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Almir Chediak – Uma alma musical

03/02/2014
Almir Chediak – Uma alma musical | Jornal da Orla
Uma das maiores contribuições musicais feitas para a nossa MPB foi idealizada e realizada pelo saudoso violonista, compositor e produtor cultural Almir Chediak, conhecido como o maior “mapeador” da MPB.  Um homem que estava à frente de seu tempo e, mesmo com uma passagem rápida por esta vida, deixou um legado que não tem preço e poderá ser desfrutado por várias gerações.
 
Ele na verdade queria ser um concertista de música clássica e seu grande ídolo era o violonista Turíbio Santos. Sempre foi um apaixonado pela música.
 
Muitos não sabem, mas ele deu aulas de harmonia musical para vários artistas, como Gal Costa, Nara Leão, Carlos Lyra, Tim Maia, entre outros, sendo muito requisitado e respeitado no meio musical.
 
De uma forma totalmente autodidata começou a pesquisar profundamente a música popular brasileira, criando uma forma sistemática de apresentação dos acordes, dissonâncias e harmonias. Ajudou muito os músicos profissionais e os amadores, cifrando as músicas dos nossos maiores compositores. Trabalho único de pesquisa e de reconstituição musical.
 
Lançou diversos livros importantes como o “Dicionário de Acordes Cifrados” e os dois volumes de “Harmonia e Improvisação” antes de se tornar o “Mestre dos Songbooks”, quando já pela sua Lumiar Discos & Editora, fundada em 1987, revolucionou o mercado.
 
As obras musicais dos maiores nomes da MPB foram apresentadas em livros. Caetano Veloso, Tom Jobim, Gilberto Gil, Chico Buarque, Djavan, Noel Rosa, Cazuza, Bossa Nova foram alguns lançados no mercado. Todos revisitados com muita competência, organização e paciência.
 
Particularmente para mim, considero como o seu grande feito, o lançamento dos “songbooks” no formato de CD, que considero verdadeiras obras primas, pelo seu absurdo conteúdo e por reunir uma centena de músicos e intérpretes de uma forma única e rara. Noel Rosa, Ary Barroso, Carlos Lyra, Tom Jobim, Chico Buarque, Djavan, Dorival Caymmi, Edu Lobo, Marcos Valle, João Donato, Vinicius de Moraes, João Bosco entre outros. Gravações intensas e exclusivas que foram apresentadas com novos arranjos e interpretadas pelos nossos maiores artistas. Encontros inusitados e muito marcantes deram o toque especial aos discos. Registros que só poderiam ter sido feitos por esta grande alma musical. Muito obrigado, Almir Chediak por deixar a música mais simples e didática.
 
 
George Benson – “Tenderly”
 
 
Destaco esta semana algumas das provas inequívocas de que o guitarrista e cantor americano George Benson é um genuíno músico de Jazz.
 
Apesar de ter alcançado muito sucesso na carreira com “hits” comerciais, que explodiram nas paradas, ele nasceu num berço jazzístico e teve alguns lançamentos pontuais, que marcaram ainda mais seu talento peculiar.
 
O CD “Tenderly” do ano de 1989, lançado pelo selo Warner Bros., é a primeira prova da minha afirmação.
 
Ao lado de Mccoy Tyner no piano, Ron Carter no contrabaixo, Herlin Riley, Louis Hays e Al Foster na bateria e Lenny Castro na percussão, ele realizou um grande disco. Um time de músicos que tem uma vasta folha corrida de serviços prestados ao Jazz e que dispensa maiores comentários. E também merece destaque uma afinada orquestra de cordas dirigida por Marty Paich.
 
A produção do trabalho foi assinada pelo genial Tommy Lipuma, seu amigo de longa data, competente produtor e alto executivo de grandes gravadoras, e que onde toca suas mãos transforma tudo em puro ouro.
 
O repertório escolhido também é primoroso e muito refinado, reunindo alguns clássicos e temas surpreendentes.
 
Destaco as baladas cantadas “You Don’t Know What Love Is”, “Stardust” (que me fez lembrar o inesquecível Nat King Cole) e “Here, There And Everywhere” (uma  homenagem, de arrepiar, aos Beatles) e as instrumentais “Stella By Starlight” e “I Could Write A Book”. A levada latina em “At The Mmbo Inn” é contagiante e o tema “Tenderly” solado exclusivamente por Benson é de arrasar.
 
Um disco clássico e indispensável para você que gosta de ouvir o melhor do Jazz com este excepcional guitarrista e cantor. Imbatível e muito inspirado.
 
 
George Benson – “Big Boss Band Featuring The Count Basie Orchestra”
 

 
A segunda prova é o arrojado trabalho lançado no ano seguinte (1990), também pelo selo Warner Bros. e que contou com a participação muito especial da The Count Basie Orchestra, liderada pelo saxofonista tenor Frank Foster.
 
“Big Boss Band” é uma continuidade natural de “Tenderly”, desta vez contando com uma superorquestra composta por dezoito músicos de primeira linha e mais a The Robert Farnon Orchestra, que deu o colorido das cordas ao disco.
 
Benson se associou muito bem à “usina sonora” da Orquestra de Basie, que, mesmo sem a participação do seu grande líder e fundador, não deixa dúvidas na sua sonoridade. Encorpada, arrojada e por vezes mais agressiva.
 
Podemos conferir o tema “Basie`s Bag”, que George Benson  compôs especialmente para marcar a rara oportunidade de duelar musicalmente com uma Big Band. Também merecem destaque as baladas “How Do You Keep The Music Playng” que foi interpretada ao lado da cantora Carmen Bradford, “Skylark” e “Portrait Of Jennie”, belo arranjo que contou com uma orquestra de cordas. E mais “Whithout A Song”, “Walkin’ My Baby Back Home” e “Ready Now That You Are”, no mais puro som a “La Basie”.
 
Só faço uma recomendação: som na caixa e uma boa viagem musical. Jazz da melhor qualidade.