Porto

Queda de braço no Porto

23/01/2015
Queda de braço no Porto | Jornal da Orla
Os armadores e seus navios é que devem se adequar ao Porto de Santos, não o contrário. Com esta declaração firme, o novo presidente da Praticagem de Santos, Cláudio Paulino, marca a posição da entidade, diante da tendência, em andamento, de o maior complexo portuário do hemisfério sul receber embarcações cada vez maiores.
 
Cada vez mais, operam no porto navios com até 355 metros de comprimento (a média de uma embarcação normal é 266 metros), capazes de transportar mais cargas, sim, mas que necessitam de condições especiais: berços de atracação maiores, um canal de navegação mais profundo, mais procedimentos de segurança…
 
No entanto, segundo Paulino, só quem leva vantagem neste cenário é o armador. “O seu custo operacional diminui, mas nem por isso ele repassa essa redução para o frete. O dono da carga e o porto nada ganham com isso”, argumenta. Mais do que isso. “O porto é obrigado a realizar investimentos em dragagem e segurança na navegação para poder receber estas embarcações”, completa o presidente, que assumiu o cargo no primeiro dia deste ano e recebeu jornalistas esta semana, para anunciar os planos da Praticagem nos próximos dois anos.
 
Paulino argumenta que, para o dono da carga, pouco importa o tamanho do navio em que sua carga é transportada, interessa apenas a velocidade em que ela é embarcada ou desembarcada e o custo da operação. “Quem deveria ter voz nesta discussão é a Autoridade Marítima, que é responsável pela segurança na navegação; a Autoridade Portuária, para que crie organização e deixe de gastar energia e recursos em dragagem para aplicar em outras coisas; a Praticagem, como agente da segurança da navegação; e os donos da carga, que não são os terminais”, declara.

“É balela que haverá redução no valor do frete”, diz Paulino

As falas de Paulino evidenciam a queda de braço que a Praticagem vem travando com as armadoras. O lance mais recente deste conflito é a possibilidade de haver redução de 70% nos valores pagos à entidade. Segundo ele, criou-se uma falsa ideia de que “os práticos ganham demais”. Ele explica que, na verdade, as armadoras pagam por um serviço, que inclui, além do trabalho dos pilotos, uma grande estrutura de tecnologia e transporte. “Temos mais de 100 funcionários, uma estrutura de estaleiro e mantemos seis lanchas funcionando 24 horas por dia, 365 dias por ano, para operar com agilidade e segurança”, argumenta.


 

Além disso, diz, a Praticagem faz mais do que o que seria de sua responsabilidade. “Investimos R$ 8 milhões na criação de um Centro de Operações”. Ele se refere a uma central de monitoramento dotada de alta tecnologia que acompanha todo o trânsito de embarcações do porto, informações meteorológicas, da maré e ventos, entre outros fatores.
 
Para ele, a tentativa de reduzir o faturamento da Praticagem tem como principal objetivo “quebrar a espinha” da entidade. “O armador tem interesses econômicos fortíssimos, ele não queria ter restrição nenhuma, queria poder entrar e sair do porto a hora que quisesse. Ele quer é ter práticos como funcionários dele, para fazer o que bem entende”, afirma.
 
Segundo ele, é falsa a informação de que o custo do frete será reduzido se houver diminuição no custo da Praticagem. “É balela. Para o dono da carga, o frete vai continuar o mesmo. Simplesmente vai sobrar mais dinheiro no bolso do armador estrangeiro, que nada sozinho de braçadas”, completa.