Clara Monforte

chr34Eu prefiro o ódio, a repulsa, a revolta, à indiferençachr34 Jadir Battaglia

30/05/2014
chr34Eu prefiro o ódio, a repulsa, a revolta, à indiferençachr34 Jadir Battaglia | Jornal da Orla
A originalidade das obras do artista-plástico JADIR BATTAGLIA faz com que ele seja cada vez mais requisitado. Conhecidíssimo na região, hoje com 20 anos de carreira, alça vôos cada vez mais altos. “Santista da gema”, como ele se considera, diz que a cidade sempre o prestigiou, antes mesmo de São Paulo, Campinas e até do Rio de Janeiro, onde é representado pela Galeria Almacén, um espaço inovador na divulgação e promoção da arte atual. Recentemente, participou do Salão de Arte Contemporânea em São Paulo, com artistas como Paulo Von Poser, Peticov, Claudio Tozzi e outros. Só na “Casa Cor São Paulo”, que pode ser conferida até 20 de julho, no Jockey Clube de São Paulo, está com oito esculturas em três espaços. Com a arquiteta Carla Felippi, no “Living da Imprensa”, com a arquiteta paulistana Patricia Hagobian, expondo uma escultura de parede no “Apartamento da Jovem Artista”, em homenagem à atriz Tatá Werneck, e uma escultura de chão para o estúdio de Rádio Bandeirantes, que reproduz uma estação de rádio e transmite ao vivo a programação do evento.
 
De que maneira a arte “decidiu” entrar na sua vida?
Desde muito cedo, quando eu tinha uns cinco anos, com meu primeiro “Desenhocop”. Mas só vim a acreditar nisso mais tarde, 20 anos atrás.
 
Você começou a carreira como pintor. Ainda pinta, ou o escultor tomou todo o tempo do artista?
Exatamente. Na verdade, eu sempre me considerei um artista multimídia. Faço de tudo: desenho, arte digital, pintura… mas a escultura é a minha paixão.
 
Foi por isso que as pinturas deram lugar às esculturas?
A pintura me tomava muito tempo. Era um trabalho solitário, onde a relação era específica e exclusiva com a tela.  Na escultura, posso delegar algumas etapas do processo e me tornar mais livre, ou para criar, ou para me envolver com  editais, salões e exposições.
 
O que o inspira para criar suas esculturas?
As minhas peças são abstratas, em sua maioria. Quando as desenho, eu me remeto às formas da natureza e utilizo as regras do equilíbrio e composição. Quando o desenho ganha vida, a relação entre o fazer e a escultura, o criador e a criatura, dá uma forma mais relacionada ao inconsciente ou às coisas que já vi. Talvez seja por isso que as pessoas interagem com meu trabalho de uma forma tão positiva.
 
Por que suas obras, geralmente, são tão grandiosas?
Se eu pretendo estabelecer uma relação com o espiritual, o tamanho é um fator importante, trazendo para o diálogo com espectador, a questão do sublime e da escala natural, quando o homem é a referência.
 
O que há de autobiográfico na sua obra?
(Risos) Não consigo separar o meu trabalho da minha vida, se o meu objetivo é manter um diálogo com o “outro”. Uso o meu trabalho como expressão das minhas crenças.
 
E que crenças são estas?
Crenças relacionadas ao que eu acredito, que possa ocasionar uma mudança, um desequilíbrio do eixo, um estranhamento que possa resultar no questionamento. Mesmo sem respostas, é preciso haver um questionamento. É engraçado, as pessoas me perguntam o que meu trabalho significa, quando elas mesmo já tem as respostas. As próprias respostas que não seriam necessariamente aquilo que eu gostaria de incitar. O mais importante é a empatia que as pessoas conseguem se relacionar com o meu trabalho. Não ficam indiferentes.
 
Tem esse lance de amar ou odiar sua arte?
A pior coisa que pode acontecer para um artista é a indiferença. Eu prefiro o ódio, a repulsa, a revolta, à indiferença. Até o desprezo pode ser mais gratificante do que a ausência total de uma reação. Estes sentimentos fazem parte de nosso dia a dia, nas relações que desenvolvemos com o próximo. E é assim que gosto de ver o meu trabalho, como tendo um relacionamento com o espectador.
 
Então, na sua opinião, a arte é para confundir, não para explicar?
Exatamente. Só a partir da confusão é que ocorre o esclarecimento.
 
Na “Casa Cor”, você participou, com sua arte, de um ambiente em homenagem à atriz Tatá Werneck. Qual a opinião dela sobre a sua obra?
Ela não foi à inauguração por questões de agenda, mas haverá um coquetel em homenagem a ela, quando estará presente. Ela já viu as fotos e os vídeos do espaço, disse que gostou de tudo.
 
Como é, para você, usar a sua arte para incentivar outros talentos, na Secretaria de Cultura de Santos?
É um trabalho muito gratificante que desenvolvi com as crianças da Rede Municipal de Educação e agora, na Cultura, onde contribuo como Coordenador da Seção de Galerias e Museus para a montagem e realização de exposições e divulgação das iniciativas da Secretaria. Lá no Atelier também troco muita figurinha com artistas da região, no sentido de formar um grupo profissional mais dinâmico. A expo “Quinhentos Reais”, que aconteceu por duas edições, foi um exemplo disso.