Datas Comemorativas

Amor em tempos de…

06/06/2015
Amor em tempos de… | Jornal da Orla
Seja qual for o tempo, a busca pela cara-metade sempre moveu corações, provocou suspiros sem fim, embalou sonhos e despertou esperanças. Para viver um grande amor pode-se apelar para criativas ferramentas tecnológicas, como aplicativos no celular que facilitam o encontro do par ideal, ou deixar por conta do acaso, com um empurrãozinho amigo do destino. 

O amor é descoberto na juventude, mas também pode nos surpreender na velhice, iluminando o ocaso da vida. É um sentimento que encanta, envolve, rejuvenesce, mas que também  exige cuidado e atenção não só com o corpo mas também com a mente, como já disse Vinicius de Moraes. 
 
…Aplicativos no celular


 

Pense em um catálogo com fotos de rostos bonitos e descrições criativas, engraçadas, sucintas ou enigmáticas. Com um simples toque, você define quem poderá entrar em contato para iniciar uma conversa e, quem sabe, fazer parte da sua vida para sempre. Essa é definição mais simples de um aplicativo para celular cuja finalidade é encontrar um par ideal. 

A paquera, assim como tudo na vida, evoluiu (ou não) com a tecnologia. Nesse jogo dos apps para casais, como Tinder, onde tudo parece perfeito, ganha aquele que aparentar ser mais real. Afinal, são grandes as chances de descobrir que o príncipe é um sapo, logo no primeiro encontro. 

Para sair da conversa informal e sem hora marcada pelo celular para um passeio ou jantar, basta ter coragem. Tem gente que vai sem coragem mesmo e se garante de outras formas. Como a funcionária pública Érika Ramos, que, ao marcar um encontro com o seu atual namorado, o empresário Wilson Vasconcelos, escondeu uma faca na bolsa para o caso de ele oferecer algum perigo. 

“Instalei o Tinder no meu celular porque estava recém-solteira. A minha intenção era diversão e conhecer pessoas. Nunca tinha tido um encontro às cegas. Wilson foi o primeiro homem que apareceu na tela. Conversamos por duas semanas e descobri que ele era de São Paulo. Naturalmente, paramos de nos falar, mas, retomamos o contato quando fui visitar uma amiga na capital e decidi marcar um encontro”.

Érika conta que quase desistiu conhecer pessoalmente Wilson por medo, mas foi orientada pela amiga a colocar uma faca pequena na bolsa. A noite, segundo ela, correu bem e o romance foi engatado a partir dali. 

O empresário só foi ter conhecimento sobre a arma branca quatro meses depois. “Eu morria de vergonha de contar para ele. Meu plano era revelar somente no altar, no dia do casamento. Quando soube, achou que era mentira. Só acreditou quando mostrei a faca. Ele ficou em choque e disse que quase tinha morrido sem saber. A história virou piada entre as minhas amigas!”, confessa.

Após dois anos, Érika foi morar em São Paulo com Wilson. “Recentemente viajamos ao Chile e tiramos uma foto em frente a uma placa com a palavra Tinder. Nunca pensei que uma brincadeira no celular fosse dar nisso”, revela Érika. A faca, para a sorte de Wilson, nunca precisou ser usada.
 
…Redescoberta


 

Luiz Carvalho de Moura, 85 anos, e Nair dos Santos Gaspar, 79 – ou melhor, Lico e Nairzinha, como são conhecidos -, são dois simpáticos idosos que há nove anos formam um dos casais mais animados e cativantes nas festas, bailes e viagens que participam. Em comum, os dois gostam de dançar, passear, viver com alegria e cultivar amizades, uma receita e tanto para o sucesso de um relacionamento que para alguns pode parecer improvável a esta altura da vida – mas não para eles.

Lico e Nairzinhá já se conheciam “de outros carnavais”, mas apenas como amigos. Lico foi casado por 51 anos, Nairzinha por 36, com seus respectivos cônjuges, claro! Na época, os dois casais tinham relação de amizade, saíam e até viajavam juntos. Nairzinha estava viúva há 12 anos quando reencontrou Lico, então viúvo há um ano. 

Desde que perdeu a esposa, Lico vinha se sentindo deprimido, bebendo muito, até que resolveu ir ao baile da Fonte do Sapo, que acontece no jardim da praia da Aparecida aos domingos. Nairzinha estava sentada no banco com uma amiga e não resistiu em fazer a pergunta indiscreta, em tom de brincadeira: “Mas com 77 anos ainda faz alguma coisa?”. De pronto, veio a resposta: “Ainda dá pro gasto”.

E foi assim, desta forma irreverente, que tudo começou. Semanas após este reencontro, e depois de algumas idas à pizzaria e conversas por telefone, veio a cartada final. Inesperadamente, Nairzinha tascou um beijo em Lico e fisgou seu coração de vez. Pelo jeito, estava escrito nas estrelas.

“Desde que fiquei viúva saia, ia para os bailinhos com as minhas amigas, mas nunca fiquei com ninguém”, conta a senhora. A partir daí, começou uma vida de alegrias. Os dois já fizeram várias viagens juntos, cruzeiros marítimos e protagonizaram momentos memoráveis. Nico faz questão de comemorar seus aniversários com festas temáticas e o casal, pelo alto astral e disposição que demonstra, é companhia constante dos filhos, já adultos. “Eles remoçaram depois que se conheceram”, conta Ana, filha de Lico, que tem mais um filho e três netos. Nairzinha tem três filhos e três netos. 

Todos aprovam o relacionamento do casal, que anda de aliança de compromisso e reserva às quintas-feiras, sábados e domingos para se encontrar. Morar junto, porém, não está nos planos. “Tenho minha liberdade, não gosto de muito grude”, diz Nairzinha, que, ciumenta assumida, faz marcação cerrada em cima de Lico. “Bobagem, ele só pensa nela”, confidencia a filha Ana. No próximo Dia dos Namorados, Lico, que costuma ganhar bons presentes da namorada, já sabe o que vai dar: um vaso de flores. Ops! Contou antes? “Mas vão ser flores diferentes”, justifica.

Como católica praticante, Nairzinha costuma dedicar algum tempo de suas manhãs para orações. Diante da ironia de Lico de que deve ter muitos pecados para pagar, deu a flechada derradeira: “meu único pecado é te amar demais”. Aprendam jovens!
 
…Encantamento


 

Bastam alguns minutos de conversa com eles para perceber que sim, eles estão apaixonados. Há 9 meses a comerciante Maria Madalena Tolon, 66 anos, e o professor Antonio José de Oliveira Cruz, 68, revivem as emoções despertadas pelo amor e revelam o sentimento nas palavras.

“Não estava esperando, mas não me fechei, fiquei aberta para encontrar um novo amor. É interessante viver esta emoção agora, é um sentimento mais maduro e ao mesmo tempo é como voltar à adolescência”, revela Madalena, viúva há 8 anos, depois de um casamento de quase quatro décadas e com três filhos, 

“É sempre uma alegria estar com ela, difícil não haver prazer, diversão, namoro, é uma companhia espetacular, tudo o que a gente vive é muito intenso. Será que estou apaixonado?”, pergunta Antonio, já sabendo a resposta. 

Diferente de Madalena, Antonio já tinha jogado a toalha. “Estava viúvo há 5 anos e neste tempo ninguém me despertou a vontade de ficar. Tinha perdido as esperanças”, confessa. Até que os olhares se cruzaram em uma festa de aniversário de um amigo em comum.

“A gente se olhou de um modo muito intenso e, depois de um tempo, um foi na direção do outro para dançar”, conta ele. Madalena tem uma versão um pouco diferente: “Bati o olho nele e pensei: nossa, que coroa simpático”, brinca. Percebendo que tinham outras de olho no viúvo disponível, ela o tirou para dançar e a partir dai não o largou mais naquela noite. Entre o primeiro encontro e o início do namoro levou um mês.

Hoje o casal protagoniza cenas do tipo caminhar na praia de mãos dadas, olhando a lua. “Percebo que tem gente que fica olhando, mas não sei se por estranhar o nosso comportamento ou se é de inveja”, ironiza Antonio, que tem quatro filhos. Em comum, ambos nasceram em Portugal, mas vieram muito crianças para o Brasil. Este ano vão retornar juntos “à terrinha” para passear.