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Eric Clapton – 70 anos de música

13/04/2015
Eric Clapton – 70 anos de música | Jornal da Orla
Ele completou 70 anos no dia 30 de março e vai poder comemorar em grande estilo, pilotando, como poucos, a sua inseparável e velha guitarra fender stratocaster azul desbotada.
 
Seja no Rock, no R&B ou principalmente no Blues, ele é uma verdadeira lenda do seu instrumento e considerado ao lado de Jimmy Hendrix, um dos guitarristas mais influentes de todos os tempos.
 
Já estão agendados grandes shows para comemorar seu aniversário, no templo sagrado do Madison Square Garden na cidade de Nova York nos dias 1 e 2 de maio (mesmo palco onde ele no ano de 1968 se apresentou com o grupo Cream e inaugurou a versão moderna do local) e depois entre os dias 14 e 23 de maio ele estará na sua terra natal na Inglaterra para uma temporada de seis apresentações no mítico Royal Albert Hall.
 
Ele vai estar muito bem acompanhado pela sua superbanda de músicos formada por Paul Carrack, Steve Gadd, Nathan East, Chris Stainton, Sharon White e Michelle John.
 
São mais de 50 anos de carreira e tenho notado, particularmente nos últimos anos, que ele deixou transparecer, de forma muito evidente, as suas influências do Blues e de seus grandes ídolos desde a infância, que são Howlin’ Wolf, Muddy Waters e Freddy King. É evidente que o Blues pulsa forte nas suas veias.
 
Outro ponto que merece destaque na sua carreira é a organização e realização do Festival Crossroads, que sempre reúne os maiores guitarristas e músicos de diversas gerações.  Toda a renda dos encontros realizados em 1999, 2004, 2207, 2010 e 2013 foram revertidos para o Crossroads Centre, centro para tratamento de dependentes de álcool e drogas, que Eric Clapton fundou e mantém em Antiqua, no Caribe.
 
Recomendo a leitura do livro “Eric Clapton – A História Ilustrada Definitiva”, de Chris Welch, lançado pela Editora Lafonte, dividido em 11 capítulos, recheados de fotografias, guitarras, capas de discos, cartazes dos seus shows principais e muitas histórias.
 
E também, fazendo parte das comemorações do seu aniversário, será lançada no final deste mês de abril uma coletânea do selo Reprise Records com 3 CDs, “Forever Man”, totalizando 51 músicas com suas principais gravações de estúdio, ao vivo e de blues, num apanhado de mais de 30 anos de trabalho na gravadora.
 
Clapton conseguiu de forma muito transparente expressar suas alegrias e tristezas em suas composições e esta autenticidade lhe dá créditos muito importantes.
 
Com certeza, ele vai se apresentar de forma bem simples e mesmo assim vai conseguir hipnotizar seus fãs felizardos que lá estarão, provando que o menos é mais. Ele vai dar o recado apenas com a beleza das suas canções e com os seus impressionantes solos de guitarra.
 
Não serão necessários palcos gigantescos, coreografias e figurinos chamativos, muito menos explosões ou iluminação psicodélica. Absoluta coerência com sua personalidade discreta.
 
Um homem de poucas palavras e que fala muito mais através da sua música. Sua voz, por incrível que pareça, com o passar dos anos, se tornou cada vez melhor e com um timbre inconfundível e marcante.
 
Tenho certeza de que nos “setlists” destes shows de comemoração do seu aniversário de 70 anos, estarão apenas as músicas que ele estiver com vontade de tocar e cantar. Nada de imposições, pressões do público ou modismos. Assim é Eric Clapton, um gigante da música.
 
 
 
 
Carol Saboya, Antonio Adolfo e Hendrik Meurkens – “Copa Village”

 
A inspiração para a gravação deste CD primoroso veio do disco clássico “Aquarela do Brasil”, da cantora Elis Regina, gravado apenas em 2 dias na Europa no ano de 1969, ao lado do genial gaitista belga Toots Thielemans.
 
Quarenta e seis anos depois, a afinada e talentosa cantora carioca Carol Saboya se juntou com seu pai, o inspirado pianista, arranjador e compositor Antonio Adolfo (que coincidentemente estava presente na gravação do disco ao lado de Elis & Toots) e mais o gaitista e vibrafonista alemão radicado nos Estados Unidos Hendrik Meurkens, para gravar 11 faixas em 2015,  exclusivamente para o mercado americano, pelo selo AAM Records.
 
O nome do CD homenageia Copacabana, bairro mítico da cidade do Rio de Janeiro, onde a Bossa Nova se eternizou e também o bairro da cidade de Nova York, na famosa Rua 52, Greenwich Village, onde o Jazz ferveu na era do Bebop.
 
E esta mágica mistura entre o Jazz e a Bossa Nova é o grande charme do trabalho, que contou também com as marcantes participações dos músicos Claudio Spiewak na guitarra, Itaiguara Brandão no contrabaixo, Adriano Santos na bateria e André Siqueira na percussão.
 
O pianista Antonio Adolfo está sempre em movimento entre o Brasil e os Estados Unidos, divulgando e propagando a nossa música brasileira e fazendo uma arrojada fusão com o Jazz, uma das suas especialidades, o que particularmente gosto demais.
 
Já Carol Saboya é uma das vozes mais bonitas da cena atual das cantoras brasileiras e, sem dúvida, veio de berço, sua sensibilidade e sutileza nas interpretações. Voz doce e cristalina que toca o coração e agrada muito aos ouvidos.
 
E também fico cada vez mais impressionado com o raro talento de Hendrik Meurkens, músico que acompanho e admiro há muitos anos e que tem uma discografia maravilhosa, grande parte influenciada pela música brasileira. Seus improvisos são de tirar o sono.
 
Seleciono os temas “Garota de Ipanema”, “Água de Beber”, “Two Kites”, todas Jobinianas e mais as inspiradas “Show de Bola”, “Pretty World”, “Visão” e a faixa título “Copa Village”.
 
Apesar da regravação de diversos clássicos, o CD sai do lugar comum e apresenta uma sonoridade surpreendente e muito fácil de contagiar. Viva a Bossa Nova e o Jazz !!! E a sua natural e possível integração.
 
 

Duduka da Fonseca Trio – “Jive Samba”

 
Duduka da Fonseca Trio – “Jive Samba”
 
Aqui está outro bom exemplo de um grande músico brasileiro que faz mais sucesso no exterior do que aqui no Brasil.
 
O incrível baterista Duduka da Fonseca está radicado em Nova York desde o ano de 1975 e é um dos grandes representantes e divulgadores do Jazz e da música Brasil no exterior, principalmente com a levada no “Samba Jazz”.
 
Participou da gravação de mais de 200 álbuns e acompanhou os maiores nomes do Jazz e da Bossa Nova, como Antonio Carlos Jobim, Astrud Gilberto, Gerry Mulligan, Kenny Barron, Nancy Wilson, Maucha Adnet, entre outros importantes.
 
Fundou vários grupos instrumentais, com destaque para o Trio da Paz, que tem vários trabalhos de altíssima qualidade, todos lançados no exterior.
 
Ele acaba de lançar mais um trabalho espetacular no exterior pelo selo Zoho Music, ao lado do fenomenal pianista David Feldman e do talentoso contrabaixista Guto Wirti. E que contou também com a participação especial do saxofonista Paulo Levi.
 
Duduka, de forma muito inspirada, reuniu composições de grandes nomes do Jazz como Nat Adederley, Keith Jarrett, John Scofield, Joe Henderson, McCoy Tyner, Kenny Barron, Clare Fischer, Herbie Hancock, Wayne Shorter e Chick Corea. que tiveram inspiração na música brasileira.
 
Destaco os temas “Jive Samba”, “Lucky Southern”, “Speak Like A Child”, as belas baladas “Clouds” e “Pensativa” e as minhas preferidas “Sco’s Bossa”  e “Recorda Me”, que têm um solo de bateria na abertura, de arrepiar.
 
Quando estive com ele pessoalmente anos atrás, na cidade de Ouro Preto, num show tributo à cantora Billie Holiday, pude desfrutar de agradáveis momentos musicais ao seu lado e do time de “all stars” formado pelo guitarrista Bucky Pizzarelli e dos contrabaixistas Martin Pizzarelli e Ron Carter, da cantora Madeleine Peyroux e do saudoso pianista Mulgrew Miller. Um show inesquecível realizado em praça pública, bem na frente da principal igreja da pitoresca cidade histórica.
 
Para encerrar, destaco que ele tem o grande desejo de estar mais presente e requisitado para apresentações aqui no Brasil, para poder mostrar sua levada vigorosa e sempre muito elegante. O que seria muito justo e merecido, diga-se de passagem.