O humorista MAURÍCIO MANFRINI ficou conhecido no Brasil pelo personagem PAULINHO GOGÓ, que hoje interpreta no programa “A Praça é Nossa”, do SBT, e na “Patrulha da Cidade”, da Super Rádio Tupi. A arte de fazer rir foi notada desde os tempos de infância, quando suas piadas e brincadeiras eram responsáveis por tirar risos dos mais sérios e calados da turma. Mas a estreia nos palcos foi em 1993, quando fez parte do elenco do espetáculo infantil “A Bruxinha que Era Boa”, de Maria Clara Machado. Desde então, fez dublagens para desenhos de sucesso, como “Os Simpsons” e até seriados, como “Arquivo X”. Fez parte do elenco da “Escolinha do Professor Raimundo” e, nesta entrevista, revela que, ao contrário do personagem extrovertido que o consagrou, ele é bem tímido.
Quando surgiu a inspiração para criar o Paulinho Gogó?
O personagem foi criado na Rua do Livramento, no Rio de Janeiro. Quando ia para o trabalho, na Super Rádio Tupi, escutava as conversas daqueles trabalhadores, em frente ao Sindicato dos Arrumadores do Cais do Porto. Testei o personagem em 97, ele gerou empatia com o público e está aí até hoje.
Por que esse nome?
Porque o personagem gosta de contar histórias. Quando entrei para a “Escolinha do Professor Raimundo”, o Paulinho Gogó já estava criado. Ele entrou com o bordão: “só tem tantan”. Não quis conflitar o nome, Paulinho Tantan, com o que ele já falava, pois o personagem já existia.
Como foi trabalhar com Chico Anysio?
Foi uma faculdade. Ele foi muito generoso comigo, assim como o Carlos Alberto e o Marcelo Nóbrega também são, deixando que eu tenha uma liberdade imensa para fazer os meus textos de improviso. Eu me sinto abençoado por ter passado por esses grandes nomes do humor, como também por Ronald Golias (considerado um dos pioneiros na televisão do país, que marcou como o personagem “Bronco”, na década de 80), o Rogério Cardoso (o eterno “Seu Flô” do seriado “A Grande Família”) e o Pedro Bismarck (“Nerso da Capetinga”).
Você está no SBT desde 2004. Tem alguma história com o Silvio Santos?
Uma vez eu estava apertado para ir ao banheiro e, naquele dia, seria o primeiro a gravar. Quando estava fazendo xixi a porta se abriu e, de repente, do meu lado, no mictório, estava o Silvio Santos. Eu não sabia se o cumprimentava, lembro que ele falou alguma coisa corriqueira e eu fiquei mudo. É daquelas coisas que você não imagina que pode acontecer na sua vida: o Silvio Santos fazendo xixi do meu lado!
Desde 1995, você está no programa de rádio “Patrulha da Cidade”. Não se sente 20 anos fazendo as mesmas coisas?
Não, porque, mesmo fazendo as mesmas coisas, procuro maneiras diferentes de concretizá-las, até mesmo com palavreados, gírias diferentes. É o feijão com arroz bem feito, algumas vezes com ovo mexido, outras com outro ingrediente, e por aí vai. Isso me motiva a fazer coisas diferentes com um mesmo personagem. Eu, antigamente, era muito preocupado em ter vários personagens. Até que o Ronald Golias me disse que era preciso ter apenas um, desde que ele fosse verdadeiro. Então, a partir de então, desencanei disso e, pelo Paulinho, aprendi até a tocar. Vou acrescentando coisas ao repertório dele, como jogar bola e ouvir as histórias dos outros. O personagem ficou encorpado, fortalecido e extremamente real.
Mas de onde tira as histórias que coloca na boca do personagem?
Do dia a dia, já estou condicionado a perceber o que é engraçado das histórias dos outros, e das minhas, e incorporar no repertório do personagem. Isso acontece naturalmente, por causa da profissão.
E, contando as próprias histórias, até onde você vai para o personagem não expor demais o ator?
Eu não me incomodo com isso. Cada um tem uma maneira de ser, uma condição. Eu quero fazer o publico sorrir. Então, eu respeito quem faz de outra maneira, mas o único limite que me coloco é o de não colocar no meu show ofensas gratuitas. Se for para falar mal de alguém, falo mal de mim mesmo ou dos personagens que crio. Assim, ninguém vai ficar ofendido. Às vezes, sem querer, pode acontecer de algo ter uma repercussão diferente do que eu imaginava. Mas nesse caso, é pedir desculpas, passar uma borracha e seguir em frente.
O que o Mauricio Manfrini tem do Paulinho Gogó e vice-versa?
O humor, a alegria e o sorriso são os mesmos. Mas sou muito mais tímido que o personagem…
A sua timidez, então, é um paradoxo…
A maioria dos comediantes que conheço são tímidos. Eu uso o personagem para combater a timidez. Mas, por exemplo, fiz um show no Maracanãzinho para 17 mil pessoas e saí de casa tranquilo, preparado para subir no palco. Agora, se eu estou em uma festa como convidado e alguém me chama para o palco, ou se eu estou em um supermercado e o locutor anuncia a minha presença e me chama para falar alguma coisa, como eu não fui para aquilo, se me pegar de surpresa, Nossa Senhora, eu saio correndo!