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Alta fidelidade

15/05/2024
Alta fidelidade | Jornal da Orla

Um clássico pop 

Foi por uma série de motivos que Alta Fidelidade ganhou a simpatia de tantos leitores pelo mundo afora, havendo quem o classifique como um clássico pop instantâneo. Despretensioso – porém muito bem escrito –, repleto de referências musicais de qualidade e permeado pelo constante humor autodepreciativo do protagonista, o livro expõe o desencaixe da geração pós-Beatles no porvir de um mundo em (re)construção.

Rob é dono de uma decaída e quase falida loja de discos ao norte de Londres O fiasco profissional se estende à vida amorosa: passando em revista seus últimos relacionamentos, a eterna imaturidade do protagonista é revelada a cada página por uma sucessão de tragicômicos episódios que se desenrolam enquanto tenta acertar as contas com o passado para, quem sabe, aportar num futuro mais distinto.

Lançado na década de 1990, o livro cruzou em cheio o caldo cultural pop das décadas de 80/90, personificando em Rob as agruras e desenganos de toda uma geração.

Motivos para ler:

1- Nick Hornby, inglês formado em Cambridge, estreou na literatura ficcional com Alta Fidelidade e com ele se tornou imediatamente um autor best-seller. O livro ganhou uma boa adaptação cinematográfica com John Cusack e Jack Black e uma série bem recebida (porém infelizmente descontinuada) estrelada pela talentosa Zoë Kravitz;

2- O livro traz episódios impagáveis e também outros tantos propositalmente ridículos – eis o perfil tragicômico do livro. É um romance de formação – o perfil do personagem é todo mapeado pelo escritor da adolescência à vida adulta -, mas é também uma caricatura bem construída do homem que nunca cresce;

3- O leitor encontrará, em qualquer discussão sobre este livro, muitas opiniões do seguinte feitio: “odiei, Rob é um idiota”. Entretanto, não nos parece que a qualidade de um livro deve ser medida pelo grau de simpatia para com o protagonista. Rob é confessadamente um imaturo e nada merecedor da atenção de uma mulher. O livro não lhe dá “razão”; muito ao contrário: ao expor suas graves deficiências e todo o ridículo, simbolicamente reflete a eterna imaturidade masculina em contraponto ao nível muito mais honesto e responsável da vida feminina.

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