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Gilson Peranzzetta – Um músico inspirado

16/06/2014
Gilson Peranzzetta – Um músico inspirado | Jornal da Orla
Várias músicas conhecidas da MPB são de autoria do pianista, compositor, arranjador, maestro carioca Gilson Peranzzetta e talvez você nem saiba. É um dos músicos mais respeitados e admirados do planeta, e infelizmente por estar aqui no Brasil, país que não divulga como merecem os seus verdadeiros talentos, talvez você também não saiba. O que a mídia propaga na atualidade, na grande maioria, é lixo e não música. E conhecer a obra musical, deste grande artista, é um bom começo para que possamos reverter este quadro negativo. Como o nosso país está passando por grandes questionamentos, vamos defender aqui a boa música, acessível e disponível a todas as pessoas.
 
De uma lista de mais de 150 pérolas, selecionei 4 de suas composições, que são verdadeiros hinos e muito especiais para mim.
 
A primeira delas, “Love Dance”, feita em parceria com Ivan Lins e Paul Williams, lançada em 1980, pelo produtor Quincy Jones, no álbum “Give Me The Night”, do guitarrista e cantor americano George Benson. E que depois foi regravada por uma dezena de artistas e abriu de forma definitiva, o mercado internacional para Ivan e Gilson. São mais de 200 regravações e a preferida do autor é a da cantora Nancy Wilson, do ano de 1994.

Já “Setembro”, do mesmo ano de 1980, feita também em parceria com Ivan Lins, ganhou uma versão marcante em 1990, no álbum “Back On The Block” de Quincy Jones, com a participação da cantora Sarah Vaughan, do guitarrista George Benson e do grupo vocal Take 6. Uma gravação, simplesmente, de arrepiar.

 
“Obsession”, do ano de 1987, feita em parceria com Dori Caymmi, ganhou, na minha opinião, a sua melhor versão, na voz da eterna cantora Sarah Vaughan, no seu álbum “Brazilian Romance”, produzido por Sérgio Mendes e que contou com os arranjos do próprio Dori.
 
E, para finalizar a minha lista, “Sorriso de Luz”, do ano de 1993, feita em parceria com Nelson Wellington, e que ganhou uma versão maravilhosa na voz do cantor Djavan. Para mim, uma das mais belas músicas de todos os tempos, com uma química perfeita entre letra e melodia. Está registrada num CD raro chamado “Fonte das Canções”, lançado no ano de 1997, pelo selo Movieplay, e que contou com a participação dos maiores vocalistas da nossa MPB.
 
Lançou na carreira mais de 40 discos, a maioria instrumentais, alguns pelo seu selo próprio, o Marari Discos e, recentemente, participou com destaque do último disco de Edu Lobo, gravado ao vivo na Holanda ao lado da Metropole Orkest, lançado pelo selo Biscoito Fino, premiado merecidamente, este ano, no Prêmio da Música Brasileira.
 
Seja como pianista, como compositor, como arranjador ou regente, seja no repertório popular ou erudito, e depois de inúmeros prêmios conquistados, Gilson Peranzzetta é um dos músicos mais completos que já conheci. E uma pessoa simples, simpática e disposta sempre a inovar e a se superar. 
 

Leila Pinheiro & Nelson Faria – “Céu e Mar”
 
Como é gostoso chegar num fim de tarde, depois de um dia intenso de trabalho, colocar no aparelho para ouvir este CD gravado no Rio de Janeiro em 2010, em clima bem intimista e descontraído, no formato duo de voz e guitarra.
 
Este é o clima que sugiro para que você escute o trabalho da dupla Leila Pinheiro e Nelson Faria. Formato simples, sem nenhuma novidade, mas extremamente eficaz e muito envolvente.
 
O repertório, muito bem escolhido, é bom destacar, completa a fórmula de um disco que vai poder embalar, por muitos anos, nossos corações.
 
A fórmula repete alguns discos, que são primeiro lançados no exterior (Europa, Estados Unidos e Japão), onde o mercado é sempre receptivo, para depois sair aqui no Brasil. E este CD não foi diferente e seguiu este caminho. Primeiro lá, depois cá. Ainda bem que sobrou algum espaço para nós brasileiros, tão carentes de boa música.


 
Destaco os temas “Doce Presença”, “Bala com Bala”, “O Amor É Chama”, “Sucedeu Assim”, “Dupla Traição”, a bela versão de “That Old Devil Called Love” e a faixa título “Céu e Mar”.
 
Um trabalho que não deixa nada a dever aos principais registros feitos na história, neste formato de voz e guitarra. Como aqueles mágicos registros feitos, nas décadas de 70 e 80, por Ella Fitzgerald e Joe Pass, e que serviram de inspiração para a realização deste projeto que,  para mim, já é um clássico por natureza.


Joyce Moreno – “Tudo”

Outro exemplo de CD lançado primeiro no exterior e depois aqui no Brasil, pelo mesmo selo Biscoito Fino, apresenta a cantora, compositora e instrumentista Joyce Moreno, num trabalho totalmente autoral e com canções inéditas. Uma talentosa artista, que está na estrada há mais de 45 anos e com mais de 30 álbuns lançados.
 
O nome do disco traduz bem a experiência do trabalho, pois mescla suas influências com o Jazz, a Bossa Nova, o Samba e o Choro. Ou seja, tudo e mais um pouco.

 
Para que este trabalho fosse lançado, a cantora fez uma pesquisa do repertório junto ao seu público nos shows em que se apresentou e através da internet, com uma votação democrática para a escolha do repertório. Ela constatou que as pessoas estão muito mais interessadas em ouvir novas composições, do que ouvir regravações de clássicos já conhecidos. Muito interessante esta constatação.
 
E, desta forma curiosa e inteligente, foram escolhidas as 13 faixas do disco, sendo 8 assinadas somente por ela, e as demais compostas em parceria ao lado de Paulo César Pinheiro, Zé Renato, Nelson Motta e Teresa Cristina.
 
Destaque para “Estado de Graça”, “Puro Ouro”, “Quero Ouvir João”, “Aquelas Canções em Mim”, “Pra Você Gostar de Mim” e “Claude Et Maurice”.
 
Ela deixa claro que, em primeiro lugar, é compositora, para depois ser cantora. Seja de uma forma ou de outra, seu estilo e levada são inconfundíveis.
 
Em breve, lançará o CD “Rio”, com regravações de canções sobre a Cidade Maravilhosa, já disponível no exterior e ainda inédito por aqui. Vamos ter que esperar mais um pouco.