Digital Jazz

Paço Tom Jobim – Jardim Botânico (RJ)

07/07/2014
Paço Tom Jobim – Jardim Botânico (RJ) | Jornal da Orla
Recentemente vivi uma das grandes emoções musicais da minha vida, ao visitar, pela primeira vez, na cidade do Rio de Janeiro, mais precisamente no belíssimo e imponente Jardim Botânico, o Espaço Tom Jobim, museu dedicado ao nosso eterno maestro, que apresenta a exposição permanente “Tom Jobim – Música e Natureza”.
 
E a visita foi muito especial, pois a realizei em caráter exclusivo, na companhia da querida amiga Nildé Ferreira, parceira e cúmplice do saudoso Durval Ferreira, um dos grandes nomes da Bossa Nova, como compositor, intérprete e produtor.
 
Por incrível que pareça, o museu estava fechado, antes do horário tradicional, em razão da necessidade de manutenção. E ali, desolado, não podia imaginar estar na porta e não entrar no museu. Depois de alguma conversa na bilheteria do espaço com um funcio-nário muito atenciosos e gentil, conseguimos o que parecia impossível, ou seja, abrir o espaço exclusivo dedicado a ele.
 
E ali, a portas fechadas, pude sentir sua presença. Ele e sua música são referências muito fortes na minha vida e não pude conter a minha emoção (com muitas lágrimas),  por poder estar tão perto de objetos tão íntimos dele, inclusive seu piano de armário, onde dedilhou as primeiras notas do clássico “Garota de Ipanema” e tantas outras canções eternas.
 
E, pela primeira vez exposto ao público, o lindo piano de armário Weimar, usado por Jobim sua casa em Ipanema, tem várias teclas manchadas pelas suas digitais. Impossível não imaginar ele tocando só para mim, naquele momento. Eu senti isso de forma muito forte naquele final de tarde, depois de uma acelerada caminhada pelas lindas alamedas do Jardim Botânico. Ouvi na imaginação “Samba do Avião”, “Corcovado”, e claro, “Garota de Ipanema”.
 
Lá você vai poder conhecer com riqueza de detalhes, a trajetória da vida e da produção do artista por meio de fotos raras, projeções, manuscritos, capas dos seus principais discos e partituras originais, bem como objetos pessoais como sua mala de viagem (com uma histórica etiqueta da saudosa companhia aérea Varig com a sua letra JOBIM, TOM), sua coleção de chapéus, óculos e alguns do seus troféus.
 
O filho do maestro e músico Paulo Jobim, Curador permanente do espaço, destacou para mim, quando da recente apresentação do seu quarteto ao lado do contrabaixista americano Ron Carter, o principal propósito do espaço: “Queremos que a exposição permita que os jovens que não conheceram Tom Jobim possam entrar no mundo especial de um artista que lhes instigará a reflexão, não somente sobre sua obra musical, mas também sobre a preservação da natureza e a busca de uma vida com maior harmonia”.
 
Quando você estiver na cidade do Rio de Janeiro, recomendo uma visita ao espaço dedicado ao genial Tom Jobim, para mim, o nome mais importante de nossa música. E, de quebra,  aproveite para dedicar mais algumas horas para caminhar por todas as áreas do Jardim Botânico, local onde Jobim frequentemente caminhava e que conta com as bênçãos do Cristo Redentor. Que lindo !!!

 
Marcos Ariel
“Jazz Carioca”

 
Considero Marcos Ariel como um dos músicos mais versáteis da nossa música. Ele manda muito bem no piano, teclados, na flauta, nas composições e nos arranjos e lançou, em 2013, pelo selo carioca Biscoito Fino, um trabalho primoroso no formato piano solo.
 
E um fator emocional e familiar deu um toque diferenciado ao disco, que foi especialmente produzido e gravado pelo seu filho Lucas Ariel, que correspondeu plenamente com o importante ofício.
 
Ele transita pelo Jazz, Choro e Bossa Nova com muita propriedade e competência e é um dos grandes representantes da música instrumental brasileira, tão inspirada e importante. É o 26ª trabalho da sua vitoriosa carreira e o 7ª lançado neste formato intimista, que particularmente gosto muito.
 
O que mais chama a atenção é seu estilo elegante de tocar, com nítidas influências da música erudita, que dão aos seus arranjos e interpretações, uma sonoridade muito marcante e especial. E ouvir sua mão direita improvisando é sempre algo surpreendente e muito especial.
 
O repertório foi especialmente escolhido por ele e traz uma homenagem aos gigantes do Jazz, Thelonious Monk, Wayne Shorter, John Coltrane, Charlie Parker, Bill Evans, entre outros, além de inspiradas composições autorais.
 
Meus destaques ficam por conta de “Blue Monk”, “Ana Maria”, “Giant Steps” e “Round Midnight” (as minhas preferidas), “Invitation”, “Donna Lee” , “Journey To Recife” e as autorais “Valsa para Alice”, “Músico no Parque” e “Ponteio da Manhã”.
 
Trabalho importante que mescla o melhor do Jazz com o tempero e o sabor bem brasileiro, seguindo o estilo do pianista.


 
Ana Cristina
“Acaso”

 
Aqui está mais um belo exemplo de que a Bossa Nova não parou no tempo e no espaço. A cantora, pianista e compositora Ana Cristina, jovem, talentosa e muito bonita, nos presenteou com um trabalho diferenciado e bem carioca, lançado em 2011 pelo selo Biscoito Fino. Dando frescor e jovialidade à Bossa Nova, tão inspiradora e necessária.
 
Nascida e criada num dos bairros mais tradicionais, char-mosos e bonitos da cidade do Rio de Janeiro, a Gávea, ela começou a tocar piano bem cedo, por influência de sua mãe.
 
As letras das suas composições falam de amor, romances, encontros, desencontros, amizade e cenas do cotidiano, sempre com muito romantismo. A exceção, são dois temas de Tom Jobim & Aloysio de Oliveira e Dorival Caymmi.
 
E conseguiu fazer isso com muita propriedade, afinal, tudo foi pensado e decidido por ela, seguindo a sua sensibilidade. Que mostram que apesar de ser jovem, tem uma forte personalidade e um poder de decisão bastante aflorado.
 
Acompanham a cantora neste trabalho de estreia, Adriano Souza no piano e arranjos, Rômulo Gomes no contrabaixo, João Cortês na bateria, Humberto Mirabelli na guitarra e violão, Marcus Ribeiro no cello, Denny Kessous e Wallace Peres no violão, Carlinhos 7 Cordas, no violão de 7 cordas, Aldivas Ayres no trombone, Eduardo Neves na flauta e Mafram do Maracanã na percussão. E contou com a participação muito especial em 1 faixa de Roberto Menescal, na guitarra e violão, que pode ser considerado como seu padrinho musical.
 
Destaque para os temas “Flerte Carioca”, “Quand Nous Sommes Ensemble”, “Acaso”, “Queria”, “Querida” e também “Dindi” e “Dora”.
 
Para mim, ficou o gosto de quero mais. Fiquei surpreso com a leveza e suavidade da sua voz e também pelas suas letras, muito inteligentes, atuais e inspiradas, reproduzindo a linda cena de amor carioca.