Na semana passada, coincidentemente dois gênios da música, completaram aniversários de nascimento no mesmo dia. Ambos, absolutamente importantes para todos nós e é impossível não se emocionar com o legado musical que eles nos deixaram.
Em 17 de março de 1919, nascia nos Estados Unidos, em Montgomery, Alabama, o inesquecível cantor e pianista Nat King Cole, que completaria neste ano, 96 anos de idade.
Já, em 17 de março de 1945 nascia em Porto Alegre, a incrível cantora Elis Regina, que completaria em 2015, 70 anos de vida.
Nathaniel Adams Coles nasceu numa família musical e teve a sorte de receber dos pais grande incentivo da sua Mãe para aprender a tocar piano, única professora que ele teve na vida. Começou a tocar profissionalmente na cidade de Chicago, porém em 1937, quando se mudou para Los Angeles, formou um trio de Jazz especial, que tinha uma sonoridade única e de vanguarda, com apenas piano, guitarra e contrabaixo.
Além do piano, Nat King Cole usou a voz incrível como grande instrumento. O seu timbre vocal aveludado é inesquecível e incomparável. Sempre acalentou o sonho de ser um “showman”, façanha esta que conseguiu realizar com grande maestria.
Só para lembrar as suas interpretações em “Sweet Lorraine”, “Straigthen Up And Fly Right”, “For Sentimental Reasons”, “Lush Life”, “Mona Lisa”, “Nature Boy” e os meus temas preferidos “Unforgettable” e “Stardust”, simplesmente definitivas.
Com elegância e talento ao piano e na voz, ele enfrentou com veemência o racismo e a intolerância e, talvez por isso, foi o primeiro artista negro a comandar um programa na TV americana.
Outro ponto importante sobre Nat King Cole ocorreu no ano de 1991, 25 anos depois da sua morte, quando através do uso da tecnologia, ouviu-se, pela primeira vez na história, um dueto póstumo entre ele e a sua filha, a cantora Natalie Cole, com a regravação de “Unforgettable”.
Mudando de foco, o genial Vinicius de Moraes foi responsável pelo apelido “Pimentinha” que Elis Regina ganhou, talvez pelo seu gênio forte e marcante. E por também não digerir, com facilidade, o surgimento de algo novo. Era muito conservadora.
Sem dúvida, uma das cantoras mais importantes da nossa MPB, apesar de só ter vivido 36 anos. Sua voz extremamente afinada, sempre com uma interpretação intensa e emocional, marcou várias gerações e até os dias de hoje continua como grande referência.
Suas interpretações em “Arrastão”, “Madalena”, “Como Nossos Pais”, “O Bêbado e o Equilibrista”, “Águas de Março” ao lado de Tom Jobim, “Me Deixas Louca”, “Aprendendo a Jogar”, “Dois Pra Lá, Dois Pra Cá”, “Alô, Alô Marciano” também são definitivas.
Para celebrar as comemorações do seu aniversário, recomendo a leitura da biografia escrita pelo jornalista Julio Maria, “Nada Será Como Antes”, lançada pela Editora Master Books, esta semana, com 424 páginas repletas de histórias e novidades.
Também recomendo uma visita ao seu novíssimo site oficial www.elisregina.com.br, que está repleto de novidades.
Para muitos apenas a maior cantora do Brasil e como ela mesma definiu: “Sou apenas meu tipo inesquecível…”.
Gilson Peranzzetta & Tito Madi – “Quero Te Dizer Que Eu Te Amo”
Ao lado de Johnny Alf, o cantor e compositor Tito Madi, grande mestre do samba-canção, pode ser considerado, também, como um dos precursores da Bossa Nova.
Radicou-se no Rio de Janeiro no ano de 1954 e sua voz e repertório serviram de inspiração e referência para muitos artistas do gênero e ele mesmo acredita ter ajudado a criar o movimento.
Lançou recentemente ao lado do pianista, compositor, maestro e arranjador Gilson Peranzzetta, pelo selo Ponto G e da gravadora Fina Flor, um CD com 14 faixas, produzido pela competente produtora Eliana Fonseca Peranzzetta. O disco foi gravado anos atrás e somente agora lançado no mercado.
Tive a honra e o privilégio de estar com Gilson e Tito pessoalmente na minha recente passagem pelo do Rio de Janeiro, no dia 1 de março de 2015, data de comemoração dos 450 anos da “Cidade Maravilhosa”.
O encontro foi num local muito especial para mim: na calçada da Toca do Vinicius, em Ipanema, do meu caro amigo Carlos Alberto Afonso, uma das maiores autoridades de Bossa Nova deste país e que naquele dia promoveu um grande evento aberto ao público.
Além do sempre inspirado Gilson Peranzzetta na direção musical, arranjos, piano, clarineta e solos sublimes, Tito Madi foi acompanhado por Mauro Senise no sax e flauta, Chiquito Braga no violão e guitarra, Paulo Russo no contrabaixo e João Cortez na bateria e percussão.
Seleciono os temas “Indiferença”, “Flor de Mim”, “Mais Do Que Sonhei”, “Amanhecer”, “Sorriso de Luz” e a faixa título “Quero Te Dizer Que Eu Te Amo”
Sinto apenas que Tito Madi merecia ter tido mais respeito e divulgação aqui no Brasil. São 60 anos de carreira, mais de 30 discos lançados, e o seu repertório é um dos maiores patrimônios da nossa MPB, sem falar na sua grande sensibilidade. Não podemos nunca nos esquecer disso.
Victor Biglione – “Violão de Aço Brasil”
Nesta recente passagem pela cidade do Rio de Janeiro, me encontrei também com o guitarrista Victor Biglione, no Bairro de Copacabana, e lá recebi, das suas mãos, seu mais recente CD, lançado de forma independente no final do ano passado e distribuído pela Tratore.
Ele homenageia o violão de aço que tem uma sonoridade incrível e é uma de suas grandes especialidades.
Devemos lembrar suas importantes gravações com o instrumento, ao lado de João Bosco, Andy Summers e Marcos Valle.
Para Biglione, com o aparecimento da Bossa Nova, o violão de aço no Brasil passou a ser utilizado mais como acompanhamento e, então, a ideia do CD é mostrar que a sua sonoridade se encaixa nas diversas fases da nossa MPB e até mesmo com o Tango.
Eclético por formação, ele dá um verdadeiro show de interpretação e seus improvisos são vigorosos e muito inspirados, valorizando sua proposta.
Mais de 25 músicos participaram das gravações, com destaque para Marcos Ariel e David Feldman nos pianos, Jorge Helder e Sergio Barrozo nos contrabaixos acústicos, Arthur Maia e Neil Teixeira nos contrabaixos elétricos, Victor Bertrami e Andre Tandeta nas baterias, Claudio Infante e Marcos Suzano nas percussões e Carlos Malta nos sopros.
Não deixe de ouvir “Insensatez”, “Wave”, “Amazonas”, “As Rosas Não Falam”, “Muié Rendeira”, “Fé Cega, Faca Amolada” e “Por Una Cabeza”.
Na minha opinião, Victor Biglione é um dos principais guitarristas deste planeta, além de criativo compositor, e é muito bonito ver o quanto ele ama o nosso Brasil. Nascido na Argentina, ele é brasileiro de coração e o músico que mais acompanhou e gravou com os maiores nomes da nossa MPB. Ama o nosso país, o Rio de Janeiro e o bairro de Copacabana.
Em nosso recente encontro, na companhia do contrabaixista Luiz Alves, tive a honra de ter ele como guia pelas ruas de Copacabana e com ele pude conhecer lugares importantes no bairro, onde a Bossa Nova fez sua história e continua fazendo.
Obrigado Victor Biglione, por seu incrível talento e imensa simpatia.