Em 2012, Bruno Fagundes foi entrevistado pela página para falar sobre a peça “Vermelho”, em cartaz em São Paulo. Na época, ele contracenava com o pai, Antônio Fagundes, um ícone da TV, do teatro e do cinema. Três anos após, eles se apresentam no Coliseu, neste sábado, às 21h30, com a comédia “Tribos”, trazida para a cidade pela Hiperion Artes. Bruno interpreta o personagem Billy, um surdo em uma família em que todos podem ouvir. Politicamente incorreto, o pai, Fagundes, cria o rapaz como se ele estivesse em um casulo. O espetáculo promete diálogos afiados, cheios de acidez, com um texto que aborda a metáfora da surdez nas relações pessoais, onde todos falam, mas ninguém se escuta. Antônio Fagundes fala sobre essa questão e muitas outras, nesta entrevista.
Como é contracenar, pela segunda vez, com o filho?
Deu certo (risos)… A primeira vez já foi maravilhoso, porque ele é disciplinado, é estudioso… tem uma vontade imensa de estar no palco e um interesse em tudo o que o rodeia. Em uma peça como “Vermelho”, em que um dependia do outro, se um de nós falhasse estaria tudo perdido. Ficamos um ano em cartaz, e a peça volta agora, em São Paulo. Da primeira vez, eu o convidei. Agora, para “Tribos”, o convite se inverteu, foi ele quem me chamou, montamos uma cooperativa e realizamos o espetáculo.
Invertendo a pergunta que foi feita a ele, aqui na coluna, em 2012, qual a dor e a delícia de se trabalhar, no seu caso, com o filho?
Não tem dor nenhuma, é só prazer. E é um orgulho ver que ele evoluiu tanto de “Vermelho” para cá, que isso pode ser conferido em “Tribos”. É algo muito positivo, e é uma delícia, porque, além de talentoso, ele é uma companhia excelente e é muito bem-humorado.
“Tribos” aborda questões como a surdez universal, que ultrapassa os limites da deficiência auditiva e influencia as relações humanas. Para você, o que é saber ouvir?
A gente tem uma base ruim de aceitação de diferença, que gera a intolerância quando era o momento de aceitar o que talvez não seja comum dentro de um ponto de vista. Na peça, metaforicamente, usamos a deficiência auditiva para falar da surdez do mundo, onde qualquer minoria, seja ela formada por negros, judeus, homossexuais, não tem uma estrutura igual. Há uma frase na peça, que gosto muito: “O mundo é surdo, nós somos apenas mais um na multidão”. E é essa mensagem que se multiplica em “Tribos”.
Em comum com “Vermelho”, o espetáculo “Tribos” também fala da banalidade das relações humanas. As relações precisam se fortalecer?
Com certeza! Estamos na era dita a da informação, mas nunca falamos tão pouco e nunca fomos tão surdos. Por exemplo, uma amiga me envia uma mensagem dizendo que está com saudade. Ao invés de mandar outra resposta, eu ligo, e ela não atende. A incomunicabilidade na época da comunicação é tanta que se tornou alarmante. É a era do narcisismo, onde todos querem se exibir, mas ninguém admira ninguém porque todos estão ocupados demais admirando a si próprio.
Você chegou a um patamar em que escolhe o que quer fazer. Há algo que ainda queira interpretar?
Sim, sempre tem! Só o Shakespeare tem 37 peças, e eu só fiz uma dele. Não me vem à mente nada específico, mas é tanta coisa… isso é ótimo!