Clara Monforte

Olhos nos olhos com RB Silva

16/02/2014
Olhos nos olhos com RB Silva | Jornal da Orla
Conhecido como RB SILVA, o desenhista Rubens Bernardino da Silva é o nome santista da DC Comics, que figura entre as maiores empresas de histórias de quadrinhos do mundo, inspirando vários filmes sobre super-heróis que foram sucesso de bilheteria. Ele será o responsável por uma oficina que começa neste domingo na Gibiteca Marcel Rodrigues Paes. O objetivo é passar noções básicas de anatomia de super-heróis, proporção e enquadramento, para aqueles que, assim como ele, querem seguir a mesma trajetória de sucesso deste morador da cidade que já fez trabalhos até para a editora Marvel, outro grande nome do mundo dos quadrinhos e, é conhecido internacionalmente. 
 
Como o desenho entrou em sua vida?
Como toda criança que gosta de desenhar, assistindo a desenhos animados e me imaginando na pele de meu super-herói favorito. O engraçado é que, aos 11 anos, a primeira pessoa a saber o que eu gostaria de ser quando crescesse foi uma amiguinha de escola, hoje minha esposa. Lembro disso até hoje, como se fosse um filme bom, que não me canso de assistir.
 
Ser desenhista da DC Comics era seu sonho de infância?
Sim, um sonho inalcançável. E de tanto escutar quando criança e parte da adolescência que isso era algo quase impossível, cheguei perto de desistir. Em 2006, aconselhado e incentivado pela minha namorada, hoje minha esposa, fui atrás de informações e descobri, sim, que era possível. 
 
Como o sonho tornou-se realidade?
Existem inúmeros estúdios pelo mundo especializados em agenciar jovens artistas para todo o mercado de quadrinhos. Estudei em uma escola de arte da região pelo período contratual de dois anos, mas não foi preciso esperar a conclusão do curso para que a oportunidade batesse em minha porta. Um agente de talentos de Fortaleza me contatou e foi assim que assinei meu primeiro contrato com a agência Sequential Studios, que se fundiu com a grande empresa norte-americana, na qual eu continuo trabalhando até hoje. 
 
Daí, entrar para a Marvel, foi consequência?
Em 2008, iniciei no mercado norte-americano de quadrinhos no pequeno Studio 407, em um projeto de ficção científica. Em 2009, tive uma breve passagem pela Marvel e, ainda este ano, realizei meu primeiro projeto dentro da editora comemorativa do Superman, um sonho de infância. Não poderia ter entrado da melhor forma. Em 2010, virei desenhista exclusivo da editora, com inúmeros projetos publicados.
 
Muitos pensam que para trabalhar em uma grande empresa, é preciso morar em grandes metrópoles. Mas você vive em Santos…
Isso é bem comum. As pessoas me perguntam isso até hoje. Eu nasci e fui criado em Santos. E como uma crescente, trabalho em um estúdio de desenho montado em minha casa, conectado 24 horas pela internet com o pessoal nos Estados Unidos, desde o meu agente Shon Bury até os editores da DC Comics e outros estúdios de quadrinhos.
 
Você tem liberdade para criar o quanto quiser?
Cada desenhista em quadrinhos possui um traço próprio, isso se torna a sua identidade, e tudo é feito da maneira que você imagina. É necessário seguir o roteiro, com isso o nível de liberdade vai depender de roteirista para roteirista. 
 
Há algum trabalho que recebe e fica contrariado, por não simpatizar com algum personagem, ou os traços serem mais trabalhosos?
Não. Projetos desse tipo ao meu ver fazem com que você cresça, evolua como profissional. Sempre que você pensa que sabe o bastante, um projeto do tipo surge em sua prancheta, e você se dá conta de que não sabe de nada. É preciso se atualizar constantemente, aprender sempre, ou você vai ficar para trás.
 
Como é o seu método de trabalho e a sua rotina?
Eu recebo o roteiro. Depois de ler, começo o processo de miniaturas dessas páginas. Envio para os editores e aguardo o feedback. Recebendo os comentários, produzo as páginas em escala próxima de uma folha tamanho A3.  Geralmente, o prazo é de 25 a 30 dias a partir do momento em que você recebe o roteiro.   Se eu  for rápido na primeira fase, tenho um dia para cada página da revista. Isso é considerado um prazo ótimo para o artista. Mas nem sempre isso acontece. Roteiros atrasam e seu prazo também. Já aconteceu de eu ter que desenhar quatro páginas em um único dia. E só um profissional da área sabe como isso é doloroso. A qualidade nesses casos nunca é 100%, e isso, algumas vezes, desaponta os fãs de quadrinhos. 
 
As histórias em quadrinhos devem ser consideradas obras de arte?
Com certeza! Infelizmente, não são muitos os que valorizam. Para minha felicidade, o Brasil está mudando a forma como muitos pensam a respeito das histórias em quadrinhos devido a projetos recentes publicados, com roteiro e desenhos voltados para um público adulto.
 
Qual é o herói em quadrinhos que você gostaria de desenhar?
Superman é um símbolo, mas poucos sabem que meu personagem favorito é o Lanterna Verde, que define muito bem o que é um desenhista em quadrinhos, sendo capaz de projetar tudo o que imagina com o seu anel. O limite de poder do personagem vai até o limite da sua imaginação. Espero um dia me tornar desenhista oficial deste personagem.
 
Você pensa em criar suas próprias histórias?
Sim, tenho algumas ideias e esboços sobre um personagem. Espero um dia, depois de lapidar esse projeto pessoal, vê-lo publicado pelas grandes editoras e, quem sabe, um dia assistir a um filme sobre ele. Afinal, grande parte de novos leitores de hoje se dá pela ótima produção nas telonas, de personagens dos quadrinhos como Batman, V de Vingança, Vingadores etc.
 
O que você aconselha para quem quer seguir a sua trajetória de sucesso?
Informação é tudo. Eu diria para procurar por um bom curso de desenho, não são muitos que vão dar o suporte e conhecimento necessário para chegar lá. O curso dará uma pequena base, o resto é com a pessoa interessada, que deve pesquisar, perguntar e questionar. Desenhe sempre, mesmo que o tema não agrade. Para ser um desenhista de história em quadrinhos, é preciso ser completo. Vai ser difícil? Vai! Mas, se realmente quiser, vai conseguir! 
 
O que passa pela cabeça de um quadrinista, quando ele está desenhando?
Não sei se falo por todos, mas procuro me colocar como o leitor e desenhar aquilo que espero poder ver e ler em uma história em quadrinhos: sentir-se dentro, parte da história.
 
Seus desenhos chegam a toda parte do mundo?
Eu desenho para o mercado norte-americano e todos os projetos que desenho são publicados primeiramente lá, para depois serem distribuídos pelo mundo. A última vez que me informei sobre a distribuição no Brasil, ela estava atrasada em um ano, se fossem comparadas com as publicações americanas. Ou seja, um projeto que é publicado agora lá, só chegará daqui a um ano no Brasil. Normalmente, os leitores se informam pela internet e acompanham o trabalho do artista pelas publicações digitais, que são disponibilizadas em tempo real.