Clara Monforte

Olhos nos olhos com Cida Coelho

11/07/2014
Olhos nos olhos com Cida Coelho | Jornal da Orla
A fonoaudióloga CIDA COELHO é conhecidíssima, até fora da região, por ministrar workshops e treinamentos para políticos, empresários, profissionais liberais e para grupos de executivos e equipes de liderança em diversas corporações. Especialista em voz pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia, especialista em Jornalismo Cientifico pela Unicamp, com mestrado e doutorado em Psicologia Social pela USP, ela é parceira em equipes de Media Training para porta-vozes de empresas e atua como consultora da TV Tribuna, afiliada da Rede Globo desde 1995. Nesta entrevista, revela todos os segredos da fala, e como lidar com a própria voz da melhor maneira possível.

 A voz pode favorecer, ou prejudicar, alguém em seus objetivos?
Sim. Na medida em que a voz é um dos principais instrumentos de expressão do ser humano, se não estiver bem adaptada, pode impactar negativamente a performance. Não precisa ser uma voz especial, aveludada, diferente, mas precisa revelar adequadamente o gênero, a faixa etária, o grau de escolaridade e a função profissional de quem fala. 
 
Pessoas insatisfeitas com a própria voz podem mudá-la?
Sem dúvida! O aparelho fonador tem grande plasticidade, pois é formado não apenas por estruturas duras (ossos e cartilagens), mas também por diversos músculos. Isso permite uma manipulação no som da voz, que pode se tornar mais grave, aguda, forte, encorpada. 
 
Como explicar algumas vozes serem tão parecidas, a ponto de ser possível confundi-las ao telefone?
A voz é um comportamento aprendido. Não nascemos falando, aprendemos a falar ouvindo nossos pais, familiares e outros grupos sociais. Por isso, é comum vermos padrões de comunicação que se repetem dentro de uma mesma família ou grupo. Há famílias onde a maioria fala alto, rápido, com movimentos amplos de boca.  Em outras, podemos ver o oposto.  Isso acontece não só por determinação genética ou imitação de um modelo, mas também para expressar uma convergência de estilo, que revela empatia.  Na maioria dos casos em que as vozes são parecidas, as pessoas têm um relacionamento afetivo positivo. Outro detalhe refere-se ao peso da genética. Há vários casos de pais e filhos por laço de adoção, que têm vozes idênticas. Nesses casos, a convivência e a empatia tiveram peso determinante.
 
Que características pessoais podem ser reveladas pela voz?
Quando ouvimos uma voz, frequentemente fazemos diversas associações. Podemos inferir se é homem ou mulher, qual é a faixa etária, qual o grau de escolaridade, de que lugar do país essa pessoa vem. Podemos ainda inferir alguns traços de temperamento, como autoridade, extroversão, ou estados de humor, como ansiedade ou tristeza.
 
Existe relação entre personalidade e voz?
Não podemos afirmar que todas as pessoas com determinada voz tenham a mesma personalidade. No entanto, frequentemente vozes graves e fortes revelam autoridade e liderança, enquanto vozes mais finas e fracas são associadas à insegurança ou imaturidade.
 
A voz muda de acordo com a idade? 
Assim como o nosso corpo, nossa voz também envelhece. As cartilagens tornam-se mais endurecidas e a musculatura menos ágil e mais atrofiada. Isso acontece natural e gradativamente. Algumas pessoas poderão sentir mais, outras menos, por motivos genéticos ou por exposição a agentes nocivos, como o cigarro. 
 
Isso acontece de forma igual para homens e mulheres?
Homens e mulheres tendem a perder a potência e a projeção vocal. As vozes masculinas tendem a se tornar mais agudas e as femininas mais graves. 
 
Como aparecem os problemas nas cordas vocais?
Os problemas benignos mais comuns nas pregas vocais acontecem por uso excessivo ou mau uso da voz. Falar alto durante horas, competir com ruídos ou gritar para dar comandos estão entre os campeões de abusos vocais.
 
Qual é o momento para procurar um fonoaudiólogo?
Toda rouquidão ou mudança na voz que persista por mais de duas semanas deve ser investigada. Quando não há rouquidão, mas a pessoa percebe que sua voz não está bem adaptada ao seu gênero, idade ou profissão, pode procurar um fonoaudiólogo em qualquer momento.  
 
O que faz mal e bem para a voz?
Gritar, pigarrear ou competir com ruídos ambientais e o cigarro, que persiste como um dos grandes vilões para a deterioração da voz. Para manter a voz saudável, alem de evitar os vilões acima, basta ter o sono e a alimentação equilibrados, hidratar bastante com farta ingestão de água e incluir na dieta uma maçã por dia.
 
O estresse e o nervosismo podem afetar a voz?
Sim, hormônios relacionados ao estresse podem alterar o padrão respiratório e ressecar a boca e a mucosa durante o uso da voz. Isso perturba todo o funcionamento do aparelho fonador e pode tornar a voz mais fina, tensa, além de perturbar a fluência e a coordenação entre a respiração e a fala. É necessário treino para que esses efeitos negativos não perturbem o resultado final da comunicação.