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Paraísos da Bossa Nova – Toca do Vinícius

10/02/2014
Paraísos da Bossa Nova – Toca do Vinícius | Jornal da Orla
É “chover no molhado” dizer que o Rio de Janeiro é o grande cenário da Bossa Nova. Também não é para menos. Em vários cantos da cidade encontramos belezas naturais  muito inspiradoras, e que estão profundamente identificadas com a trilha sonora da Bossa. Copacabana e seu calçadão, Ipanema e sua garota, Leblon, Corcovado, Pão de Açúcar, Jardim Botânico. São tantos lugares, verdadeiros paraísos aqui na terra.
 
Um destes locais especiais que indico está localizado no bairro de Ipanema, mais precisamente no número 129 C da Rua Vinicius de Moraes. Seu nome sugestivo é “Toca do Vinícius”, uma homenagem ao nosso saudoso “poetinha” e onde encontramos uma editora de livros, uma charmosa e aconchegante livraria de música (com títulos raros da história da música, biografias, songbooks, partituras), além de uma infinidade de LPs, CDs e DVDs de Bossa Nova. É claro. E apesar do tamanho reduzido, é impressionante a quantidade de itens disponíveis.
 
Inaugurada em 1993 por Carlos Alberto Afonso, um apaixonado e grande conhecedor de Bossa Nova, que teve a ideia iluminada de criar um espaço para reunir o seu acervo e que se transformou naturalmente num ponto de encontro dos amantes da Bossa Nova do mundo todo. Virou um oásis para os nativos e para os turistas que gostam de música.
 
No segundo piso, você pode visitar o Centro de Referência Bossa Nova Ipanema Rio, que reproduz com riqueza de detalhes o ambiente romântico dos anos 50 e 60, com mobiliário da época e mais de quinhentas peças raras, que valem a visita, que recomendo que seja feita sem a preocupação com o tempo e com muita atenção. Você poderá fotografar, por exemplo, um raríssimo exemplar em 78 rpm de “Chega de Saudade” de João Gilberto. Um troféu daqueles que levamos por toda a vida.
 
Outra curiosidade é o acervo de mais de cem placas de cimento com as mãos de diversos artistas. Vinicius, João Donato, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Os Cariocas, Chico Buarque entre tantos outros. Carlos Alberto manteve a tradição carioca iniciada no extinto Restaurante Pizzaiolo nos anos 60 e que a Toca deu continuidade a partir do ano de 2003. E as cerimônias chamadas de “mão no cimento”, realizadas sempre aos domingos, seguidas de um show ao vivo na rua, atraem um grande número de pessoas.
 
Na sua próxima ida ao Rio de Janeiro recomendo uma visita a este paraíso e que fará você se transportar para o tempo romântico de um Rio que não volta mais e ali você vai poder vivenciar a sonoridade da Bossa Nova de uma forma verdadeira e autêntica. Na semana que vem vou falar da filial da Toca, “Bossa Nova & Companhia”, inaugurada em 2006 em Copacabana, em pleno Beco das Garrafas. Outro paraíso.
 
 
Chet Baker – “The Last Great Concert – My Favourite Things Vol. I & II”
 
O trompetista e cantor Chet Baker foi um mito do Jazz e sua trajetória de vida conturbada foi marcada por muitos altos e baixos. Foi um dos criadores do “west coast”, uma variante do “cool” de Miles Davis e Gerry Mulligan, vertentes do Jazz  e a sua forma de cantar influenciou diretamente a Bossa Nova.
 
Destaco suas últimas gravações feitas ao vivo na Alemanha em 1988 ao lado da NDR Big Band e da Radio Orchestra Hannover, registradas duas semanas antes do seu falecimento, ocorrido em circunstâncias que permanecem duvidosas até os dias de hoje.
 
Neste primoroso trabalho lançado no ano de 1990 pelo selo Enja, destaque para as participações de Walter Norris no piano, Herb Geller no saxofone, John Schoeder na guitarra, Lucas Lindholm no contrabaixo e Aage Taggaard na bateria.
 
Apesar de estar debilitado de saúde e decadente, neste concerto Chet Baker deu o máximo da sua capacidade e o resultado musical é comovente. E até parece que ali ele estava se despedindo do seu público com uma grande “performance”. Coisas que sentimos ao ouvir com atenção as faixas do disco e que não podemos explicar.
 
O disco duplo tem quatorze temas, divididos em dois “sets” de sete músicas cada um e no primeiro disco merecem destaque os temas de abertura “All Blues” (que homenageia Miles Davis) , “My Funny Valentine”, “Summertime” e “I Fall In Love Too Easily, relembrando a sonoridade mágica dos anos cinquenta, que foi o auge da sua carreira.
 
Já no segundo disco, destaco o clássico “Look For The Silver Lining”, e mais “Conception”. “There`s A Small Hotel” e a balada de emocionar “Tenderly”.
 
Despedida em grande estilo deste improvisador lírico, autodidata, dono de um toque macio e de vocais sussurrantes. É um dos meus artistas favoritos.
 
Stan Getz & Kenny Barron – “People Time”
 
Este álbum duplo do saxofonista Stan Getz, com quatorze temas lançado originalmente em 1992 pelo selo Verve Gitanes Jazz, foi eleito pela revista Jazz Times como um dos cinquenta melhores álbuns de sax tenor de todos os tempos. E curiosamente também foi gravado pouco antes da sua morte e é considerado por muitos como seu testamento musical.
 
E assim como aconteceu com a maioria dos gênios do Jazz, ele teve uma vida desregrada, instável e cheia de turbulências. E pode ser considerado como um dos maiores embaixadores da Bossa Nova nos Estados Unidos. Fez gravações antológicas ao lado de João Gilberto, Astrud Gilberto e Tom Jobim. Sempre foi um grande fã e incentivador da nossa música.
 
Em 2010 as quatorze faixas do CD original ganharam outras trinta e sete inéditas. Todas foram gravadas ao vivo no formato duo de sax e piano no Café Montmartre em Copenhague, um dos mais tradicionais templos do Jazz da Europa, fundado em 1959.
 
Surpreende ouvir a vitalidade do sopro de Stan Getz encontrando seu velho parceiro Kenny Barron ao piano. Cumplicidade pura. 
 
No primeiro disco, destaque para “East Of The Sun” (uma das minhas preferidas), o clássico “Night and Day”, “Like Someone In Love” e “I Remember Clifford”.
 
Já o segundo disco tem como destaques “First Song (For Ruth)”, “There Is No Greater Love”, a faixa título “Pepople Time”, “Softly, As In A Morning Sunrise” e “Soul Eyes”.
 
Stan Getz, saxofonista de sopro melódico, supremo e absoluto. Outro da minha lista de favoritos.