E, agora, com duas atrações: o Bottle’s Bar (que incorporou o antigo Baccará) e o Little Club, locais sagrados, onde a Bossa Nova reinou soberana entre os anos de 1958 e 1965. Então, o que já era bom, ficou melhor ainda.
Depois da reabertura no reveillon de 2013/2014, numa ousada iniciativa da arrojada e batalhadora cantora e produtora Amanda Bravo (filha de Durval Ferreira, um dos melodistas e compositores mais importantes da Bossa Nova, autor dos clássicos “Batida Diferente”, “Estamos Aí”, “Tristeza de Nós Dois”, “Chuva”, “Moça Flor”, entre outros temas marcantes), com os empresários Sérgio de Martino e do seu filho Maurício, o local funcionou ativamente por 6 meses, com vários shows históricos e memoráveis.
A um deles, pude assistir ao vivo, na noite de 07 de março de 2014, quando, depois de 50 anos, retornava ao Bottle’s Bar, o músico Bebeto Castilho, integrante do incrível grupo Tamba Trio, naquela noite ao lado do Paulo Midosi Trio. Estava eu, na hora e no lugar certo, para testemunhar este reencontro de celebração à Bossa Nova.
E, como Amanda Bravo me contou, “estava escrito nas estrelas” a possibilidade da materialização do projeto de revitalização do local patrocinado pela Heineken, idealizado e executado pela agência de propaganda Hands.
Depois dos acertos formais, o local ficou fechado por 3 meses e foi restaurado pelo artista Felipe Morozini, que modificou toda a cenografia do local, inspirado nos elementos peculiares da Bossa Nova e nas linhas brutalistas da arquitetura da época. Além da restauração, a marca global está investindo no lugar, na acústica, no som, nas atrações musicais neste período de lançamento, em mídia, assessoria de imprensa e várias promoções.
Amanda promete que, depois desta fase de lançamento, serão realizados diversos projetos que movimentarão o espaço em todos os dias da semana, trazendo de volta ao local o merecido movimento de público e o seu merecido reconhecimento, que foi sua marca registrada, na década de 60.
Mais uma prova de que a Bossa Nova está mais forte e revigorada do que nunca. Não é coisa do passado, apenas de fatos e histórias contados nos livros. Ela é real, factível e está disponível a todos aqueles que querem sair do lugar comum e prestigiar a verdadeira música de qualidade, genuinamente brasileira.
Quando você for ao Rio de Janeiro, não deixe de visitar o Beco das Garrafas. Com certeza, você vai sair de lá embriagado pela boa música e absolutamente energizado. Afinal, você poderá entrar num verdadeiro templo sagrado, que tem no seu palco um verdadeiro altar, por onde já passaram os grandes nomes da nossa música. Impossível não se emocionar. Vida longa Beco das Garrafas. Amém, Bossa Nova.
Assista o vídeo clicando aqui.
Mauro Senise – “Danças”
Tive a honra de trazer o saxofonista e flautista Mauro Senise a Santos em duas oportunidades, com o grupo de música instrumental “Cama de Gato”, que teve em sua formação original, além dele, Rique Pantoja nos teclados, Arthur Maia no contrabaixo e Pascoal Meirelles na bateria. Que time maravilhoso.
E já se passaram mais de 40 anos de carreira como solista, deste que considero como um dos maiores nomes da música instrumental brasileira.
Acabou de lançar seu 20º álbum, o arrojado projeto duplo, que contempla o CD (13 faixas)/DVD (4 faixas), pelo selo Biscoito Fino, reunindo um time da pesada de velhos parceiros.
A começar pelos pianistas, que também são seus arranjadores e compositores preferidos: Gilson Peranzzetta, Cristovão Bastos, Antonio Adolfo. E também o vibrafonista Jota Moraes, que também ataca no piano.
E mais a Orquestra de Sonhos composta por 12 músicos, arregimentados por Hugo Pilger, além de Ricardo Costa na bateria, Rodrigo Villa e Zeca Assunção no contrabaixo, a grata revelação Gabriel Geszti no acordeon e piano, Mingo Araújo na percussão e também Leonardo Amuedo na guitarra.
O DVD registra em preto e branco o mágico encontro da música com a dança, com destaque para Deborah Colker e Chico Diaz e a direção inspirada de Walter Carvalho, que conseguiu traduzir, com imagens lindíssimas, todo o clima poético desta reunião de formas de expressão.
Meus destaques ficam por conta de “Vou Deitar e Rolar”, “Choro dos Mestres”, “Chorosa Blues”, “Miles”, “Casa de Marimbondo”, “Garoto de Poa”, “Sem Palavras”, “Ilusão à Toa”, “Harmonia das Esferas”, “Noite de Verão” e “Levitando”.
Mauro Senise conseguiu materializar vários de seus sonhos antigos com este trabalho e com seu sopro vigoroso executou um refinado diálogo entre a música brasileira e o Jazz. Com muita elegância e sofisticação.
Quatuor Ébène, Stacey Kent & Bernard Lavilliers – “Brazil”
A formação clássica de um quarteto de cordas, composta por 2 violinos, 1 viola e 1 cello, apresenta uma sonoridade incrível. E este quarteto francês consegue um algo mais, pois conseguem esbanjar uma incrível versatilidade na execução da música clássica, ou do Jazz, do Pop, do Soul ou do Rock.
Este álbum, lançado recentemente com 13 faixas pelo selo Erato/Warner Classics, é uma homenagem ao nosso país e trouxe convidados internacionais que estão muito acostumados com o nosso país e com a nossa música. Não deixa de ser uma inspirada declaração de amor à Bossa Nova.
Pierre Colombet, Grabriel Le Magadure, Mathieu Herzog e Raphael Merlin, formam este quarteto afinadíssimo e tiveram o privilégio de se juntar a vários convidados especiais, como a maravilhosa e afinada cantora Stacey Kent (que é fã declarada do Brasil e inclusive fala o português fluente), o cantor francês Bernard Lavilliers e o nosso mestre Marcos Valle, desta vez nos vocais, Jim Tomlinson, que é casado com Stacey Kent nos saxofones tenor e soprano, Minu Cinelu na percussão, Richard Hery na bateria, Philippe Faurie e Rémi Rière na guitarra, Stéphane Logerot no contrabaixo, além de um coral com 25 vozes e uma orquestra de cordas com 14 integrantes.
Todos os arranjos foram escritos pelo Quatour Ébène e surpreendem pela beleza e criatividade.
Não deixe de ouvir o clássico da Bossa Nova “So Nice” , “I Can’t Help It”, “The Ice Hotel” e a emocionante “Smile” na voz de Stacey Kent e o seu dueto mágico com Marcos Valle em “Águas de Março” e também “Ana Maria”, “Bebê”, e as cantadas por Bernard Lavilliers “O’Gringo” e “Guitar Song” . A faixa título “Brazil” encerra em grande estilo o CD.
E não é que deu tudo certo a mistura de todos os gêneros. Não deixe de conhecer este trabalho, que mescla a música clássica com o Jazz, Bossa Nova, Pop e o Soul, de forma suprema e absoluta.
A turnê europeia de lançamento do CD tem alcançado números surpreendentes e quem sabe um dia eles se apresentam em nosso país para mostrar ao vivo todo o seu potencial musical. Ao ouvir por várias vezes o CD, senti que eles estão sempre prontos para a música.