Com certeza, todos conhecem o trabalho do desenhista e animador DANIEL PUDLES, animador de personagens dos famosíssimos comerciais dos anos 90. Quem não se lembra do tigre da Kellogs, do chocolate dançante “Lollo”, do charmoso “Bond Boca”, da “Xuxinha” e do “Senninha”? Além disso, trabalhou em filmes não menos conhecidos, como “Cinegibi”, da “Turma da Mônica”, além de “Brasil Animado”, “Garoto Cósmico” e “O Menino e o Mundo”, forte candidato ao Oscar. Mas é a nova geração que está se divertindo com a série da Cartoon Network “Gui e Estopa” e com “Osmar, a Primeira Fatia do Pão de Forma”, no canal Gloob. Formado pela Escola Pan-americana de Arte e Design de SP, estará dia 6, às 19h30, no Shopping Pátio Iporanga, dentro da programação do “1º Nerd Cine Fest Santos – Festival de Cinema e Cultura Nerd e Geek do Litoral Paulista”, com a exposição “A Construção de Uma Ideia: do Esboço à Animação”.
Como é ter trabalhos famosos e, ao mesmo tempo, a imagem desconhecida?
Meu trabalho é atrás das câmeras, enquanto o de um ator, que é uma celebridade, é ficar diante delas. Sendo assim, a minha “atuação” é animar. Fico bastante confortável trabalhando dentro dos estúdios, sem as pessoas saberem quem eu sou.
Como é trabalhar com coisas inimagináveis?
A animação tem esse poder. O animador pode dar vida a um pão de forma e descobrir que aquele pão tem dias difíceis como nós. “Gui e Estopa”, por exemplo, permitem que eu continue com a animação clássica, fazendo personagens cativantes. Eles são bem caricatos e me divirto desenhando.
Como manter o olhar apurado e manter a criatividade em alerta?
O animador sempre está vendo problemas de desenho e de animação. É um trabalho que exige disciplina e um olhar educado. Manter a criatividade em alerta é como beber água, sempre procuro novas referências na literatura, cinema e música. É sempre buscar um novo gesto no desenho e tentar fugir de traços datados.
Durante a exposição, você lançará o projeto “Globo Mágico”. Como ele funciona?
É um projeto que tem como foco principal uma série de animação. A ideia é fazer com que as crianças aprendam sem se dar conta sobre a cultura de vários países a partir de contos e fábulas. No dia da exposição, mostraremos o processo de criação e vamos colocar no ar o site www. historiasdoglobomagico.com. Lá será possível encontrar contos dos cinco continentes e um blog de notícias para crianças.
Como surgiu a ideia de criar este projeto?
Minha noiva (a jornalista santista Tatiane Matheus, já entrevistada pela página), fez mestrado em produção executiva na Espanha e seu projeto foi uma série de animação. Ela escreveu o roteiro, fez a produção e me chamou para fazer toda a arte e animação. É a história de um diplomata aposentado que vive em uma casa em forma de barco (ela se inspirou nas casas do Pablo Neruda) que tem um monte de objetos inusitados. Seus netos encontram um globo mágico na biblioteca, que “viaja” através de contos.
Na era da tecnologia, é uma alternativa para fazer com que as crianças se interessem por histórias?
A ideia é associar os problemas deles com os contos. Um dos personagens adora comer todos os chocolates de uma vez só, e depois quer aproveitar os da prima, que sempre pensa no amanhã: come um bombom e guarda outro. Por que não “viajar” para a Grécia e conhecer a história “A Cigarra e a Formiga”? Pode ser por um livro, uma animação, um videogame ou um app, não importa a forma como a história é contada, mas sim que a criança tenha acesso a ela.
Qual é o principal desafio de fazer uma animação?
Mesmo com toda a tecnologia, o animador continua trabalhando muito, pois não cuida só dos desenhos e da animação, mas também do “lip sync”, que é a sincronia dos lábios com o som e checa a posição dos personagens em cada cena. É preciso conhecer as leis da física para que os movimentos tenham o “peso” proporcional aos personagens e de anatomia.
O sucesso de um trabalho passa pelo convívio entre animadores e roteiristas. Como funciona este trabalho?
É um laboratório de experiências, um casamento. O roteirista é o contador de histórias e o animador dá vida a elas. O que pode acontecer é que o roteirista tem uma ideia na cabeça, mas não consegue transmiti-la porque não sabe desenhar. Mas isso é resolvido com muita conversa e esboços.