Digital Jazz

Almir Chediak, uma alma musical

11/05/2015
Almir Chediak, uma alma musical | Jornal da Orla
Uma das maiores contribuições musicais feitas para a nossa MPB, foi idealizada e realizada pelo saudoso violonista, compositor e produtor cultural Almir Chediak, conhecido como o maior “mapeador” da nossa MPB.
 
Um homem que estava à frente de seu tempo e que, mesmo com uma passagem rápida por esta vida, deixou um legado que não tem preço e poderá ser desfrutado por várias gerações que nos sucederão.
 
Ele, na verdade, queria ser um concertista de música clássica, e seu grande ídolo era o violonista Turíbio Santos. Desde pequeno, um apaixonado pela música.
 
Muitos não sabem, mas ele deu aulas de harmonia musical para vários artistas como Gal Costa, Nara Leão, Carlos Lyra, Tim Maia, entre outros, sendo sempre muito requisitado e respeitado no meio musical.
 
De uma forma totalmente autodidata começou a pesquisar profundamente a música popular brasileira, criando uma forma sistemática de apresentação dos acordes, dissonâncias e harmonias.
 
Ajudou muito os músicos profissionais e os amadores, cifrando as músicas dos nossos maiores compositores. Trabalho único de pesquisa e de reconstituição musical.
 
Lançou diversos livros importantes como o “Dicionário de Acordes Cifrados” e os dois volumes de “Harmonia e Improvisação”, antes de se tornar o “Mestre dos Songbooks”, quando já pela sua Lumiar Discos & Editora, fundada em 1987, revolucionou o mercado.
 
As obras musicais dos maiores nomes da MPB foram apresentadas em livros. São eles: Caetano Veloso, Tom Jobim, Gilberto Gil, Chico Buarque, Djavan, Noel Rosa, Cazuza, Bossa Nova, alguns lançados no mercado. Todos revisitados com muita competência, organização e paciência.
 
Particularmente, considero como o seu grande feito o lançamento dos “songbooks” no formato de CD,  verdadeiras obras-primas, pelo seu absurdo conteúdo e por reunir uma centena de músicos e intérpretes de uma forma única e rara.
 
Ele lançou no mercado os preciosos CD’s com regravações das obras musicais de Noel Rosa, Ary Barroso, Carlos Lyra, Tom Jobim, Chico Buarque, Djavan, Dorival Caymmi, Edu Lobo, Marcos Valle, João Donato, Vinicius de Moraes, João Bosco entre outros.
 
Gravações intensas e exclusivas que foram apresentadas com novos arranjos e interpretadas pelos nossos maiores artistas. Encontros inusitados e muito marcantes deram o toque especial aos discos.
 
Registros que só poderiam ter sido feitos por esta grande alma musical. Muito obrigado, Almir Chediak por deixar a música mais simples e didática.
 
 
 
Chet Baker – “The Last Great Concert – My Favourite Things – Vol. I e II”
 
 
O trompetista e cantor Chet Baker foi um mito do Jazz e sua trajetória de vida conturbada foi marcada por muitos altos e baixos.
 
Foi um dos criadores do “West Coast Jazz” uma variante do “Cool Jazz” de Miles Davis e Gerry Mulligan e a sua forma de cantar influenciou diretamente a Bossa Nova e muitos cantores de diversas gerações.
 
Destaco suas últimas gravações, feitas ao vivo na Alemanha no ano de 1988, ao lado da NDR Big Band e da Radio Orchestra Hannover, registradas duas semanas antes do seu falecimento, ocorrido em circunstâncias que permanecem duvidosas até os dias de hoje.
 
Nesse primoroso trabalho, somente lançado 2 anos depois, no ano de 1990 pelo selo Enja, destaque para as participações de Walter Norris no piano, Herb Geller no saxofone, John Schoeder na guitarra, Lucas Lindholm no contrabaixo e Aage Taggaard na bateria.
 
Apesar de estar debilitado de saúde e decadente, neste concerto Chet Baker deu o máximo da sua capacidade e o resultado musical é comovente.
 
E até parece que ali ele estava se despedindo do seu público com uma grande “performance”.
 
Coisas que sentimos ao ouvir com atenção as faixas do disco e que não podemos explicar.
 
O disco duplo tem 14 faixas, divididos em dois “sets” de 7 músicas cada um e no primeiro disco merecem destaque os temas de abertura “All Blues” (que homenageia Miles Davis) , “My Funny Valentine”, “Summertime” e “I Fall In Love Too Easily, relembrando a sonoridade mágica dos anos 50, que foi o auge da sua carreira.
 
Já no segundo disco, destaco o clássico “Look For The Silver Lining”, e mais “Conception”. “There`s A Small Hotel” e a balada de emocionar “Tenderly”.
 
Despedida em grande estilo deste improvisador lírico, autodidata, dono de um toque macio e de vocais sussurrantes. É um dos meus artistas favoritos.
 
 
 
Stan Getz & Kenny Barron – “People Time”
 
 
Este álbum duplo do saxofonista Stan Getz, com 14 temas, lançado originalmente em 1992 pelo selo Verve Gitanes Jazz, foi eleito pela revista Jazz Times como um dos 50 melhores álbuns de sax tenor de todos os tempos.
 
E, curiosamente, também foi gravado pouco antes da sua morte e é considerado por muitos como seu testamento musical.
 
Assim como aconteceu como a maioria dos gênios do Jazz, ele teve uma vida desregrada, instável e cheia de turbulências.
 
Pode ser considerado como um dos maiores embaixadores da Bossa Nova nos Estados Unidos.
 
No início do movimento, fez gravações antológicas ao lado de João Gilberto, Astrud Gilberto e Tom Jobim. Sempre foi um grande fã e incentivador da nossa música.
 
Em 2010, as 14 faixas do CD original ganharam outras inéditas. Todas gravadas ao vivo, no formato duo de sax e piano, no mítico Café Montmartre, localizado na cidade de Copenhague, considerado um dos mais tradicionais templos do Jazz da Europa, fundado em 1959.
 
Surpreende ouvir a vitalidade do sopro de Stan Getz encontrando seu velho parceiro Kenny Barron ao piano. Cumplicidade pura. 
 
No primeiro disco, destaque para “East Of The Sun” (uma das minhas preferidas), o clássico “Night and Day”, “Like Someone In Love” e “I Remember Clifford”.
 
Já o segundo disco tem como destaques “First Song (For Ruth)”, “There Is No Greater Love”, a faixa título “Pepople Time”, “Softly, As In A Morning Sunrise” e “Soul Eyes”.
 
Stan Getz, saxofonista de sopro melódico, supremo e absoluto. Outro da minha lista de favoritos.