tempos.
Que mensagem você quis passar com essa biografia?
O maior legado que Ronald Golias deixou foi a humildade. Ele foi um dos astros do humor mais bem pagos e requisitados do país, e nunca deixou que o sucesso se sobrepusesse à amizade e o carinho com as pessoas. Jamais se pronunciou contra ninguém e não admitia fofocas.
O que os próprios artistas diziam sobre ele?
O próprio Miele fala que, se alguém perguntar sobre Ronald Golias para o homem da padaria, para o motorista de táxi, para o diretor do programa, para um coadjuvante ou para um figurante que conviveram com ele, nunca irá ouvir: “Era um mau caráter”. Golias é até hoje uma unanimidade no quesito de bom coração, além de ter um talento indiscutível. Era um professor do riso, um grande mestre.
O que Ronald Golias tem a ensinar a essa nova geração de humoristas?
O respeito ao seu público e aos colegas de trabalho é sempre o maior legado de um artista. Mas Golias deixou outras dicas aos iniciantes do humor. Trabalho, paciência e persistência são fundamentais para atingir os objetivos. Ele costumava dizer que para fazer humor é preciso ter sensibilidade e que uma pessoa, quando tem bons sentimentos, pode se tornar um grande comediante, mas que é preciso saber colocar as palavras e tomar cuidado com os gestos, ser gentil e respeitoso. Ele incentivava aqueles que quisessem trabalhar com o humor a lerem muito e assistirem aos colegas no teatro, uma verdadeira aula para quem quer fazer televisão.